30. Âncora ao Inferno

63 8 2
                                    

- Ai, ai! Toma cuidado! – Caitlyn fez uma careta de dor.

- Eu ainda nem fiz nada. – Disse Vi.

- Ah. Tá bem. Vá em frente. – A Xerife puxou o ar pelos dentes quando Vi encostou o algodão encharcado de álcool no ferimento em sua testa. – Por que o pós é sempre pior?

- Porque a adrenalina já foi embora. – A Defensora limpou o sangue cuidadosamente.

- Faz sentido. – Caitlyn observou enquanto Vi abria um band-aid e o pressionava no machucado para cobri-lo. Sabendo muito bem que a Defensora ainda não estava muito feliz, arriscou uma piada: – Você devia ter visto a outra garota.

- A outra garota pegou leve com você. – Respondeu ela, muito séria. Ela pegou um novo algodão para limpar a ferida na maçã do rosto da Xerife.

- Espera que eu agradeça? – Vi fez uma pressão um tanto desnecessária. – Ai!

- Eu espero que você me dê um motivo pra não fazer o mesmo.

As duas estavam na cabine do navio de Piltover, um cenário um tanto contrastante com a insalubridade de Águas de Sentina. Era tudo muito claro, limpo demais e cheio de parafernálias tecnológicas. As paredes metálicas brilhavam sob a série de lâmpadas brancas embutidas no teto. Caitlyn se sentava em uma cadeira estofada ao lado do painel de comunicação, que também servia como uma mesa de apoio para os materiais de primeiros socorros que Vi utilizava.

- Devo mesma lembrá-la que recuperar o cristal era a sua missão? – Disse Caitlyn.

Vi decidiu se ocupar em guardar tudo de volta na maleta para não encarar a Xerife.

- Não estou falando disso. – Sua intenção não era fugir da própria responsabilidade, mas não era por onde ela queria começar. – Você mentiu pra Sarah, e mentiu pra mim. O que teria acontecido se tivesse conseguido abrir o cofre e ela descobrisse tudo na hora? Aí sim ela poderia ter te matado. Não pode chegar aqui achando que sabe lidar com esse tipo de gente. Não estamos em Zaun.

- Você teria ido comigo se eu tivesse dito? – Caitlyn perguntou. – Você não está exatamente preocupada com o cristal, não é? Eu sei que o que sente por ela é verdadeiro, você está visivelmente apaixonada, mas...

- Cala a boca.

- Não, Vi. Eu estou falando sério. – A Xerife se levantou, cheia de intenção agora. – Recuperar o cristal hextec significa encerrar a missão e ir embora, deixá-la. Você não quer isso. Eu arriscaria até dizer que você a ama.

- Cala a boca. – Mas a voz de Vi não passava de um murmúrio. Ela não tinha forças para negar.

- Tá bem, digamos que não seja isso. – Caitlyn ergueu as mãos, como se estivesse se rendendo. – Digamos que você só tenha abandonado sua missão como Defensora de Piltover para ajudar uma pirata a se vingar do assassino dos pais dela, e encontrar uma forma de libertá-la de um contrato que levará sua alma, só porque, não sei, ela é uma amiga querida.

- Não sabe do que está falando. – Grunhiu Vi.

- Não sei? – A Xerife franziu a testa. – Bem, então me diga. Por qual outra razão você pareceu tão desesperada ao vê-la daquela forma hoje? Por que a chama de minha menina, por que ela te chama de perolinha? Por que age com tanta doçura com ela? Eu não sou idiota, Vi. Sei muito bem o que está acontecendo. Já vi isso antes.

A Defensora permitiu que a Xerife visse seus olhos derrotados. Ela sentiu lágrimas arderem diante das palavras de Caitlyn, pois sabia que ela estava certa sobre tudo, e não havia para onde fugir. Ela estava encurralada.

Corações de SentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora