25

60.6K 5.2K 1.3K
                                    

Eu ainda esperei que ele ligasse, mandasse uma mensagem ou e-mail, mesmo que fosse estritamente profissional.  Queria algum sinal que me revelasse que o que eu estava prestes a fazer seria, no mínimo, burrice.  Mas por outro lado, não poderia dormir mais uma vez com a garganta entalada e a cabeça cheia de dúvidas.  Precisava entender suas motivações para agir de todas aquelas maneiras comigo e mesmo que resposta fosse decepcionante, eu saberia a verdade.

Esperei que desse oito horas da noite, horário que em que o Oliver costuma estar em casa na sexta-feira e dirigi até a Rua Bellamy Road, criando diálogos imaginários para a nossa conversa.  Pensei em começar culpando-o das últimas noites de insônia para depois chama-lo de estúpido e de outros adjetivos ofensivos.  Aumentei o volume do rádio do carro, que tocava uma balada dos Bee Gees que de nada combinavam com aquele momento. Mas mesmo assim, eu precisava de alguns distrativos para não dar a meia volta e ir para casa.

Dessa vez você será corajosa, Julia Elisabeth Fischer – falei para mim mesma, apertando o volante contra meus dedos.  E antes que eu percebesse, lá estava o prédio no qual eu havia deixado Abigail, há alguns meses atrás;

Desliguei o carro e olhei para a varanda do Darcy, que estava acesa.  Concentrei-me em minha respiração.

Para dentro e para fora.

Para dentro e para fora.

Respirei fundo e tirei o celular do meu bolso.  Procurei o número do Darcy e apertei-o rapidamente, antes que desse tempo de me arrepender, coloquei-o na orelha e fiquei esperando que ele atendesse.

Pensei que o Darcy não fosse me atender, depois do mesmo barulhinho se repetir dez vezes, houve um silêncio e depois...

— Fischer — ele disse, rapidamente.

Havia dias em que eu não escutava sua voz e muito menos o via pessoalmente.  O Darcy era bom em ser insuportável, mas era ainda melhor se camuflando. Respirei profundamente mais uma vez, para que minha voz não soasse frágil como ele espera que eu esteja.

— Preciso falar com você.

— Me procure amanhã, às oito horas.

— Não, eu estou aqui embaixo.

Houve um silêncio inquietante e imaginei que ele estivesse indo até a varanda para conferir se o meu carro realmente estava estacionado em frente ao seu prédio.  Escutei-o suspirar, antes de dizer qualquer coisa.

— Entre — disse e desligou, o que é habitual.

Eu sai do carro e tranquei-o, coloquei a chave em meu bolso e me dei conta de que aquela deveria ser a noite mais fria daquele ano em Nova York. Eu havia saído de casa com um, sobretudo preto acima de minha calça jeans e uma camiseta também escura, e ainda senti o vento eriçar os meus pelos e eletrizar meus ossos. 

Atravessei a rua fria e solitária até chegar ao prédio, sendo surpreendida por um porteiro com aparência de indiano, que sorriu antes de abrir a porta.   Passei novamente pelo prédio do Darcy sem prestar atenção em sua arquitetura, afinal, tudo ali me era familiar.

Assim que o elevador chegou, entrei e apertei o sétimo andar, sentindo-me menos corajosa do que nunca.  Balancei minha cabeça até que o medo se evaporasse, afinal eu não podia deixar que alguém me provocasse tantos sentimentos.  Não era saudável biologicamente e muito menos emocionalmente – eu sempre fui racional e iria estragar toda uma vida de autocontrole pelo Darcy?  Isso é sério, Julia Fischer?

O elevador parou e eu dei um passo para frente, ao mesmo tempo em que o sensor iluminou o ambiente.  Passei pelo corredor, procurando o número de seu apartamento, que já não me via a cabeça.   Mas por fim, o encontrei, um dos últimos do corredor e toquei a campainha.

Afasto meus pensamentos de qualquer distrativo e concentro-me no Darcy. Mas assim que ele abriu a porta e nossos olhares se encontraram, esqueci-me completamente do que iria dizer.

Oliver usava uma camisa preta sem estampa e uma calça de moletom comprida. Sua barba loira estava mais comprida que semana passada e seu olhar já não estava de alerta como é costumeiro.  Ele fez sinal para que eu entrasse e fechou a porta atrás de mim. 

Observei a sala de estar, procurando algum lugar para ficar.  Meu corpo inteiro estava tenso, como se algo muito ruim estivesse prestes a acontecer.  Toquei uma mesa vazia e virei para encara-lo, ainda estático na porta.

Foi impossível não perder o fôlego com sua beleza, por mais que eu já o tenha visto centenas de vezes – encará-lo daquele jeito, usando roupas comuns em um ambiente distinto me fez engolir todas as frases decoradas.  Eu estava começando a entender o porquê de ele me deixar assim, e não gostava nada da resposta.

— Por que você mentiu para mim sobre os sapatos? — sim, leitor, foi à única coisa que eu consegui pensar e dizer.

Oliver cruzou os braços musculosos, fazendo com que suas veias saltassem por baixo da pele.  Ele não respondeu, chegou a abrir a boca duas vezes, mas não respondi.  Eu arfei, finalmente a raiva estava vindo a tona novamente.

— Por que você me tratou como uma idiota todos esses meses? Por que nunca me dava bom dia ou boa tarde? Ou obrigada, quando eu fazia alguma coisa legal? Porque já assisti você se surpreender comigo milhares de vezes... Por que comprou esses sapatos e disse que foi sua irmã? Por que me convidou para ir a um jantar com você, em que os convidados eram apenas o seu pessoal... Seu de sua família, por que você me beijou e disse aquele monte de coisa? Por que deixou que eu acreditasse em você? Por que você transou comigo para depois ir embora sem dizer nada? Por que me tratou como se eu fosse uma das mulheres que vivem dando em cima de você e não merecem o mínimo sinal de confiança?

Foi difícil não gaguejar enquanto eu terminava a minha frase.  Vez ou outra, eu sentia meus olhos arderem e aumentava minha voz para não chorar.  Quando terminei, minha garganta doía e a voz já havia se transformado em rouquidão.   Respirei fundo, afim de recuperar meu fôlego, mas não tirei os olhos do Darcy.

Ele passou a mão pela cabeça e olhou para baixo, um sorriso melancólico brotou em sua boca, enquanto ele provavelmente pensava na resposta que me daria.  Fez-se um silêncio ensurdecedor, quando tudo que eu escutava eram meus batimentos cardíacos e a respiração acelerada.

Então, finalmente ele olhou para mim e nossos olhares se encontraram.  Ele não se moveu um centímetro.

—Fischer, eu fiz tudo isso porque estou apaixonado por você.

Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora