12. Salto de Salvação

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Gaivotas grasnavam ao redor.

Uma forte luz amarela atravessava suas pálpebras.

Ondas quebravam, o mar chiava.

Pouco a pouco, Vi voltou a si, certa de que estava no inferno. Faria sentido que estivesse condenada a uma eternidade em alto mar.

Para onde será que a Capitã fora?

Uma sombra cobriu seu rosto, o que lhe encorajou a tentar abrir os olhos. Estava tudo embaçado, tudo muito claro para suportar, mas ela insistiu. Piscou diversas vezes, sentindo o rosto protestar com os novos movimentos, e finalmente conseguiu abri-los.

- E aí! – Disse uma cara azul muito sorridente. – Vai uma mãozinha?

Fizz esticou o bracinho gosmento.

Só podia ser o inferno mesmo.

- Nem morta. – Respondeu Vi, refletindo que talvez fosse a primeira vez que dissesse aquilo literalmente. Ela se sentou aos poucos, sentindo muitas dores no corpo e na perna baleada que agora estava enfaixada. O céu estava perfeitamente limpo, o calor era agradável e o clima parecia bom. Ela olhou ao redor, para o navio de que se lembrava muito bem, e encontrou o corpo de Miss Fortune deitado ao seu lado. Ela encarou o Trapaceiro com um olhar muito confuso. – Nós não morremos?

Ele deu uma risadinha cheia de razão.

- Graças a mim, não!

Antes de continuar pensando sobre aquilo, Vi rastejou até a Capitã e a sacudiu pelos ombros. Depois do que passaram, fazia sentido torcer para que ela estivesse bem.

- Sarah? – Chamou ela, as lembranças dos últimos momentos das duas ainda muito nítidas. Mas, se estavam vivas, será que poderia chamá-la assim? – Capitã?

As pálpebras de Miss Fortune tremeram e ela abriu os olhos com muita dificuldade. Vi suspirou em alívio.

Sarah encarou o rosto da Defensora.

- Vi? – Depois olhou ao redor. – Eu morri?

A Defensora estava estranhamente contente por ela ter acordado.

- Parece que não, mas não sei se...

Sarah se lançou sobre ela em um abraço totalmente inesperado e apertado. Diante da surpresa, Vi levou alguns segundos para reagir, mas acabou retribuindo. Enfrentar a morte junto a uma pessoa parece mudar tudo; os últimos minutos naquela companhia são valiosos, o fragmento de vida em meio ao caos, o estranho alívio em poder baixar todas as guardas e expor as próprias sombras, permitir-se chorar como criança, segurar-se à luz da vida como se seguraram uma à outra naquele momento. De fato, compartilhar algo tão íntimo pode mudar tudo.

Miss Fortune se afastou para sorrir.

- Nunca pensei que fosse ficar feliz em te ver. – Muitas mechas vermelhas se soltavam de sua trança e caíam em seu rosto.

- Aw! Que bom que são amigas de novo! – Contemplou Fizz. A Capitã o percebeu ali pela primeira vez.

- Trapaceiro? – Olhou para Vi como se ela pudesse ter alguma resposta, mas tudo o que a Defensora fez foi dar de ombros. – O que aconteceu, afinal?

- Ah, eu não queria me gabar, mas já que vocês insistem... – O Trapaceiro deu de ombros. – Eu salvei vocês.

- Nos salvou? – Vi e Miss Fortune disseram ao mesmo tempo.

Depois, Vi questionou:

- Por quê?

E a Capitã completou:

Corações de SentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora