37

50.9K 3.7K 69
                                    

- Mãe, já disse que não quero festa!

Fiz força com os pés para que a cadeira na qual eu estava sentada pudesse girar. Rodopiei duas vezes até está de frente a mesa do escritório, repleta de papeis misturados aos convites de formatura.

- Esperei anos para ter ver numa beca novamente, Jules, precisamos comemorar.

- Tudo bem, nós podemos ir a algum restaurante depois.

Risquei o nome de algumas pessoas da minha família que não poderão comparecer a minha coleção.   No final, restaram apenas minha mãe, seu marido Bill (que não vejo desde o dia do seu casamento) e dois primos adolescentes.  Queria que minha avó materna pudesse vir ou algum membro da família do meu pai, afinal seria ótimo ter alguém para representa-lo - embora, claro, fosse impossível tampar o vazio de sua presença. Mas todos estavam doentes, ou seriamente comprometidos com alguma coisa.  Tentei não me importar e criei artifícios mentais para criar minhas próprias desculpas para o fato de mais da metade de minha família não comparecer a um evento importantíssimo em minha vida:

1)     Faz anos que não os vejo, não mando cartões postais de Nova York e não ligo nas datas comemorativas (com exceção da minha avó, claro). Então, acabei me tornando um daqueles parentes que você sabe que tem, mas mal conhece e não se importa.

2)     Precisa de desculpa melhor que a primeira?

Continuei negando a minha mãe sobre sua ideia de "comemorar minha formatura com estilo", alegando que não havia mais tempo para participar da festa que meus outros colegas estão organizando e que ela estaria além das minhas condições financeiras atuais.  Ela respondeu que pagaria tudo só para me ver em um belo vestido preto, que realçasse o meu "corpo de boneca" - nesse momento, revirei os olhos e me perguntei o que ela dirá quando perceber que emagreci mais de sete quilos desde que cheguei aqui.

Nesse momento, Conrad Darcy entrou pela minha porta, fazendo com que eu tomasse um belo susto.  Ele me cumprimentou com um aceno e eu disse um "preciso desligar" rápido para minha mãe, que não teve tempo de perguntar o porquê da pressa.

- Desculpe-me, senhor - eu disse, tentando organizar minha mesa que nunca estivera tão bagunçada como naquele dia - Em que posso ajuda-lo?

Conrad fez sinal de "não se preocupe".

- Tudo bem, imagino que a formatura esteja ocupando bastante tempo.

- O senhor não imagina - falei, suspirando alto - Não que eu esteja deixando os afazeres da empresa...

- Eu sei disso, Fischer, você é uma ótima funcionária - ele começou, se sentando na cadeira em frente a mim - Tão boa que foi difícil poupar elogios na carta de recomendação.

Então ele me entregou um envelope branco e lacrado, com o meu nome estampado em um adesivo.

Minha tão esperada carta de recomendação.

Tão desejada a ponto de ser difícil olhar para ela e não me recordar de todos os anos se resumidos na árdua dedicação para consegui-la.  Senti meus olhos arderem quando peguei o envelope e voltei minha atenção novamente para Conrad Darcy.  Apesar das marcas de expressão que lhe são característica da idade, seus olhos parecem tão jovens quanto o do filho mais velho.  Engraçado, que todas as vezes que eu imaginava aquela cena, era o Oliver que me entregava a carta - com expressão de tristeza por ter perdido sua âncora na empresa (isso acontecia quando eu sentia muita raiva do meu chefe).  Ou ex-chefe.

- Obrigada senhor Darcy, espero que o senhor saiba o quanto foi importante começar aqui.

Ele assentiu e tornou a se levantar.

- Espero que você tenha uma trajetória de muito sucesso e realizações - disse.

Eu assenti, emocionada demais para falar.  Esperei que Conrad saísse dali para começar a pular pelo meu escritório minúsculo, além de imitar coreografias da Beyoncé e soltar gritinhos agudos.  Finalmente, meu futuro estava em minhas mãos! Com aquela carta, eu conseguiria qualquer trabalho, além de empréstimos no banco, além do incremento incrível no currículo.

Coloquei o envelope na gaveta e fechei-a novamente.

Foi quando vi outro envelope cinza, com o nome da família Darcy escrito com tintas douradas. Eu nem consegui acreditar que meu chefe acabou de sair dali sem receber meu convite de formatura!

Revirei os olhos para eu mesma e peguei o convite.

Desliguei a luz da minha sala e tranquei a porta, para não correr o risco de ter visitas inesperadas como o Michael, a Rosalia ou mesmo a Grace.  Caminhar por aquele corredor de porcelanato branco e paredes beges e pensar que aqueles seriam meus últimos passos até a sala principal de toda a empresa, fez com que meu coração se apertasse - se transformando em uma semente de feijão minúscula.

Embora nem todos os dias tenham sido fáceis ali, eu amei cada um deles.  Amei fazer relatórios sobre os projetos que mais tarde aprendi a chamar de arte, a acompanhar o Oliver ou mesmo o Conrad até as obras e usar um daqueles capacetes de arquiteto que ficam incrivelmente sexys em qualquer pessoa, a enviar e receber e-mails, firmar contratos, mexer com papeladas intermináveis e cumprir horas extras mais que qualquer funcionária dali. Eu amei minha sala e sua vista incrível de uma Nova York que nunca tive oportunidade para conhecer - talvez por estar muito ocupada realizando meus sonhos. E amava o status que a Darcy Media Group me proporcionava, do quanto estar ali parecia elevar as pessoas a uma escala superior. 

Mas principalmente, eu amei estar com o Oliver por dois anos. 

E quando estava começando a pensar nele novamente, abri a porta do escritório e bom...

O homem alto e esguio, usando um terno cinza feito sob medida, estava de costas para mim, observando a cidade ensolarada pela sua enorme janela - que ia do teto ao chão.

Foi ali que meu coração começou a bater forte e ao mesmo tempo em que adrenalina foi liberada pelo meu cérebro, fui incapaz de me mover além de sua porta.  Ele se virou e foi como se um escudo estivesse se dispersado de seus olhos, mostrando uma força esmagadora que fez com que eu esquecesse de respirar.

Oliver havia retornado depois de 3 semanas da Darcy  Media Group e estava em minha frente.

ud<

Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora