21. Fúria do Alvo

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A Defensora podia ter ensaiado todas as respostas possíveis para aquilo, e ainda assim não saberia o que dizer.

De alguma forma, sua reação conseguiu passar despercebida por Miss Fortune, com seu dar de ombros e seu olhar vago, mas agora que olhava a figura da Xerife entrando na taverna, sentia-se tremer dos pés à cabeça. É claro que Caitlyn saberia onde procurar primeiro, visto que a Defensora sempre falava sobre o local durante seus relatórios. Os homens da tripulação assoviaram para a jovem enquanto ela examinava o ambiente, e por pouco Vi não estilhaçou o copo de vidro em sua mão de tanto apertar. Ao menos Caitlyn adotara um disfarce e usava roupas simples – simples para ela, de certa forma – e não se parecia tanto com uma patricinha de Piltover. Vi ainda precisaria entender como ela pôde ter sido identificada como Xerife de Piltover mesmo naquelas condições.

Dentre todas as reações que poderia ter tomado, Vi escolheu ficar sentada ao balcão. Ela poderia ter ido encontrar a Xerife no cais, mas demorou tempo demais para pensar nessa alternativa e acabou decidindo que levantaria muitas suspeitas. Poderia ter contado à Capitã que a Xerife de Piltover era ninguém menos que seu pesadelo trazido nas Ilhas das Sombras. Poderia ter dito que não sabia nada sobre aquilo e apenas ver Caitlyn expor tudo e mais um pouco assim que chegasse até ela. A Defensora preferiu não dizer nada. Talvez fosse melhor tomar uma atitude depois que a merda já estivesse feita.

Os olhos azuis de Caitlyn a encontraram e ela apertou os passos para se aproximar. Vi baixou os olhos, torcendo para que no segundo seguinte estivesse acordando em sua cama, mas isso não aconteceu.

Para sua sorte, Miss Fortune tinha se afastado para algum canto da taverna antes de a Xerife entrar. Para a falta dela, retornou no exato momento em que Caitlyn ficou frente a frente com Vi.

A situação pesava tanto por si só que a Defensora não conseguia respirar.

Caitlyn olhou para Vi por um instante e suas sobrancelhas se franziram, e Vi sabia que seu primeiro impulso seria abraçá-la, sem se importar com o quanto estava irritada. No instante seguinte, a Xerife deslizou o olhar para a Capitã, que se aproximava com uma postura perfeita.

- Muito pontual. – Observou Miss Fortune, sem deixar de notar a proximidade entre elas. Caitlyn também não parecia muito à vontade. Seu olhar alternava entre Vi e Miss Fortune e ela movia os lábios, em busca de palavras. Enquanto Vi apenas esperava que tudo se espatifasse, Sarah cruzou os braços. – Tem algo que eu deveria saber?

- Eu... – Caitlyn começou, mas num impulso de adrenalina, Vi a interrompeu.

- Capitã. – Ela escolheu a palavra cuidadosamente. – Essa é Caitlyn.

Miss Fortune arregalou levemente os olhos.

- Caitlyn? Aquela Caitlyn?

- O que isso quer dizer? – Indagou a Xerife, depois diretamente à Vi: – Você falou de mim pra ela?

- Peraí... – A postura impecável da Capitã parecia desmoronar aos poucos, e o coração de Vi batia tão rápido que ela estava prestes a vomitar. – A Xerife de Piltover?!

- Você por acaso me conhece? – Caitlyn perguntou.

Enquanto elas se olhavam, Vi pensou em se abaixar muito sutilmente e se arrastar pelo chão para sair dali.

- Eu disse que não tinha dado certo. – Ela sussurrou, deixando que seus olhos se embaçassem e desmanchassem a visão surreal que estava diante dela.

- Vi, posso falar com você? – Pediu Caitlyn, depois fez uma insinuação silenciosa para a Capitã. – A sós?

A sós? Então Caitlyn não ia entregá-la?

Corações de SentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora