Vi sempre esteve habituada ao fedor de tavernas enfiadas em vielas, mas ali, chegava a torcer o nariz. A primeira coisa que a Defensora reparou quando entrou na espelunca foi na briga violenta que acontecia em um canto escuro, mas que, a julgar pela postura despreocupada dos outros fregueses, não devia ser tão fora do comum assim. Em lugares como esse, nunca é.
Ela ajustou a alça de sua velha bolsa de artefatos hextec falsificados no ombro e andou pelo ambiente em busca de um único rosto. Quando seus olhos o encontraram, ela abriu um sorriso friamente calculado e se aproximou da mesa escondida nos fundos. Havia uma única cadeira vazia dentre os feiosos reunidos ali, e ela não esperou um convite para se sentar, jogando-se de forma desleixada no assento. O homem de rosto robusto marcado por profundas cicatrizes e um tapa olho de couro, que segurava uma adaga nas mãos, ergueu-se para ela, entregando-lhe um olhar avaliador diante de sua atitude ousada. Ele fumava um charuto, o cheiro da fumaça se misturava a suor e sangue seco grudado em sua pele, e o segurou entre o polegar e o indicador quando seus comparsas se agitaram ao redor diante da presença de Vi, puxando suas armas. Após soprar a fumaça, ele fez um sinal para que os piratas relaxassem.
- Então, você é a famosa contrabandista de Piltover? – A voz rouca do assassino era carregada de desconfiança.
- E você é o famoso... – Vi fez uma expressão de desapontamento. – Terror das ruas de Sentina? Tenho que admitir, eu esperava bem mais.
O homem girou o objeto metálico entre os dedos com uma destreza inquietante. Ele abriu um sorriso de canto que não trazia nenhum resquício de humor.
- Ouvi falar de sua língua afiada.
- Era pra ser uma ofensa? – A Defensora sorriu com as memórias sexuais que lhe atingiram, mas o homem não achou graça.
- Também ouvi falar que é boa de carta. – Ele puxou um baralho que, a julgar pelo seu movimento, Vi podia jurar ter sido da bunda. Ela ponderou por alguns segundos sobre aceitar aquela proposta, mas não achava que Olho Manco fosse lhe dar escolha. Enquanto embaralhava as cartas, ele disse: – Que tal um jogo enquanto fazemos negócios?
- Se prometer que não vai chorar. – Disse Vi. Os homens ao redor se levantaram, dando-lhes espaço e formando um círculo de expectadores enquanto Olho Manco distribuía três cartas entre eles e virava uma sobre a mesa.
O assassino fincou a adaga na mesa diante de si.
- Sabe, contrabandista... – Ele ajustou a posição das cartas em sua mão. – Tenho ouvido muitas coisas sobre você.
- Já deu pra perceber. – Vi examinou as próprias cartas rapidamente antes de deixá-las sobre a mesa com as faces viradas para baixo. – Acho que eu deveria começar a me preocupar com a rapidez com que notícias correm em Águas de Sentina.
Olho Manco riu baixo e sinalizou para que Vi desse início à partida. Ela se lembrava perfeitamente da posição de suas cartas, e sem muita preocupação, escolheu uma delas e a virou sobre a carta tombada, sorrindo para a expressão de desapontamento que surgiu no rosto do assassino.
- Nada mal. – Proferiu ele, apenas descartando sua carta mais fraca diante da rodada perdida, passando a vez. O capitão continuou: – Dizem por aí que você não é apenas uma vendedora de artefatos, mas também uma... como posso dizer? Uma peça-chave em uma rede muito maior.
Vi escolheu sua próxima carta com muita confiança.
- E por acaso você é o tipo de pessoa que acredita em boatos? – Ela virou a carta sobre a mesa, certa de que a partida acabaria ali mesmo.
Olho Manco sorriu com malícia.
- Boatos? Não exatamente. Tenho minhas fontes. – Ele jogou sobre a carta da Defensora cheio de razão, e ao perceber a expressão surpresa de Vi com a derrota inesperada, acrescentou: – Três pontos?
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Corações de Sentina
FanfictionVi, uma Defensora de Piltover com um passado conturbado, é enviada a Águas de Sentina em uma missão confidencial para recuperar um artefato hextec roubado pelo temido pirata Gangplank. Lá, ela se alia a Miss Fortune, uma famosa caçadora de recompens...