13. Deslumbre da Atiradora

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Após ancorar o navio, as duas atravessaram todo o cais até a praia. Miss Fortune tagarelava sem parar sobre os momentos de sua infância que se lembrava de ter passado ali, mas Vi não conseguia acompanhar sua euforia como gostaria. Ela odiava como suas emoções estavam afloradas, tanto em compaixão, quanto naquela maldita atração que ela não conseguia mais ignorar. Não que isso fosse atrapalhar no andamento da missão, Vi era ótima em separar as coisas, mas ela não planejava nada daquilo, o que já bastava para tirá-la do sério.

Quando chegaram à areia dourada, ela voltou os olhos na direção do mar, procurando por qualquer sinal do navio da equipe, mas não encontrou nada. Ela sabia que precisava contatar Jayce o mais rápido possível, ou temia que ele mandasse uma equipe de busca atrás dela em Águas de Sentina e a missão fosse por água abaixo. Como deixou o dispositivo no navio, seu plano era voltar sozinha depois. O quanto antes, se possível.

Não havia muita gente na praia, por mais que o dia estivesse quente, apenas alguns pescadores espalhados pela areia e pelo cais.

Quando ela se voltou para a Capitã, ela estava inclinada sobre as pernas, arrancando as botas e dobrando a barra da calça até os joelhos. Vi balançou a cabeça e sorriu. A primeira Miss Fortune que encontrara, aquela pirata cruel e impiedosa, tão séria e elegante, teria rido daquela garota na areia.

- O que tá esperando? – Disse Sarah, indicando as botas da Defensora. – Sinta-se em casa.

Ela resolveu se juntar à Capitã, arrancando os sapatos e dobrando as calças. A areia estava morna e a sensação entre os dedos era gostosa. E quer saber? Por que não tirar uma folga daquela missão depois de ter quase morrido?

Ela seguiu Miss Fortune pela praia até uma loja de reparos de barcos, com uma fachada azul e branca. Ao entrarem, o sino acima da porta tocou, e enquanto não chegava ninguém para atendê-las, Vi aproveitou para examinar o ambiente; o interior era iluminado por janelas grandes que permitiam a entrada da luz do sol, ferramentas se penduravam às paredes e prateleiras de madeira cheias de peças para conserto de barcos se espalhavam pela loja. Era tudo muito limpo e estranhamente amigável, completamente diferente de Águas de Sentina.

Vi estava pronta para perguntar o que estavam fazendo ali quando alguém atravessou a porta dos fundos para o balcão de atendimento ao fundo da loja. O homem que se aproximou era um grandalhão grisalho e barbudo, com olhos azuis e gentis que já estavam fixos no rosto da Capitã, que também lhe sorria.

A Defensora foi golpeada por uma forte sensação de familiaridade e conforto.

- Sarah. – Disse o homem, parecendo hipnotizado. – É muito bom te ver, Capitã.

- Ah, deixe de formalidades, Alaric. – Ela respondeu, e abriu os braços. O grandalhão alargou ainda mais o sorriso e contornou o balcão para abraçá-la, tomando-a nos braços como se ela fosse uma bonequinha de porcelana que ele temia quebrar. Vi conhecia aquela sensação de ser abraçada com tanto carinho, e sentiu mais uma pedrinha se soltar de seu muro interior.

- É sempre bom te ter de volta por aqui, minha jovem. – Disse o homem quando eles se afastaram, e então olhou com curiosidade para a Defensora. Miss Fortune olhou para ela também.

- Alaric, queria que você conhecesse Vi. – Ela indicou a mais alta. – Ela é uma amiga de Águas de Sentina. Ela está me ajudando com... ah, você sabe. Nós precisamos de um lugar para ancorar por alguns dias.

- É um prazer conhecê-la, Vi. – Disse Alaric. – Qualquer amiga de Sarah é bem-vinda aqui.

Vi sorriu.

- Obrigada, o prazer é todo meu.

- Bem, sabe que a cidade não é muito preparada para receber visitantes. – Disse Alaric à Capitã. – Mas acho que posso ajudá-las com isso. Venham comigo.

Corações de SentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora