32. Investida do Tridente

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Vi cuspiu água e gritou no instante em que voltou a si.

Seu corpo estava encharcado, as roupas pesadas, e ela tremia de frio. A dor se espalhava por seu peito e costas e alcançava suas costelas, e só o simples ato de respirar a fazia sentir como se seus músculos e ossos estivessem sendo rasgados. Ela desejou que a inconsciência a envolvesse mais uma vez, e amaldiçoou os mares por ainda estar viva.

- Hmmm. Até que demorou.

Ela sequer tinha forças para se assustar com a voz que rodeou por sua mente ainda turva. Ela conhecia aquela voz, mas não a ouvia há tanto tempo que começou a se questionar se aquela não era mesmo a morte, dolorosa e miserável como deveria ser.

- Fizz? – Ela arfou.

- Haha! – O Trapaceiro respondeu. – Olha só, você se lembra de mim!

A Defensora abriu os olhos, tentando não se mover muito, e a carinha azul da criatura estava logo acima dela, encarando-a com aqueles olhos grandões e aquele sorriso que cruzava o rosto inteiro. Atrás dele, o céu nublado ameaçava uma forte tempestade, e ondas quebravam por perto.

Algo estava preso em sua garganta, mas pensando na dor que aquilo lhe traria, Vi se recusou a tossir, limitando-se a engolir repetidas vezes. Ainda sentia gosto de sangue.

- Finalmente despertou, hein! – Fizz voltou a falar, com sua voz irritantemente alegre. – Eu estava começando a achar que a Forasteira Carrancuda havia decidido tirar um longo cochilo.

- Onde diabos eu estou? – Vi conseguiu perguntar, com muita dificuldade.

- Em um dos meus lugares favoritos. – Ele apontou para algo com seu tridente, mas Vi não conseguiu acompanhar com o olhar. Mover-se minimamente despertava a mais aguda das dores. – É um pouco solitário, mas não se preocupe, a dor deve estar te fazendo companhia.

Parecia ser algo um tanto cruel de se dizer, mas ela decidiu ignorar.

- Você me salvou de novo? – Perguntou a Defensora.

- É claro! – Respondeu o Trapaceiro. – Como eu poderia deixar que minha grande amiga de Piltover se afogasse nas minhas águas? Ah, e por falar em amiga, como anda a Capitã Chata? Oh, quer dizer, foi mal. É claro que não anda bem, ou não estaríamos aqui agora.

Foi como levar um novo golpe do mar. Vi soltou um lamento do fundo da garganta, mas por sorte podia culpar a forte dor nas costelas definitivamente quebradas.

- Apesar de que, não são mais exatamente amigas, não é? Uh lalá. – Disse Fizz, num tom um tanto malicioso, imitando som de beijo. – Uma pena que tudo tenha terminado antes que vocês conseguissem desatar todos os nós.

- O quê? – Vi sussurrou.

- Ah, você sabe como é, algumas pessoas gostam de brincar com marionetes. – Ele abriu um sorriso travesso. – E algumas marionetes gostam de se achar mais inteligentes do que realmente são. Sempre é divertido ver como elas reagem quando percebem que estão apenas dançando conforme a música.

Vi grunhiu ao tentar rolar pelo chão. Ela se deitou de bruços, olhando para Fizz de frente. Uma imensidão de areia úmida se estendia por baixo deles, e o mar chiava ao redor.

- Do que está falando?

- Puxa, e eu pensando que você fosse inteligente. – Ele sibilou, visivelmente decepcionado. – É o que se espera de quem vem de Piltover, não é?

A Defensora não respondeu, e Fizz continuou falando:

- Fala sério, nunca notou como eu sempre estava em todos os lugares nos momentos certos? Quem te avisou que a Capitã Chata estava partindo sozinha para as Ilhas das Sombras, pra que você fosse junto? Quem estava lá outra vez quando vocês saíram? – Ele cruzou os bracinhos. – Quando soube do acordo entre ela e o espírito das correntes, como não desconfiou que eu nunca as tivesse salvado? A Capitã sabia, é claro, ela entrou no jogo quando percebeu que eu não contaria o que realmente tinha acontecido. Ela parecia não querer que você soubesse. A pergunta é: ela não queria te preocupar ou não queria que você estragasse os planos dela?

Corações de SentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora