2. Impacto Furtivo

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O mar definitivamente não era para ela.

Mesmo que no terceiro dia de viagem os enjoos finalmente tivessem passado, o sono continuava sendo péssimo e não dava para se acostumar com o balanço do navio, por mais calmas que as águas estivessem. Foi um alívio quando o capitão anunciou que estavam se aproximando da costa da cidade e explicou que seguiriam a remo até o cais. Como a missão exigia o máximo de sigilo, deveriam evitar chamar atenção de qualquer forma, e um navio de Piltover certamente seria notado de imediato.

Algumas horas mais tarde, quando Vi arriscou deixar o interior do navio, não pôde deixar de se assustar com o que encontrou do lado de fora. Ela não sabia exatamente quando o mundo havia mudado, quando o céu nublado e a névoa espessa se tornaram uma coisa só, quando o silêncio tomou conta de tudo ao redor, e o clima se tornou sombrio e misterioso. Parecia que a qualquer momento um imenso monstro marítimo fosse surgir diante deles. Talvez isso acontecesse mesmo, e Vi percebeu que o coração batia forte no peito.

Navegar é coisa de louco, ela pensou.

Uma forte agitação tomou conta da tripulação, que começava os preparativos para ancorar. Pouco a pouco, o navio diminuiu a velocidade até parar completamente, e os marinheiros soltaram a âncora. Quando tudo estava pronto e os barcos a remo já estavam posicionados, um deles desceu por uma escada de corda na lateral do casco e anunciou uma estabilidade segura, acenando para que os outros o seguissem. Em um movimento ágil, Vi desceu também, saltando para dentro de um dos barcos e tentando não pensar no que aquelas águas escuras escondiam.

Levariam mais uma hora para chegar ao cais de Águas de Sentina, e enquanto isso, Vi aproveitou para revisar a ficha da missão uma última vez. O documento estava repleto de informações, com mapas detalhados da cidade, esquemas dos esconderijos conhecidos de Gangplank e um resumo dos contatos locais que poderiam fornecer informações adicionais, como a Taverna Barril de Pólvora, conhecida como um refúgio para piratas e aventureiros de todos os tipos, e por onde Vi decidiu começar sua busca. Além de recuperar o Cristal Hextec de Estabilidade Energética, ela teria também que descobrir sobre as operações de contrabando de Gangplank, e para que tudo fosse realizado da forma mais discreta possível, ela deveria se infiltrar no submundo do crime de Águas de Sentina, assumindo a identidade de uma contrabandista de artefatos hextec. O disfarce era moleza, bastava vestir suas roupas habituais, encardidas das ruas da Subferia. Além disso, ela carregava no ombro uma bolsa com amostras de artefatos hextec falsificados, criados especificamente para a missão.

Conforme se aproximavam da cidade, Vi começava a ouvir os sons poluídos da vida que existia ali. Sirenes de navios, anúncios de comerciantes, gaivotas gritando pelos ares e pegando restos de comida deixados pelas ruas. Com a névoa se dissipando, ela pôde ver o cais que se estendia ao longo da linha costeira, construído de tábuas tão gastas que poderia despencar a qualquer momento, completamente branco de cocô de pássaro. Marinheiros e piratas rolavam barris de rum e descarregavam pilhas de caixotes. Águas de Sentina era um emaranhado de embarcações naufragadas transformadas em moradias, edificações que se empilhavam umas sobre as outras em uma paisagem irregular e desordenada. No primeiro suspiro, Vi já pôde sentir o fedor do lugar, e estranhamente, sentiu-se em casa. O cheiro de peixe podre e sal impregnava o ar, misturando-se com o aroma das especiarias duvidosas vendidas nas feiras ao ar livre.

O marinheiro remando a sua frente, por ser parte da equipe designada por Jayce, repassou tudo com ela mais uma vez antes que ela se perdesse naquele caos. Dali em diante, Vi seguiria sozinha, como uma mercadora solitária em busca de compradores, e deveria retornar ao navio pelo menos uma vez na semana para, conforme Caitlyn instruíra, relatar o andamento da missão. Alguém sempre estaria esperando por ela no cais. Além disso, caso se envolvesse em uma briga – o que era muito provável – e se machucasse, teria uma equipe médica à sua disposição, com toda tecnologia necessária para cuidar de qualquer ferimento.

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