11. Punição Espectral

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Vi acordou pensando ter ouvido alguém gritar.

Conforme recobrava a consciência, ela voltou a perceber o ambiente ao redor; as costas apoiadas à mesa da cabine, braços cruzados no peito, as pernas esticadas diante dela, o balanço do navio. Pensou ser só um pesadelo, e estava cansada demais para se importar, mas em algum lugar distante, o grito soou outra vez.

Ela se levantou num salto, olhando apressadamente ao redor. Miss Fortune acabava de erguer o rosto da mesa também, parecendo igualmente assustada.

- Você ouviu isso? – A Defensora perguntou. A expressão da Capitã era algo inédito naquele momento, os olhos arregalados na direção de Vi.

- Você caiu no sono. – Ela afirmou num tom apavorado, como se de alguma forma estivesse torcendo para que a resposta fosse não. Mais um grito. Miss Fortune se levantou também, a jaqueta de Vi caindo de seus ombros, e lado a lado, as duas olharam para a porta da cabine com muito receio. – Ah, merda! Merda, merda, merda! Como pôde cair no sono?

A Defensora sentiu a irritação borbulhar por todo o corpo.

- E você? – Rebateu ela. – Você é a maldita capitã!

Mas, no fundo, ela sabia que não estava totalmente correta naquela situação. Tinha mesmo cometido um erro, mas a Capitã também. Se as duas estavam dormindo, não havia mais ninguém para trabalhar no navio, o que significava que ele podia ter facilmente saído da rota.

O que significava...

Vi correu até a maçaneta, precisava ver pelo que passavam, precisavam se apressar. Mas Miss Fortune bateu a porta antes que ela a abrisse. As duas se encararam.

- O que está fazendo?! – Vociferou Vi. – Não podemos ficar paradas aqui.

- É tarde demais. – Os olhos da Capitã brilhavam de um jeito novo. Ela parecia completamente perdida. Vi sabia o que aquilo queria dizer, mas não iria apenas aceitar e se render. Não estava pronta para aquilo.

- Não, só temos que voltar. – Ela tentou girar a maçaneta outra vez, mas Miss Fortune colocou a mão sobre a dela para impedi-la.

- Se sair daqui você vai morrer. Não vai querer ver o que tem lá fora.

Novos gritos soaram, gritos em agonia, gritos cheios de desespero, vozes com ecos que vinham do além. Ela sabia que a Capitã tinha razão.

- O que vamos fazer?

- Você fica aqui. – Miss Fortune apertou ainda mais sua mão, e Vi entendeu o que a Capitã pretendia.

- Nem pensar. – Bradou ela.

- Não temos escolha.

- Temos que tentar sair daqui! – Agora a Defensora sentia o próprio pavor na voz.

- Não ouviu o que eu disse?! Você vai morrer se for lá pra fora!

- E você, sua pirata idiota? – Ela sacudiu o braço para que a Capitã a soltasse, franzindo o cenho.

Miss Fortune respondeu muito decidida.

- Eu estava pronta pra isso.

Ela estava se preparando para fazer aquele acordo?

- Por isso me ensinou tudo aquilo? – Vi perguntou, e o silêncio da Capitã confirmou. – Vai se foder.

Mas, naquele momento, palavra nenhuma ajudaria. Vi fechou a mão e acertou um golpe no rosto da Capitã para afastá-la da porta. Ela precisava pelo menos tentar chegar às velas.

Corações de SentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora