Hoje eu vou contar uma coisa que nunca contei a ninguém: tenho medo de avião.
É um segredo meio óbvio, já que todas as pessoas que dividiram cabine comigo perceberam. Mas de acordo com a minha situação no momento, não creio que reconheceria se os visse novamente.
Então, você pode imaginar minha expressão ao entrar no avião particular da Darcy Media Group naquela tarde acinzentada de sexta-feira.
Apertei minha bolsa contra mim enquanto me aproximava do avião, como se ela pudesse me empurrar até lá. Soma-se isso ao fato de o Darcy estar ao meu lado, conversando pelo celular com um dos acionistas da empresa.
Assim que entramos no avião, a aeromoça colocou nossos cintos e deu o discurso que as aeromoças costumam fazer - que nunca prestei atenção porque estava ocupada observando a janela do terraço da Darcy Media Group.
Repeti a mim mesma que estava tudo bem, afinal aviões são bem mais seguros que carros e eu não tenho medo de carros.
- Você está bem, senhorita Fischer?
Virei a minha cabeça e dei de cara com o Oliver. Eu havia me esquecido de como estávamos próximos naquele momento, como nunca estivemos antes.
Os nichos de barba loira no queixo do meu chefe fez com que eu esquecesse por momento do lugar em que estávamos.
Eu comprimi meus lábios e assenti, para não correr o risco de não conseguir conversar direito.Decidi que olhar para a janela só me deixaria mais enjoada, então centrei meus olhos na poltrona da frente, inabitada.
Olhei sem piscar até minha visão ficar embaçada.
Lá dentro, eu podia escutar as vozes dos pilotos conversando. Tentei acompanhar a conversa, mas tudo que me vinha à cabeça era a palavra avião, tornando meus sentidos menos apurados.
Um dos pilotos apareceu e cumprimentou o Darcy. Reconheci-o pelo uniforme azul-escuro que vi mamãe passar durante toda minha infância e parte da adolescência.
Ele era jovem, devia ter mais ou menos uns trinta e dois anos, a pele branca e olhos azuis sonhadores que talvez seja a característica mais marcante dos pilotos que conheci durante minha vida. Papai, por exemplo, tinha o mesmo brilho nos olhos, embora não fossem azuis e sim castanhos.
Eu sorri rapidamente para o homem e depois olhei para os meus pés, sentindo-me cada vez pior. Comecei a apertar a palma de minha mão.
Não vi o homem saindo dali.
Não vi o tempo passar.Por isso, quando o avião começou a alçar voo, meu coração acelerou como se fosse saltar pela boca e a garganta, numa tentativa de prendê-lo, criou uma espécie de parede que esquentou todo o meu corpo. Eu senti que estava prestes a desmaiar se não saísse dali naquele momento.
Então deitei minha cabeça na poltrona, fechei meus olhos e respirei profundamente.
- Fischer? - Darcy repetiu novamente.
Abri meus olhos e vislumbrei sua imagem me encarando com uma espécie de preocupação, ou seria susto por me ver daquele jeito? Meu Deus, eu devia estar parecendo uma mulher entrando na sala de parto, só que sem a barriga e os gritos histéricos.
Busquei um pouco de voz para dizer:
- Sim, é que tenho medo de avião.
Existem certos medos que você tem vergonha de admitir, porque parecem banais para a maioria das pessoas, como aquelas pessoas que pânico de elevador, de cavalos e aviões, no meu caso.
Observei-o voltar a sua expressão de paisagem cotidiana. Devia estar pensando no quanto sou idiota por ter medo de avião...
- Quantos medos você tem, senhorita Fischer?
Ergui uma das sobrancelhas. Ele continuava sério, mas algo em sua expressão demonstrava uma espécie de humor. É claro que o Darcy estava se divertindo com aquela situação, afinal ele matou todas as aulas de boas maneiras no jardim de infância para aprender a intimidar pessoas pelo mundo.
Revirei os olhos.
- Apenas dois - respondi, secamente.
- Interessante.
Interessante é a minha vontade de te jogar pela janela do avião.
Fechei meus olhos novamente e tentei cantar uma música qualquer mentalmente. A primeira que me veio á cabeça foi Don't stand so close to me, do The Police começando pelo refrão:Don't stand, don't stand so
Don't stand so close to me
Don't stand, don't stand so
Don't stand so close to meColoquei minha mão sobre a calça jeans, dando-me conta de como estava trêmula.
- Fischer, você quer que eu chame a aeromoça?
- Não - respondi com os dentes cerrados - Eu fico assim no início, mas depois me acalmo.Só que minha voz soou um pouco (na verdade, muito) mais trêmula.
Senti que respondi mais alto que devia, mas tudo bem, aquele não era o momento de pensar nisso.
Foi então que aconteceu: senti algo quente tocar minha mão e depois apertá-la, transferindo seu calor para mim. Levantei minha cabeça, abalada demais para acreditar no que achava estar acontecendo, mas logo comprovei que, sim, a mão direita do Darcy estava sobre a minha, fazendo força para que eu parasse de tremer como se estivesse pressionando a ferida de um doente.
Passei a língua pelos lábios, já que senti-los ficando secos e olhei para o Darcy. Ele olhava para a televisão que estava em nossa frente, como se nada estranho tivesse acontecendo ali.
Ou pelo menos estava fingindo.
Confesso que o primeiro impulso que senti foi de pedir para que ele parasse de me tocar. Eu estava muito nervosa para procurar entender a bipolaridade do meu chefe e o ódio que eu sentia por ele parecia dominar qualquer resquício de bom senso que me restava naquele instante.
Mas logo o calor de sua pele foi espalhando pelo meu corpo, como se alguém estivesse me colocando no colo e cantando uma cantiga para eu dormir. Senti os choques daquele contato se transformando em um calor agradável e até prazeroso.
Um tempo depois ele adormeceu, mas suas mãos continuaram em cima da minha durante o tempo todo.
Como se ela estivesse no lugar certo.
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Como suportar Oliver Darcy - COMPLETA
Любовные романыPLÁGIO É CRIME. Julia Fischer conseguiu o tão sonhado estágio da Darcy Media Group, uma das maiores empresas de arquitetura do país. Faltando apenas dez meses para adquirir seu diploma em Administração, ela está mais focada do que nunca no trabalho...