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Cheiro de uísque mesclado à lavanda.  Sua mão, áspera demais para um executivo,  abriu o zíper  do meu vestido vagarosamente, sem vestígio do lado animalesco que eu imaginava que ele teria... Ele me contemplava enquanto me despia, olhando diretamente nos meus olhos.

Enquanto a gente se beijava, eu conseguia sentir o calor de seu corpo largo, rígido e o cheiro de perfume caro exalado da sua pele, que misturado ao seu suor, conseguia ficar ainda mais excitante.  Enquanto ele me tocava, não pensei no quanto bizarro aquilo poderia ser no dia seguinte, que estávamos quebrando uma regra importante – o profissionalismo que nos uniu até ali – e todas as implicações que aquele sexo poderia ter, principalmente para mim.

Eu só pensei em como eu havia desejado aquele momento, não em pensamentos porque jamais me atreveria pensar no Darcy daquela maneira, por mais tentador que ele fosse.  Depois de condenados, eles foram para o subconsciente em forma de emoção.  Quando ele disse meu nome, quando ele apertou meu corpo contra o dele, quando ele me penetrou, foi como se eu já tivesse imaginado aquelas sensações milhares de vezes, mas nenhuma – de fato – foi tão boa quanto a realidade.  Um daqueles raros momentos que a vida supera nossa imaginação. 

Então eu acordei. 

Antes sequer de abrir os olhos, me perguntei se estive sonhando todo aquele tempo ou se realmente foi real.  Minha cabeça respondeu imediatamente, com fortes lampejos de dor na testa e nos olhos.   Droga de ressaca.

Então, eu me lembrei.

Da festa, dos rostos da família Darcy, da garota ruiva que conversava com ele com intimidade enquanto eu os observava distante, do sarcasmo do Michael, do momento que o Michael abandonou o sarcasmo e me falou alguma coisa sobre confiança, o que era mesmo?  Do Darcy me encarando com aqueles olhos que mais pareciam duas brasas de fogo, e depois dele segurando meu braço e me puxando sem dizer nada.  Do sentimento de revolta, de humilhação e de raiva, quanta raiva!   Da hora que o uísque saiu pela minha boca em forma de palavras, ou melhor, verdades, ditas da maneiram mais idiota que uma empregada poderia dizer ao patrão, de eu nem me importar com isso.  De sua frase quebrar meu corpo como um acidente faria, e depois me fazer ressurgir – acompanhada de um desejo maior que eu.  Do beijo, o tão sonhado beijo e depois a minha casa.

MEU DEUS!  Eu transei com meu chefe... Há algumas horas, naquela cama.  Só então, percebi que meu corpo estava despido e cansado, como uma pessoa fica depois de ter transado loucamente durante a madrugada inteira.   Só então, ousei abrir meus olhos e encarar a imagem do Oliver na minha cama.   Mas ele não estava ali.

Olhei ao redor do quarto, procurando algum vestígio de sua presença.  Mas não havia nada ali, além do meu vestido, sapatos e peças íntimas espalhadas pelo chão.  Levantei imediatamente, abri minha gaveta e procurei alguma roupa que pudesse ser vestida facilmente.  O espelho acima da cômoda mostrou-me uma Julia com os cabelos encaracolados novamente e grandes borrões pretos abaixo dos olhos.  ARGH, odiei não ser como aquelas mulheres que acordavam lindas e deslumbrantes, mas aí lembrei que elas só existiam nos contos fadas ou histórias do Nicholas Sparks.  Vesti um de meus roupões e sai do quarto.

E tudo que encontrei foi a Grace e o Brian, sentados no sofá, comendo lasanha de supermercado enquanto assistiam a um programa de auditório.  Parei  na porta da sala, desejando que eles não tivessem me visto para poder voltar para o quarto furtivamente, mas fui desiludida com o olhar da minha amiga, que logo se intensificou em meu cabelo e rosto.

― Julia? O que aconteceu com você?

É claro que sua pergunta despertou o namorado, que também olhou para mim, com um semblante de curiosidade.  Eu acenei um "alô" sem graça e sorri.

― Vou voltar ao meu quarto ― falei, me curvando.

Voltei pelo corredor, sentindo meu coração ser esmagado por uma pedra imensa.  Era bem óbvio que o Darcy não estava ali, caso contrário a Grace não estaria sentada no sofá daquele jeito como já a vi milhares de vezes com dezenas de caras diferentes.  Não a julgar pelas piadas que ela já fez sobre meu desejo secreto de transar com o Oliver.  Mas já que ele não estava ali, pra onde fora?  E por que, droga... Ele não se despediu?  Será que foi tão ruim assim, a ponto de ele fugir da minha casa depois de acordar?

― Agora você vai me contar o que aconteceu na festa.

Eu me virei rapidamente e dei de cara com a minha amiga, encarando-me com os olhos acrescidos e a boca entreaberta.  Revirei os olhos, sabendo que seria impossível expulsá-la do meu quarto.   Abri a porta e convidei-a para entrar.

Grace deu uma longa observada pelo quarto, parando no vestido preto e a calcinha de renda espalhada no chão, e então abriu a boca.

― Não brinca.

Revirei os olhos e coloquei as mãos entre os bolsos do roupão.

― Grace...

― Quem você trouxe para cá?  Por favor, me diga que foi um empresário quase tão gostoso quanto o seu chefe. 

Eu abaixei os olhos e sorri, sentindo a tristeza crescer dentro de mim.

― Você viu alguém aqui? 

― Não, eu cheguei com o Brian há mais ou menos duas horas, dormi na casa dele ontem... ― ela colocou a mão na boca e sibilou ― Ele me apresentou para a família ontem, Jules, você pode acreditar nisso?

― Que ótimo, mas você não notou nada diferente? ― suspirei profundamente e sentei em minha cama. 

― Não, quer me contar o que aconteceu agora?

Senti meus olhos arderem e olhei para o teto, na esperança de mandar as lágrimas para o lugar de onde elas sairiam, antes que eu parecesse ainda mais patética em frente minha melhor amiga.

―  Grace, eu acho que cometi o maior erro da minha vida.


Tadinha da nossa Jules, o que você achou do capítulo?

Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora