Vi tinha todas as razões para acreditar que Gangplank estava levando – além de Sarah – o cristal hextec para as Ilhas das Sombras, e não foi difícil convencer o chefe do Conselho de sua suposição.
Primeiro porque, após a operação desastrosa no armazém do capitão, a menos que, em seu desespero, Gangplank cometesse o mais tolo dos erros, ele não arriscaria deixá-lo em um lugar já descoberto e atacado. Além disso, as Ilhas das Sombras poderiam oferecer um refúgio sinistro e praticamente impenetrável para algo tão valioso, e a essa altura, ela já esperava que as intenções de Gangplank com o cristal fugissem de qualquer normalidade. E talvez, junto à alma de Miss Fortune, o artefato tivesse um significado ainda maior para Thresh, caso fosse oferecido em um novo acordo.
Além, é claro, de que Jayce ficou absolutamente encantado com a carta de Twisted Fate e com a magia atrelada a ela. Ele não ignoraria algo dessa magnitude.
Acontece que Vi não era a única a enxergar através dela, e uma vez que todos puderam ter a prova do que estava realmente acontecendo, ela não precisou insistir muito mais para convencê-los de que ela deveria ir junto, mesmo em suas atuais condições. Teve também uma pequena ajuda de Caitlyn, que insistiu que o resgate de Miss Fortune era de extrema importância. Bom que tudo tenha se resolvido da forma mais pacífica possível; Vi estava em alerta demais e começar uma briga com a própria equipe poderia piorar ainda mais sua situação.
Não demorou para que sua bagagem fosse acrescentada a bordo, com nada além de suas manoplas. Era só o que ela precisava para a batalha que eventualmente enfrentariam. Enquanto zarpavam, ela se pegou pensando na tripulação da Capitã, se também estariam atrás dela e em como exatamente sua captura teria acontecido. Ela temia encontrá-los por aqueles mares e provocar uma nova guerra entre Águas de Sentina e Piltover, mas esse era um risco que ela estava disposta a correr. Não importava como as coisas acabaram entre as duas, Vi não lhe daria as costas, mesmo que Miss Fortune encontrasse uma forma de fazê-la pular da prancha outra vez.
Durante a viagem, Caitlyn se manteve distante. Talvez estivesse envergonhada por aquele último momento em que elas estiveram a sós, por ter insinuado algo tão íntimo diante das verdadeiras condições de Sarah. Vi não podia negar que se permitiu considerar uma reconciliação amorosa com a Xerife depois de tudo. Não para tapar o novo buraco deixado em seu coração, mas porque agora ela sentia que devia a si mesma uma nova chance. Era como se, pouco a pouco, ela estivesse começando a lidar com seus demônios da melhor forma, a começar por Jinx, que mesmo separada por uma enorme barreira, ainda se permitiu um momento de paz, demonstrando assim que talvez nem tudo entre elas estivesse perdido. E depois, Caitlyn, que se mostrou disposta a aceitá-la mais uma vez.
Mas, acima de tudo, a maior lição que Vi tirou de sua missão foi sobre aceitar os próprios sentimentos, e ela não fecharia mais os olhos para algo que estava diante dela.
Ela amava Sarah Fortune, e lutaria por ela até o fim, mesmo sem a certeza de como tudo acabaria.
Alguns dias em alto-mar já haviam se passado quando Violet tomou coragem para examinar a carta outra vez, numa noite abafada que anunciava uma forte tempestade. O convés refletia à luz suave das lanternas espalhadas ao longo das bordas e mastros, emitindo um brilho azulado que cortava a escuridão vinda do céu. A lutadora se apoiava ao corrimão do navio, observando a carta entre os dedos, vez ou outra a levando aos olhos, mas dessa vez, sem nada enxergar. Cada vez que ela pensava no rosto ensanguentado de Sarah e no que os tripulantes de Gangplank poderiam estar fazendo com ela, era como uma batida do coração que ela perdia.
Mas, enquanto pensava sobre isso, algo estranho sobre a carta começou a acontecer mais uma vez.
O brilho que corria por suas bordas começou a se intensificar e se espalhar por toda sua face, tornando-se uma luz quase ofuscante. Vi franziu o cenho e sentiu os dedos se apertarem em torno dela, como se estivessem presos, ainda que o calor que emanasse dali fosse quase insuportável, e não demorou muito para que o artefato começasse a tremer em sua mão como se tivesse vida própria. Ela não conseguia soltar, e observou bem diante de seus olhos o brilho dourado se transformar em um vermelho profundo, distorcendo a face da carta como se a estivesse derretendo. A energia que irradiava dela se espalhou ao redor de Vi, atraindo a atenção de todos para ela. Ela pôde ouvir alguns gritos preocupados, mas não foi capaz de identificá-los, e antes que tivesse a chance de dizer qualquer coisa em resposta, a carta emitiu um estalo alto e uma rajada de energia vermelha explodiu de suas bordas. O impacto foi tão forte que Vi finalmente conseguiu soltá-la.
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Corações de Sentina
FanficVi, uma Defensora de Piltover com um passado conturbado, é enviada a Águas de Sentina em uma missão confidencial para recuperar um artefato hextec roubado pelo temido pirata Gangplank. Lá, ela se alia a Miss Fortune, uma famosa caçadora de recompens...