17. Disparos Sincronizados

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Vi decidiu voltar para a loja de Alaric sozinha muito antes do fim do festival. Pensou em avisar Sarah e até procurou por ela entre a multidão, mas decidiu não incomodá-la quando a encontrou conversando com um belo jovem, sem deixar de notar a proximidade do rosto deles e os olhares cheios de intenção. Ela se deu conta de que não queria ver o desenrolar daquilo ali, e tratou de se afastar sem olhar para trás.

Cambaleando pelas ruas, os pensamentos embriagados insistiam em divagar, levando-a para todos os conflitos internos que vinha evitando.

Jinx. Caitlyn. Caitlyn e Jayce. Miss Fortune. Talvez um pouco de Gangplank, quase nada sobre a missão, embora devesse ser sua prioridade.

Ela se escorou a uma parede para tentar recuperar o equilíbrio e tapou os ouvidos, como se aquele gesto pudesse protegê-la da bagunça que acontecia em sua mente. Tudo estava embaçado, sua percepção do mundo externo completamente comprometida, não havia para onde fugir. Talvez tivesse chegado a hora de empurrar o tapete para o lado e encarar aquela sujeira escondida há tanto tempo.

Que ironia. Como alguém que nunca teve medo de se envolver em brigas, de se ferir gravemente, arriscar a própria vida se fosse necessário, podia temer tanto a simples ideia de dar atenção aos próprios sentimentos?

Vi pensou no rosto de sua irmã e curvou o corpo para frente bruscamente, certa de que iria vomitar. Nada aconteceu, e ela engoliu de volta aquele sabor amargo que invadiu sua garganta.

Depois de tudo, ainda tinha o direito de sentir falta dela? Podia pensar em Jinx como sua irmã, afinal de contas?

A Defensora apoiou as mãos nos joelhos, sentindo mais uma vez aquele golpe no estômago que ela sabia muito bem não ter nada a ver com a bebida.

Ela decidiu, por fim, que sim, sentia falta de sua irmã, e que pensar muito nela a faria questionar sua posição como Defensora. O Conselho estava certo em não confiar completamente nela, mesmo que reconhecesse seu trabalho. Uma parte muito escondida de Violet queria correr de volta para Powder, mudar tudo o que havia acontecido, insistir outra vez, ou quantas vezes fossem necessárias, e era isso que machucava tanto. Por vários motivos, ela não podia fazer isso. O principal, era que Jinx jamais a aceitaria de volta.

Ela fez sua escolha, e independentemente de qual fosse, haveria consequências. Em Piltover, Vi teria a oportunidade de ser ouvida, de dar voz a quem não podia gritar, de lutar pelos esquecidos, e ela escolheu sacrificar sua antiga vida por isso. Ela achou que encontraria um novo caminho que fizesse sentido.

Um caminho ao lado de Caitlyn.

Vi apertou as mãos contra as orelhas e fechou os olhos com força, voltando àquele fatídico Dia do Progresso, ao discurso de Jayce, ao momento em que ele chamou a Xerife ao palco e a beijou na frente da cidade inteira.

"Não se preocupe muito com isso, Vi", dissera ele depois de ser questionado. "Nós tínhamos que abafar os boatos entre você e Caitlyn."

Vi tinha um soco mais do que pronto carregado nas manoplas, mas perdeu todas as forças quando Caitlyn, do modo mais gentil que pôde, disse o quanto era necessário manter sua reputação como Xerife de Piltover. E ali, naquele momento, tudo dentro dela desabou. Ela jamais seria boa o suficiente para ser vista ao lado de Caitlyn, e sendo assim, para que insistir?

Mas doeu. Doeu porque ela pensou que teria a chance de viver um romance, algo que nunca imaginou para a própria vida.

Inevitavelmente, Vi pensou em Miss Fortune.

Por fim, ela socou a parede. Uma rachadura se espalhou pelos tijolos e algumas pessoas muito chocadas pararam para olhar. Vi sacudiu a mão, como se tentasse aliviar uma dor que não sentia, apenas para parecer mais normal, e voltou a tropeçar até a loja.

Corações de SentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora