39. Retribuição da Sorte

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Vi estava sentada contra a parede da cabine do capitão, um dos joelhos puxado contra o peito enquanto a outra perna descansava esticada diante dela. Sarah se sentava ao seu lado, abraçando as duas pernas dobradas contra o corpo. De onde estavam, podiam acompanhar todo a movimentação que acontecia pelo convés, e os aliados eram perfeitamente capazes de cuidar de tudo para que elas pudessem se distanciar daquele caos por um momento. Os homens de Gangplank eram levados para as celas de seu próprio navio, e o capitão insistia em lançar comentários violentos para qualquer pirata do Sirene, ou do navio de Alaric, ou mesmo do navio de Piltover, que passasse por ele. As amarras mágicas de Twisted Fate pareciam ter finalmente perdido seu efeito, e tudo o que prendia Gangplank àquele mastro agora eram cordas grossas e ásperas.

Eles preparavam todo o navio para o golpe final da Capitã: explodir tudo para toda a cidade de Águas de Sentina assistir. Dessa forma, com a proximidade dos outros navios, os tripulantes retornavam aos poucos para a segurança das embarcações que não fariam parte daquela destruição. Enquanto isso, alguns homens de Miss Fortune preparavam um caminho sinuoso de pólvora que serpenteava por toda a superfície do convés. Eles criavam uma trilha de pó negro que descia em direção ao porão onde estavam armazenados os barris de pólvora do capitão. A ideia era garantir que, uma vez que o caminho fosse aceso, o fogo se espalhasse pela pólvora diretamente ao coração da carga explosiva, de modo que que todos tivessem tempo suficiente para sair do Presságio da Morte em segurança.

As duas estavam em silêncio há um tempo, desde o abraço permitido por Miss Fortune. No entanto, Vi não sentia falta de nenhuma troca de palavras entre elas naquele momento. O silêncio era uma parte importante daquele entendimento, um espaço onde ambas pareciam se aceitar novamente, sem a necessidade de mais explicações.

- Você não precisava ter feito aquilo. – Sarah murmurou de repente. – Não depois do que eu fiz com você.

Vi ergueu os olhos lentamente, observando o perfil da Capitã ao seu lado.

- Você fez o que precisava fazer. – Ela respondeu. – E eu também.

Miss Fortune tombou a cabeça contra a parede atrás dela e virou o rosto para Vi.

- Eu te condenei à prancha.

- Você pediu ao mar que me protegesse.

- E quem disse que isso era garantia de qualquer coisa? – Sua voz era baixa, serena, como se ela finalmente tivesse desistido de brigar. – Você poderia ter morrido.

- Mas não morri.

- Mas poderia. – Estava na cara que Miss Fortune não cederia naquela discussão. Vi tinha a sensação de que ela estava se culpando pelas próprias ações, e que ela, de alguma forma, precisava daquilo. Para dizer a verdade, talvez as duas precisassem. – Sabe o que mais me doeu naquilo tudo?

Vi esperou que ela continuasse, as vozes dos marujos preenchendo o silêncio.

- Eu pensei... – Prosseguiu Sarah, desviando o olhar. – Que você era perfeita demais, mas eu não podia te culpar por isso. Mesmo assim, eu estava sempre esperando que algo terrível viesse à tona. Sei lá, talvez descobrir que você não gostava de rum, algo ruim assim.

Vi se permitiu rir baixinho quando viu que Sarah fez o mesmo.

- Pra ser sincera, detesto Fúria do Leviatã. – Ela admitiu. Sarah balançou a cabeça levemente e se inclinou para mais perto dela para sussurrar:

- Eu também.

As duas riram outra vez, Vi admirando os traços de Sarah quando ela voltou a olhar para frente.

- Minha irmã é uma terrorista. – Vi contou, atraindo o olhar de Miss Fortune outra vez. – Muita coisa aconteceu com ela enquanto eu estava presa, e quando eu finalmente voltei, era tarde demais. Nós nos separamos da pior forma possível, e em um de nossos encontros, ela fez questão de me mostrar que tudo era culpa minha. A pessoa que ela se tornou, toda sua raiva. Foi tudo por causa do que eu fiz a ela. A única coisa que me restava era proteger as pessoas dela, do monstro que eu criei. Por isso me juntei aos Defensores. Não me restava mais nada.

Corações de SentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora