15. Atordoamento Certeiro

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Já fazia um bom tempo que Vi ignorava os próprios sentimentos, certa de que em algum momento eles sumiriam. Foi assim com Caitlyn, e seria assim com Sarah. Ela sabia quando podia se permitir um envolvimento casual, algo que durasse por uma noite e terminasse ao amanhecer. Se fosse somente aquela atração proibida, aquele desejo urgente, talvez nada a impedisse de buscar por isso. O Conselho sequer ficaria sabendo, e não faria mal a ninguém. Muito pelo contrário...

Mas não se tratava mais disso.

Para começar, Vi não se envolvia em casualidades desde que rompera com Caitlyn, e o assunto ainda era motivo para perturbações. Só de pensar ela já sentia as mãos suarem. Além disso, Sarah não era só uma atração, e ela sabia bem disso. Talvez os sentimentos que estivesse nutrindo pela Capitã a levassem para uma época em que ela detestava os Defensores e jamais concordaria em trabalhar com eles, uma época em que fazia dela mesma uma criminosa.

No fim das contas, Vi concordava com Alaric. Como ela poderia dizer que a Capitã não deveria buscar pela vingança de seus pais? O Conselho a queria presa pela vida que levava, a própria Vi a queria presa, voltar atrás e ficar do lado de Miss Fortune estava fora de cogitação. Ainda assim, não era justo. Sarah não escolheu nada daquilo.

Vi precisava colocar a cabeça no lugar, e não deveria ser tão complicado. A primeira coisa que precisava fazer era se livrar daquela culpa de uma vez por todas – a culpa de olhar para alguém com outros olhos –, e com a certeza de que encontraria uma bela donzela em alguma taverna àquela hora, Vi decidiu fazer uma parada antes de chegar ao navio para contatar Jayce. Enquanto pedia por uma bebida forte e se sentava a uma mesa, Vi se lembrou da moça que lhe pagou uma cerveja na Cidade dos Ratos, e se sentiu constrangida pela forma como agiu. Dessa vez, decidiu que faria tudo diferente. Se estava voltando a ter sonhos daquele tipo, talvez fosse a hora de parar de ignorar aquela urgência em seu peito. Vi não era idiota, ela sabia que chamava a atenção das garotas, e naquele momento, decidiu se aproveitar disso.

Não demorou, é claro, para abandonar a ideia. Ela recebeu muitos olhares, retribuiu quase todos, mas a sensação era de um vazio a que ela não precisava se submeter. Por isso, acabou voltando para o navio sozinha.

Ainda estava escuro, mas Jayce não podia se dar o luxo de dormir, e Vi o contatou pelo dispositivo sem culpa. As mãos tremiam um pouco, e ela se deu conta de que temia que quem a atendesse fosse Caitlyn, mais uma vez vestida com uma fina camisola denunciando um sono ao lado do Conselheiro.

Não importava. Não devia importar.

Mas Jayce atendeu com urgência, com uma expressão beirando o desespero. Bem, não era para menos. Talvez àquela altura, a Defensora já tivesse sido dada como morta.

- Puta merda! – Disse ele, ridiculamente aliviado. – Vi, eu estava mandando Piltover inteira atrás de você até Águas de Sentina!

Vi sorriu. Eles nunca foram inimigos, embora também não fossem fã um do outro.

- Não faça isso, bonitão. Vai estragar meus esquemas.

- Que porra aconteceu?! – Ele questionou. – O navio não pôde continuar quando vocês seguiram para as Ilhas.

- Não esquenta, deu tudo certo. Só tivemos um pequeno probleminha. Mas eu tô viva, a Capitã tá viva, e logo seguiremos pra Demacia.

Jayce balançou a cabeça.

- Esqueça Demacia.

Vi franziu o cenho.

- Como é?

- Você precisa voltar para Águas de Sentina o mais rápido possível. Gangplank retornou à cidade. – O chefe do Conselho suspirou. – Precisamos encerrar essa missão, já a expusemos a riscos demais, a Xerife estava certa. Você precisa recuperar o cristal e retornar à Piltover o quanto antes.

Corações de SentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora