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Cheryl Blossom

-Papai, eu...- Levanto rapidamente do sofá ainda com os olhos fixados no homem em minha frente. Palavras se formam em minha cabeça mais não consigo pronuncia-las, eu estava tão surpresa que não saia som algum da minha boca. Olho para Toni que agora está ao meu lado também em pé e corro meu olhar de novo para o meu pai que ainda me olha. Passo uma mão sobre minha testa.- Eu...

-Senhor Blossom,- Me viro para Toni que estava começando a falar alguma coisa mais ela é imediatamente cortada por meu pai.

-Não dirija a palavra para mim garota.- Ele fecha a porta e se aproxima um pouco apontando o dedo para Toni.- Não se atreva a sequer falar comigo, estou falando com a minha filha  e espero que você tenha pelo menos o bom senso de sair dessa sala.

Eu nunca o vi assim, tão furioso, tão bravo. Esse era o homem que eu temia e agora não tenho como fugir disso.
Olho para Toni que estar com a mandíbula trincada e com um olhar firme, fixado em meu pai. Os dois não quebram o contato visual por nada.

-Toni... vá embora.- Falo quase que em um sussurro chamando sua atenção.

-Não vou te deixar sozinha aqui.- Ela rir sem nenhuma alegria.

-Por favor... agora não é uma boa hora.- Seu olhar parece entender a situação, então ela balança a cabeça em concordância.

-Tá, certo eu vou.- Ela olha novamente para o meu pai.- Mas, qualquer coisa me liga.- Ela fala baixo só para eu escutar.- Eu confirmo e ela vai em direção a porta passando do lado do meu pai. Assim que ela fecha a porta ele começa.

-Imagina minha surpresa quando recebo uma mensagem de Lúcio dizendo que lamentava muito pelo término de vocês e que estava triste por ter acabado. Sendo que dias antes você tinha me falado que estava tudo bem por aqui.- Ele cruza os braços e se aproxima um pouco.

Bem, contextualizando um pouco. Meu pai foi em Riverdale a um mês atrás para ver como estava indo sua empresa, e claramente não o contei sobre o término.

-E fico ainda mais surpreso quando depois de vim correndo pra cá, pergunto a sua mãe onde você estava e ela me diz simplesmente que você foi dormir na casa do Evans.- Ele mantém a expressão séria e depois fala com a voz rouca e grossa.- Agora eu sei exatamente onde você estava. Com essa pessoa, por aí. Sabe sei lá Deus fazendo oque.- Ele parece indignado com isso.- Eu já lhe disse que isso não é certo, te ensinei desde pequena oque era certo e oque era errado,- Ele fala fazendo um gesto com a mão enquanto eu o olho com os olhos cheios de lágrimas que se recusam a descer.- te criei do jeito perfeito te dando tudo do bom e do melhor, melhores escolas, melhores faculdades, sempre com dinheiro na conta. Eu e sua mãe nós nunca, nunca negamos nada a você e você vem e faz isso. Uma coisa tão... tão absurda. Uma coisa tão nojenta.- Ele, que olhava para as mãos, volta a me olhar nos olhos.- Me diga, oque? Oque eu fiz de errado? Por Deus!

-Vocês não fizeram nada de errado tá bom? Nada. Eu que sou assim!- Levo minhas mãos até meu peito apontando para mim mesma.- Eu nasci assim, eu tentei. Tentei realmente mudar, por vocês, pra agradar vocês mas- sorrio triste.- eu não consigo mais. Eu não consigo fingir pra todo mundo em minha volta, - Minha voz sai embargada mas mesmo assim não paro de falar.- não consigo ficar com alguém por que vocês dizem que é o certo pra mim. Eu não consigo mais.

-Eu não acredito no que está saindo de sua boca é lamentável.- Ele anda de um lado para o outro com um mão na cintura e a outra na testa.

-Pai por favor me entenda! Eu não sou feliz vivendo desse jeito. Eu sou feliz assim, amando uma pessoa que também me ama independente de gênero ou qualquer outro motivo. Eu sempre fiz tudo, TUDO pra agradar vocês, será que vocês não podem simplesmente abrir mão e fazer alguma coisa para me agradar também?- Falo séria agora o olhando fixamente e ele parece não acreditar no que eu falei agora.- Ele para de andar e me olha.

-Você tá se escutando? Está mesmo me pedido para aceitar isso? Isso vai além dos meus princípios.

É duro falar oque eu vou falar agora mas, se eu não falar eu corro o risco de perder a Toni e viver em uma vida infeliz, pra mim isso é motivo suficiente

-"Isso" que você diz, é quem eu sou. E desculpe pai mas se você não consegue aceitar eu acho melhor ficarmos como era antes. Vocês em Riverdale, e eu aqui.

Ele franze o cenho por um segundo antes de falar, sua face fria, seus músculos contraídos e -oque mais me machuca- sem nenhuma lágrima nos olhos.

-É incrível como essa garota mexeu com sua cabeça. Fez você acreditar em uma fantasia e te colocou contra mim e sua mãe.

-Ela não fez nada disso pai, por Deus! Ela abriu meus olhos, me aconselhou e ficou do meu lado.

Ficamos alguns segundos nos olhando até que ele balança a cabeça positivamente.

-Certo, como você quiser. Voltaremos para Riverdale hoje mesmo.

Aquilo me quebrou. Me destruiu, eu senti meu coração se partir. Eu não estava acreditando que ele estava preferindo voltar para Riverdale ao invés de me apoiar, me aceitar do jeito que eu sou.

Ele vira e sai pela porta a fechando logo em seguida.

Sinto meus joelhos fraquejarem e minhas pernas perdendo as forças, eu dou paços para trás caindo no sofá desconsolada. Não estava acreditando no que tinha acabado de fazer. Apenas olho para um ponto fixo sentindo lágrimas rolarem pelo meu rosto.

Não demorou muito para a porta do meu escritório ser aberta revelando Verônica por trás dela. A olho e não consigo evitar derramar mais lágrimas.

-Ronnie...- Minha voz sai embargada e chorosa

-Oh Cheryl.- Verônica se aproxima de mim e se agacha na minha frente. Tirando uma mecha de cabelo do meu rosto.

Eu não conseguia dizer mais nada, eu estava a prantos, soluçando. Até que ela passa seus braços ao redor do meu corpo me puxando para um abraço, eu me aperto nela afogando meu rosto em seu cabelo.

-Shh, vai ficar tudo bem.- Ela passa uma de suas mãos sobre meu cabelo.

Me afasto da mesma a olhando.

-Não vai! Eles nunca vão me perdoar.

-Eii! Claro que vão eles são seus pais, eles acima de tudo te amam.- Ela segura minhas duas mãos que estão em meu colo.

-Eles vão voltar para Riverdale.- Verônica arregala os olhos com oque eu acabei de dizer, ela tenta falar alguma coisa mais parece que nada sai de sua boca.
Engulo a saliva que estava em minha boca olhando para a porta me deparando com uma morena encostada a porta, me olhando chateada.
Sinto Verônica se sentar ao meu lado no sofá e passar um braço em volta das minhas costas apertando um pouco meu braço.

Toni vem em minha direção e se agacha em minha frente, acariciando meu rosto com uma das mãos.

-Você não tá sozinha Cheryl, eu tô aqui com você. Nós estamos aqui com você.- Toni olha para Verônica e depois para mim.- Tudo vai se resolver tá? É só questão de tempo.- Ela segura forte minhas mãos e eu apenas balanço a cabeça concordando.
É, eu sabia que não ia ser fácil.

A farsaOnde histórias criam vida. Descubra agora