34. Cartada Reveladora

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Vi se limitou a ficar parada ali, respirando alto e profundamente enquanto encarava a ponta da arma apontada em sua direção, e o rosto de sua irmã logo acima. Ela nem mesmo reagiu quando Jinx se agachou em cima dela e apoiou a arma no próprio joelho, as tranças longas e azuis balançando pelos ares e arrastando no chão.

- Essa é a parte em que você sai correndo e eu tento te acertar. – Jinx sussurrou, a outra mão próxima à boca, como se estivesse lhe contando um segredo. Ela pigarreou e se levantou com tudo outra vez. – Últimas palavras, maninha!

A única coisa que Vi fez foi sorrir.

- Não, tudo bem. – Murmurou ela, a voz suave. – Vá em frente.

- Ah, qual é! – Jinx reclamou. – Tá acabando com toda a diversão!

O sorriso da lutadora continuou ali. Não importavam as circunstâncias, ver sua irmã, mesmo com aquele caos em seus olhos, era como voltar para a casa depois de um longo dia de trabalho e encontrar tudo revirado para dar vida a algum tipo de brincadeira. Você se irrita com a bagunça, mas mesmo assim, continua sendo seu lar.

- Eu não vou correr, Powder. 

- Argh, toda vez é a mesma coisa! – Jinx suspirou, e num gesto dolorosamente familiar, coçou a têmpora com a ponta da pistola. Ela voltou a gesticular conforme continuava falando. – Você diz isso, eu digo aquilo, e depois a gente tenta se matar, como deve ser. Ainda não decorou o roteiro?

- Sim, tem razão. É hora de acabar com isso. – A lutadora lhe deu um olhar encorajador. – Então, vá em frente.

Jinx hesitou por um momento, o brilho maluco em seus olhos piscando quase imperceptivelmente. A arma tremeu em sua mão enquanto ela apontava para a irmã outra vez.

- Eu disse... – grunhiu ela. – Últimas palavras, Vi!

A lutadora fechou os olhos.

- Bom te ver, garota.

E então, nada aconteceu.

Vi abriu os olhos outra vez.

- Odeio quando você faz isso! – Jinx se afastou de Vi, permitindo que a lutadora se sentasse. – Tanto faz, posso deixar passar dessa vez, é seu aniversário, afinal. Quantos anos está fazendo mesmo? Quarenta e três? Cinquenta e sete? Oitenta e quatro?

Vi riu levemente, balançando a cabeça.

- Vinte e nove.

Jinx cruzou os braços e se encostou a uma parede.

- As dores na coluna já estão pra começar.

- Não sou tão velha assim. – Respondeu Vi num tom divertido.

- Até parece. Vejo seus cabelos brancos daqui.

- Ah, cala a boca. – Vi suspirou enquanto se levantava, e Jinx voltou a lhe apontar a arma.

- Ei, ei, ei. Não abusa do meu bom humor. – Num gesto de afronta, a lutadora revirou os olhos, e sua irmã cruzou os braços outra vez. – O que tá fazendo aqui? Não devia estar comendo um bolo cheio de engrenagens no lado alto?

- Hoje não. – Vi bateu a poeira de suas roupas.

- Por quê? – Jinx a olhava dos pés à cabeça, como se estivesse buscando por qualquer mudança que perdera no tempo em que não se viram.

- Que é? Estamos conversando agora?

Jinx deu de ombros.

- É seu aniversário. – Ela ergueu a mão para mostrar os dedos cruzados para Vi. – Tô de figas.

Corações de SentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora