Saudades e Ordens

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Quando cheguei aqui fiquei me perguntando como conseguiria me aproximar de Juliette, tinha conseguido resolver o problema quanto ao Rodolfo, mas e depois? O fato de Carla estar me ajudando não era uma garantia que eu conseguiria ficar a sós com ela em algum momento,mas o destino deu uma forcinha para fazer isso acontecer, e agora estou aqui,encostada na pia enquanto mantenho meus braços cruzados na tentativa falha de esconder minhas mãos trêmulas a espera da menina dentro da única cabine de porta fechada.

- I lose...control...when you're not next to me (when you're not here with me - Cantarola a música que está tocando lá fora e sorrio de lado com seu inglês não tão afiado - Mas...que droga de vestido que não fecha.

(Trad: Eu perco o controle
Quando você não está ao meu lado)

Ouço o trinco da porta e uma menina aparecer tentando terminar de puxar o zíper nas costas,seus olhos me encontram e ela para o que está fazendo enquanto eles faltam saltarem para fora sobre minha presença.

- O...o que faz aqui? - Diz endireitando sua postura.

- Precisamos conversar!

- Não tenho nada para conversar com você!

Juliette anda rapidamente até a pia ficando a poucos passos de mim, ela tenta ignorar minha presença enquanto lava suas mãos e sorrio de lado indo até ela, vejo que seu zíper não foi completamente fechado e me aproximo mais do seu corpo para terminar de fechar, e sua postura erijece enquanto agora ela me olha pelo espelho sentindo meus dedos levemente roçarem sua pele.

- Eu vim em paz...só quero conversar.

- Não temos nada para conversar - se afasta - Você não quis conversar comigo há quase dois meses atrás,preferiu me afastar da pior forma possível ao invés de conversar,de me entender. você só quis me punir o tempo todo.

- As coisas não são tão fáceis assim.

- Não precisa começar com suas desculpas - me corta - por muito tempo eu aceitei por saber que era difícil pra você, mas olha onde tudo isso me levou? Precisei entrar na terapia para entender tudo o que está acontecendo na minha vida,não me sinto mais apaixonada por esse lugar, não consigo mais conviver com meus amigos como antes e tudo o que eu tenho agora é pânico de não conseguir mais realizar meu sonho de me formar porque você mexe nisso toda vez que se sente atacada. - desabafa,vejo seu rosto avermelhar pelo fato dela quase não respirar para pronunciar essas palavras. - Eu não sou uma marionete que você pode movimentar toda vez que estiver entediada, Professora.

- Suspiro - Uma vez alguém me disse que fora da faculdade eu sou igual a qualquer outra pessoa, e naquele momento eu só conseguia sentir raiva daquelas palavras...como aquela menina tão petulante e intrometida poderia dizer aquilo para mim? Com certeza ela não me conhecia. Depois fiquei pensando sobre aquilo, e de fato ela tinha razão, é que por muito tempo eu me vesti apenas da Sarah professora, da Sarah empresária, da Sarah respeitada e temida por todos ao ponto de levar para fora daqueles portões e acabar sucumbido aquela personagem por achar que não,eu não era iguais a todos...mas eu também não era melhor que ninguém,e sim apenas muito machucada. - ela desvia o olhar - a questão é que quem está aqui na sua frente não é sua professora,não é a dona daquela faculdade, é apenas a Sarah,uma Sarah que erra e acerta, e que na verdade vem mais errando enquanto busca fazer o certo...por mais que não pareça.

- E o que quer me falando tudo isso? O que vai mudar,Sarah? - Sua face fria está irredutível, mas consigo ver a mágoa em seus olhos tão firmes.

- Só me responde uma pergunta,e dependendo da resposta eu prometo que passo por aquela porta e você nunca mais me verá, nem mesmo na faculdade.

É vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora