Manhã vai trazer de volta o amanhecer
Minha alma quebrou novamente
Mais uma vez
Eu vou andar nessa estrada sozinhoDor - Clouds
Pesadelo é a palavra que melhor descreve minha vida. Ainda com os olhos fechados, tento me mexer. Já se passaram vinte minutos desde que acordei, mas evitar encarar a realidade é tudo que quero. O medo de estar em um hospital, como na última vez me consome. Não estou preparada para ter outro surto diante de alguém.
Algo pegajoso lambe meu rosto, e sinto um peso sobre minhas pernas.
Mas que inferno está acontecendo aqui?
— Até quando vai fingir que está dormindo? — diz uma voz. — Pode abrir os olhos, Lissa. Você não está em um hospital. — Meio hesitante, abro um olho e vejo Guilherme ao meu lado, na cama. — Olha só quem veio te visitar!
Abro os dois olhos, e vejo Amora e Kira ao meu lado.
Amora e Kira.
Ao tentar sentar, uma dor aguda atinge minha cabeça, mais precisamente na nuca.
Passo a mão na cabeça dos meus bichinhos, e sorrio, senti tanta falta delas.
— Victoria, onde ela está? — Consigo me sentar com a ajuda de Guilherme, enquanto minha gatinha Amora se aconchega perto da minha barriga e Kira põe a cabeça em meu colo.
— Victoria está no outro quarto e não se preocupe, ela está bem. — Guilherme se aproxima com um copo d’água e um comprimido. — Yun disse para tomar isso quando acordasse. Toco minha cabeça, gemo de dor ao sentir um galo na nuca.
— Aquela desgraçada. — Murmuro, lembrando que foi Alexia quem me atingiu na cabeça. — Você viu Alexia, não viu?
— Sim. — Ele assegura, balançando a cabeça.
— Eu preciso ver Victoria. — Levanto-me cuidadosamente da cama depois que tomei o remédio, Guilherme tenta me convencer a descansar, mas tudo que realmente preciso é verificar se ela está bem. Ela se machucou por minha causa.
Dirijo-me à porta, hesito em abri-la, pois tenho certeza de que este é o quarto de Nicholas, apesar de nunca ter entrado aqui antes.
Suspiro profundamente, esperando que seja Nicolle, minha mãe, ou Yun aqui com ela, e não ele.
Ao abrir a porta, vejo Vick deitada na cama, com um soro na veia, e Nicholas sentado ao seu lado. Ele olha para mim, e por um momento, hesito, lembrando daquele vídeo.
Desvio o olhar para Victoria, pensando que ela não deveria estar nessa situação, naquele lugar, naquela hora. Começo a chorar, sem me importar que ele me veja. Mordo o lábio inferior, tentando conter os soluços.
— Por que não a levaram para o hospital? — Aproximo-me dela, sentando-me na beirada da cama tocando sua mão.
— Se a levassem para um hospital, os pais dela já saberiam, e estaria com ela agora. Yun já cuidou dela. — Toco seu rosto delicadamente e me certifico de que ela ainda respira pelo movimento de seu peito. — Ela está apenas dormindo.
— Eu sei. — Sussurro, lutando contra a vontade de chorar ao pensar que quase perdi Victoria.
Recuperei quase todas as minhas memórias daquela noite, enfrentei aquele pesadelo novamente. Minha cabeça está confusa, preciso de um momento sozinha.
— Melissa. — Sua voz soa pesada, talvez por culpa ou remorso.
— Não, não agora. Preciso ficar sozinha. — Saio do quarto, fechando a porta atrás de mim, e corro em direção ao meu quarto.
Agora que reparei, estou com a mesma roupa de ontem, coberta de sangue. Me encaro no espelho antes de ir até as gavetas e pegar uma tesoura. Começo a cortar minha roupa, não me importando em me machucar.
Isso tudo é culpa minha. Victoria se machucou, meu pai morreu, Alexia, que está viva, e eu me culpando pelos últimos três anos por ter chegado tarde quando ela me pediu ajuda.
Isso precisa parar. Para sempre.
Sinto uma dor no peito, meu corpo tremendo, meu coração batendo rápido a cada vez que tento respirar é quase insuportável. Dirijo-me ao banheiro, mal sentindo minhas pernas, ligo o chuveiro na água fria e entro debaixo da ducha.
Não quero isso, todos que se aproximam de mim acabam se machucando ou mortos. Não quero que Victoria morra, não quero que mais alguém se machuque por minha causa.
Sento no chão, encolhida, abraço meus joelhos contra o peito e começo a beliscar meus braços e me unhar.
Eu quase fui estuprada e, para evitar isso, tive que matar. O pior é que não me arrependo de nada, não sinto remorso pelo que fiz, mas o nojo por mim mesma é inevitável.
Esfrego freneticamente as pernas, os braços e, principalmente o pescoço, onde ele mais tocou.
— Não faça isso. — Nicholas entra correndo no banheiro e aproxima-se de mim, sem se importar em se molhar. Ele deveria saber que ele é a pessoa que menos quero ver agora. — Melissa.
— Me solta! — Grito, tentando me afastar, mas ele segura meus braços firmemente, impedindo-me de continuar.
— Se acalme. — Detesto o fato de que, apenas sua voz me acalma e sua presença, de alguma forma, me tranquiliza. Mas agora, não quero que isso aconteça. Quero que ele desapareça.
— Por quê? — Soluço. — Por que você fez isso com ela? Você continuou, mesmo ela pedindo que não... você... a estuprou.
— Eu sei. — Nicholas chora, seus olhos vermelhos e a voz rouca. — Eu sei que sou um monstro.
— Eu contei sobre Sofia, contei como ele a machucou. Eu falei para você. — Passo as mãos pelo rosto, limpando as lágrimas que continuam a cair. Ele não me impede quando me afasto, dando dois passos para trás. — Meu Deus, você a machucou. E, fazendo isso, me machucou também, porque eu tive que ver tudo, todo o mal que você causou a ela.
— Deixe-me ao menos explicar!
— Qual explicação? Que você fez para me salvar? Para impedir que seu pai me matasse? — Abraço-me, sentindo a dor dos machucados.
— Eu sinto muito. — Ele dá um passo em minha direção.
— Não se aproxime... — Afasto-me enquanto ele se aproxima mais, me encurralando entre ele e a parede.
— Eu sinto muito! — Ele sussurra novamente, colocando as mãos na parede, de cada lado do meu corpo. — Eu não tive escolha. — Encosta sua cabeça na parede, ao lado da minha. — Eu sinto muito.
Imóvel e sem conseguir respirar, ele está tão perto. Sua testa encostada na minha e fecho os olhos, sentindo sua respiração se misturar com a minha.
— Eu... eu não quero te ver... — Sussurro, sentindo seus lábios roçarem os meus levemente. — Eu..
— Eu sei. — Ele passa a língua pelo seus lábios antes de me beijar. Um beijo triste, doloroso e...
.... o último.
🌷
Novamente me encontro naquele lugar escuro, sozinha, tremendo de frio, enquanto choro pedindo que pare. Mas não é o mesmo homem que tentava me abusar antes, é Nicholas...
Ele está sobre mim, sorrindo.
Um sorriso psicótico e divertido em seu rosto; ao contrário da vida real, ele conclui o que pretendia fazer.
Acordo assustada e suada, sentindo a cabeça latejar de dor, certamente por causa do golpe que Lexi me deu. Aquela desgraçada ainda vai pagar. Primeiro preciso saber onde ela está, e conhecendo-a bem, sei que vai aparecer quando quiser.
Saio da cama e vejo minha cachorra Kira dormindo no chão e minha gatinha no meu cantinho perto da janela. Não tive tempo para lhes dar atenção. Aproximo-me primeiro de Kira, acariciando sua pelagem macia, mas ela nem acorda. Vou até minha gatinha, que levanta a cabeça assim que me aproximo.
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After the truth
Fanfic{+18} CONCLUÍDA Melissa McKenzie, sequestrada aos treze anos de idade, teve suas memórias apagadas após um acidente. Agora, ela se encontra diante de duas opções: seguir em frente ou desvendar o passado em que seu pai foi assassinado. A partir des...