14. Encanto à Vista

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Vi aceitou de prontidão quando Sarah a chamou para caminhar pela praia até a loja de Alaric, onde ficariam hospedadas. Ela tentava não pensar muito em como dividiriam a única cama no quarto, e provavelmente decidiria dormir no chão para não ter que se deitar tão próxima à Capitã. Faria isso de qualquer jeito, mesmo que não estivesse com aquelas borboletas no estômago que queria matar no soco.

Miss Fortune andava pela areia como se estivesse desequilibrada, não pela bebida, mas porque às vezes parecia se esquecer de que estava em terra firme. Mais de uma vez ela esbarrou em Vi enquanto tombava para os lados, mas a Defensora não se irritou com aquilo como costumava antes. Aquilo já aconteceu em outras ocasiões em que andavam lado a lado, e Vi precisava cerrar os punhos para não a socar, mas dessa vez, até que não estava achando tão ruim.

Caminharam por um tempo em um silêncio confortável, e a Defensora não pôde deixar de perceber o quanto aquilo mudara entre elas também. Antes o silêncio era carregado de desconfiança, como se as duas estivessem esperando por algum tipo de ataque, como se precisassem ficar alertas a todo momento, prontas para se defender de qualquer coisa. Agora, tudo o que faziam era admirar o mar e as estrelas que salpicavam o céu escuro.

- O que achou de Alaric? – Miss Fortune perguntou algum tempo depois, o ombro roçando no braço de Vi mais uma vez enquanto ela tombava para o lado. A Defensora sorriu.

- Ele é ótimo. – Admitiu, e Miss Fortune pareceu satisfeita com sua resposta.

- Ele era um amigo do meu pai. – Contou. – Eles estavam sempre juntos, bebendo ou pescando em alto mar. Às vezes eu ia junto, mas quase sempre preferia ficar com a minha mãe.

Vi se sentia confortável para fazer a próxima pergunta. Parecia que a Capitã queria falar sobre aquilo.

- Vocês eram próximas?

- Sim. Ela era incrível. – Miss Fortune sorriu. – Ela me ensinou tudo o que eu sei sobre armas. Ela fabricava as melhores pistolas da cidade. Uma pena que sua fama chegou aos ouvidos errados.

Vi sabia o que aquilo queria dizer, e ela olhou para a Capitã com compaixão.

- Eu sinto muito. – Ela teve vontade de colocar o cabelo de Sarah atrás da orelha, e fechou as mãos para não se atrever. – Não tive a chance de dizer antes, mas eu realmente sinto.

Miss Fortune parou de andar por um segundo e assentiu, depois voltou a caminhar.

- Em sua primeira vinda à cidade, Gangplank encomendou um par de pistolas único. – Contou Sarah. – Ele não tinha a intenção de pagar pelo trabalho da minha mãe, mas tudo bem, porque ela também não tinha a intenção de entregar pra ele. Disse que ele não era digno de portar aquelas armas. Ele ficou furioso e as destruiu.

Ela baixou o olhar para o coldre.

- Mas não fez isso antes de atirar em minha mãe com elas, depois em meu pai, depois em mim, e depois incendiou nossa casa.

Vi quebrou o longo silêncio que se seguiu, preenchido apenas pelo chiado do mar.

- Sabe, eu também cresci sem meus pais. – Ela sorriu. – Também fui criada por um grandalhão grisalho e barbudo.

Pensar naquele rosto também doía.

- Eu sabia. – Miss Fortune riu levemente.

- Como?

- Temos o mesmo olhar. – Disse a Capitã. – Não é tão difícil desvendar algo que tá sempre no espelho.

Vi se surpreendeu, não sabia que ela também estava reparando em seus olhos.

Corações de SentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora