18. Resgate da Artilheira

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Foi como observar um céu azul ser tomado por nuvens escuras. Sarah voltou a se proteger atrás da carcaça da Capitã Fortune, escondendo tudo aquilo que a Defensora conheceu e mostrando somente o que sua tripulação deveria ver. Enquanto avançavam lado a lado em direção aos homens, Miss Fortune parou de cambalear e voltou a caminhar com elegância, o rosto totalmente relaxado e os olhos envoltos em uma sombra cruel.

O barman da taverna Barril de Pólvora – cujo nome Vi ainda não sabia, uma vez que era difícil conhecer os homens da Capitã, que constantemente se dirigia a eles com xingamentos – estava na frente de todos, trazendo no olhar uma mistura de alívio e tensão. Sarah cruzou os braços em uma postura completamente despreocupada quando já estavam próximas o bastante para parar.

- Você não está morta. – Observou ele. A Capitã abriu os braços e olhou para o próprio corpo.

- Não estou? – Sua voz não deixava dúvidas do quanto estava bêbada. Ela deu de ombros. – Devo estar. Pra estar olhando pra essa sua cara feia agora, só posso estar no inferno.

A Defensora, que por sua vez, não estava tão mais sóbria que ela, roncou uma risada e rapidamente tratou de pigarrear para escondê-la. Ela lutou para se concentrar no que a situação exigia.

- O Trapaceiro das Marés nos contou tudo. – Continuou ele, com as sombras lançadas pelo fogo das tochas dançando em seu rosto robusto.

- Argh, aquele feioso não sai da minha bota. – Resmungou Sarah.

- O que você fez? – O barman se aproximou com passos decididos.

A Defensora conhecia muito bem quando o início de um confronto pairava pelo ar. O barman não estava em uma postura de defesa, mas de ataque. Sua voz a acusava de algo, como se qualquer que fosse o motivo para estarem ali, fosse por culpa dela. Suas narinas estavam infladas, os ombros tensos, o peito estufado, e diante disso, todos os outros piratas se sentiram corajosos o bastante para demonstrar a mesma postura, olhando para a Capitã como se finalmente tivessem entendido que ela era uma, e que não teria chance contra todos eles. Ao mesmo tempo, aquela não parecia ser uma atitude raivosa. Talvez fosse algo perto do que a própria Vi sentia, uma vontade incessante de quebrar Miss Fortune em uma boa surra simplesmente por gostar dela.

A tripulação da Capitã parecia... preocupada. Irritantemente preocupada.

Mas então, Vi se lembrou do porquê ela era a Capitã Fortune, afinal de contas.

Sarah levantou o queixo muito sutilmente, pesou as pálpebras até que seus olhos se mostrassem através de uma linha fina de azul claro. Ela andou até o barman, ficando tão próxima que precisou tombar a cabeça para trás para encará-lo. Ela não precisou dizer nada, nem mesmo levar a mão ao coldre, e o homem piscou algumas vezes e andou para trás, colocando-se novamente em seu lugar. Todos os outros homens desviaram o olhar também.

Vi sentiu o corpo todo tremer, certa de que aqueles homens também viam algo em Sarah que ela ainda não revelara à Defensora.

Apesar disso, ela não estava com medo ou assustada.

Estava excitada.

Por fim, Sarah voltou a sorrir.

- Foi o que pensei. – Disse ela. – O velho Bill Barril não se atreveria a me acusar de nada.

Bill Barril engoliu em seco.

- Precisamos te mostrar uma coisa.

- Por que não vai enxugar um peixe? – Miss Fortune se aproximou da Defensora e lhe segurou o queixo para puxar seu rosto para si. – Nós estávamos bem no meio de algo.

Corações de SentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora