16. Desarme Rítmico

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O dia que se seguiu foi bem mais leve do que Vi esperava, mesmo com aquela tensão palpável entre ela e a Capitã. Embora evitassem qualquer contato visual, Vi passou um tempo na oficina da loja, observando Alaric e Sarah trabalhando. Não era surpreendente que Miss Fortune também soubesse tudo sobre consertar barcos, e a Defensora mais uma vez se pegou admirando as habilidades da jovem pirata. Alaric também estava nutrindo um sentimento de ternura por ela, oferecendo-se para ensiná-la sobre o trabalho e se mostrando eficiente em manter o ambiente divertido. Inevitavelmente, Vi passou quase o tempo todo ao lado da Capitã, e era irritante como sentia o rosto corar sempre que trocavam um sorriso, mesmo que sem querer.

As advertências de Jayce pesavam em sua mente a todo momento, lembrando-a de que tudo estava chegando ao fim. Por um lado, a Defensora se sentia aliviada por saber que, mais uma vez, conseguiria jogar aqueles sentimentos para baixo do tapete e seguir sua vida como se nada nunca tivesse acontecido. Por outro, ela ainda se sentia frustrada por nunca saber até onde aquilo iria. Se tivessem um momento como aquele outra vez, cederiam? Miss Fortune também estava pensando nela daquela forma? De qualquer maneira, a cidade natal da Capitã ficaria marcada na memória da Defensora de um jeito que ela nunca imaginou, assim como a própria Miss Fortune.

Ao anoitecer, Vi acompanhou Alaric e a Capitã até a praia, onde tudo estava transformado para o festival das Marés Brilhantes. Por toda sua extensão, barracas de madeira enfeitadas ofereciam desde comidas típicas até artefatos artesanais. Pequenas fogueiras pontuavam a areia, ao redor das quais grupos de pessoas riam e contavam histórias. Crianças corriam e soltavam lanternas flutuantes que subiam lentamente em direção ao céu estrelado, e eram tantas que uma aconchegante luz dourada recaía sobre a praia. As ondas do mar quebravam em explosões azuis, como se estivessem iluminadas por magia. Aquilo era um evento único, completamente alheio à agitação de Piltover e a dureza de Águas de Sentina, e Vi estava fascinada com tanta cultura.

Enquanto provavam os petiscos de cada barraca por onde passavam, aproximaram-se de uma fogueira um pouco mais movimentada, com muitas pessoas em volta atentas a uma história narrada com vozes e música. Miss Fortune lhes ofereceu um olhar encorajador e avançou para chegar mais perto, abrindo passagem até um casal que tocava, cantava e dava voltas pela fogueira em uma interpretação calorosa.

- Lembrem-se, lembrem-se! – Dizia a mulher ao público. – Lembrem-se de como tudo começou.

- Ah, sim! Eram tempos terríveis. – Clamava o homem, tocando seu acordeão. – Noites de tormenta, que fúria violenta! Ondas gigantes, ventos furiosos, deixavam os moradores dessa vila pra lá de ansiosos!

- Um velho pescador a um temido pirata se uniu, e uma oferenda ao mar ele então pediu. – A mulher cantarolava. – Fogueiras acesas na areia brilhavam, danças e lindos cânticos ecoavam.

- Lanternas de conchas eram ao mar lançadas, pedindo proteção às águas encantadas. – O homem saltitava em volta da fogueira, seus trejeitos e seus acordes arrancando algumas risadas. – Até que a magia finalmente tomou conta do ar, e as grandiosas tempestades começaram a se acalmar.

- O tormento finalmente se dissipou, e a vila milagrosamente se salvou. – Revelou a jovem. – O festival das Marés Brilhantes nasceu, para honrar o pescador e o pirata pelo milagre que aconteceu.

- Lanternas flutuantes pelo céu a brilhar, agradecem aos espíritos que vieram ajudar. Fogueiras e danças mantém a tradição, unindo todos em uma só canção!

Os aplausos calorosos da plateia ecoaram pela praia. Vi bateu palmas mais forte que todos, completamente envolvida por aquela celebração. Ela sorriu para Miss Fortune, cujo rosto refletia uma alegria de encher o coração. A Defensora sentiu sua respiração se acelerar enquanto demorava o olhar na Capitã, o peito cheio de gratidão. Era queria agradecê-la por ter lhe dado a oportunidade de vivenciar algo como aquilo, mas quando abriu a boca para falar, alguém puxou Miss Fortune pela mão para o centro da roda. Era um grupo de crianças tagarelas que pareciam muito interessadas nas histórias de navegação da Capitã.

Corações de SentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora