22. Escudo da Defensora

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Enquanto alguns homens se reuniam ao redor do corpo de Bill Barril, Miss Fortune estalou a língua e andou tranquilamente até o banheiro. Vi a seguiu, empurrando a porta que a Capitã tentou fechar com força atrás de si, e Sarah esperou até que os passos da Defensora se silenciassem para se virar para ela, pouco a pouco sua expressão se transformando. Os lábios tremeram, as sobrancelhas se franziram, e soltando um soluço alto, Miss Fortune se lançou sobre Vi e escondeu o rosto em seu pescoço, como se ali pudesse fugir de sua realidade. Gritos cortantes irromperam de sua garganta, carregados de ódio, desespero, pavor e tudo mais do que a Capitã guardava dentro dela. Ela hiperventilava e sua vulnerabilidade exposta era tanta que por alguns segundos Vi não conseguiu reagir, petrificada diante daquele tormento.

Miss Fortune se afastou bruscamente de repente, tapou os ouvidos e fechou os olhos, curvando-se em direção ao chão enquanto ainda gritava. Ela começou a bater contra as orelhas, e foi nesse momento que a Defensora voltou a si. Ela se ajoelhou diante de Sarah e puxou suas mãos para contê-las, dominada pelo próprio desespero.

- Tá tudo bem, tá tudo bem. – Disse ela, mas suas palavras eram abafadas pelos grunhidos violentos da Capitã. Miss Fortune continuou forçando as mãos em punho contra a cabeça, golpeando-a com força. – Por favor, pare com isso!

Vi compreendia o que aquele encontro significava para ela, o peso das advertências de Gangplank. A Defensora engoliu em seco inúmeras vezes, afugentando as próprias lágrimas. Era exatamente como seus terrores noturnos, mas dessa vez, assustadoramente real. Vi queria sair dali e ir atrás do capitão, matá-lo com as próprias mãos para garantir que ele não voltaria nunca mais.

Mas ela sabia o que sua morte acarretaria.

- Eu tenho que me esconder! Tenho que me esconder! – Sarah gritou, mas não falava necessariamente com Vi. Ela se soltou de suas mãos e se arrastou pelo chão até se escorar em um canto escuro embaixo da pia, e só ali suavizou a força dos golpes contra si mesma, a voz finalmente se abaixando até se tornar apenas um sussurro. – Tenho que me esconder...

Miss Fortune virou o rosto encharcado para Vi, e um lapso de lucidez pareceu atingi-la.

- Vi... – Murmurou ela com a voz embargada. Vi se aproximou dela no mesmo instante e deixou que ela se jogasse sobre seu colo. Agora a Capitã apenas chorava, e a Defensora não pôde fazer nada além de afagar os cabelos dela e esperar que se acalmasse.

Ela ergueu os olhos e encontrou a Xerife em pé no meio do banheiro, olhando para elas com o rosto carregado de terror. Vi não queria que ela estivesse ali, não queria que visse a Capitã naquele estado, porque sabia que Miss Fortune não iria querer aquilo. Mas não era hora para um sermão.

- Tudo bem, minha menina. – Vi murmurou com doçura, abraçando Sarah com mais força. – Eu estou aqui, não vou a lugar nenhum.

Miss Fortune apertou os braços ao redor de sua cintura e escondeu o rosto em sua coxa. Chorou por longos minutos até que sua respiração finalmente voltasse ao normal. Aos poucos, Sarah se levantou e Vi segurou seu rosto, afastando algumas mechas de cabelo e olhando com cuidado para checar se a marca deixada pelos dedos de Gangplank já havia desaparecido.

A Capitã fungou.

- Me sinto uma garotinha estúpida. – Disse ela, os olhos ainda um tanto chorosos fixos na Defensora.

- Não tem nada errado em se sentir assim, e quando acontecer, estarei por perto. – Vi respondeu, afagando suas bochechas com os polegares. Miss Fortune se afastou sutilmente para enxugar os olhos.

- Devíamos ir ver o Bill. – Ela sugeriu.

- Tem razão. – A Defensora se levantou e ajudou a Capitã a fazer o mesmo.

Corações de SentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora