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- Moça, você vai levar a revista?

O dono da banca de revista era um senhor magricela, com os cabelos grisalhos disfarçados pelo boné de algum time de futebol americano.  Ele me encarava com os olhos franzidos numa expressão curiosa.  

- Q-quanto ela custa? - minha voz saiu falhada devido ao choque que eu acabara de passar.

- Dez dólares, essa edição é especial.

Tenho certeza disso, pensei enquanto tirava o dinheiro da minha bolsa e o entregava. Além da foto do Darcy na capa, ainda havia algumas fotos da Mia de oito anos atrás com longos cabelos castanhos que iam até sua cintura e os mesmo olhos doces sem a presença de qualquer enfermidade.  Além dela, tinha uma em especial dos dois juntos há cerca de dez anos atrás.  O Darcy adolescente tinha os cabelos castanhos-claros cortados na altura da nuca e uma barba maior que a atual, ele abraçava sua jovem esposa que olhava para a esquerda quando a foto foi tirada, pareciam um desses casais felizes que postam fotos nas redes sociais e recebem centenas de comentários sobre o quanto são lindos juntos ou o como parecem fazer bem um para o outro.

Sai da banca e caminhei até a porta de uma lanchonete, sentindo minha respiração ainda mais acelerada que o normal.  Não demoraria muito tempo para que todos soubessem sobre o segredo que o Oliver construiu durante anos. Logo a imprensa iria atrás da Mia e da família Darcy para acompanharem o caso mais de perto e o próprio Oliver não conseguiria ir trabalhar sem encontrar um bando de fotógrafos e jornalistas sensacionalistas procurando entrevista-lo.  Minhas mãos tremiam freneticamente enquanto eu tentava equilibrar a revista.

Senti o celular dentro de minha bolsa começar a vibrar e retirei, visualizando o número do Oliver.

- Oliver, como você está?

- Foi você que falou para a revista sobre a Mia? - sua voz estava em um tom imperativo e furioso de uma maneira que eu jamais ouvi.

- O que? Você está maluco?

- Preciso desligar.

E então passei a escutar o barulhinho indicando que a ligação havia caído. Ou melhor, ele havia desligado sem se despedir ou explicar o que iria fazer - mas o pior de tudo foi ouvi-lo me acusar daquele jeito.

- Senhorita, você está bem? - perguntou uma adolescente que estava caminhando em direção à lanchonete.

Eu balancei a cabeça negativamente e tentei sorrir, mas meus lábios tremiam tanto quanto a boca.

- Não se preocupe - lhe respondi, caminhando em rumo o estacionamento no qual meu carro estava.

Atravessei as ruas do centro de Nova York sem prestar atenção nas pessoas caminhando para um lado e para o outro, as barracas de flores naturais, os palhaços lançando fogos nos sinais fechados, a multidão indo ganhar mais um dia.  Duas ou três vezes, escutei buzinas de carros que por pouco não me atropelaram, fazendo com que eu apenas acenasse um pedido de desculpas e mantivesse minha rota.

Como eu conseguia andar, enquanto meu cérebro só conseguia trabalhar com ideia de Oliver me acusando, eu não sei dizer.  Por todos esses anos, ele não deveria ter contado sua vida secreta (como aquela revista idiota havia publicado) para acreditar que eu o traíra.  Meu choque foi tão grande, que eu não conseguir expressar qualquer tipo de emoção, foi como se tivesse recebido a notícia de orbito de um parente muito querido e ainda não havia caído à ficha de que era verdade.

Como você pôde Oliver? Julgar-me como se eu não fosse digna de sua confiança? Depois de tantos anos trabalhando juntos, você realmente acha que eu seria capaz de te denunciar? Nem por direitos trabalhistas eu faria isso, imagina se tratando da Mia que não tinha nada além da sensação de paz que aquele lugar lhe dava e do Oliver.

Eu nunca seria capaz de fazer isso.

Peguei meu celular novamente e disquei o número da primeira pessoa que eu pensei: Grace. Demorou alguns segundos até que ela me atendesse.

- Bom dia flor do dia, que dia incrível! Como você está?

Apertei o celular contra minhas mãos que tremiam o suficiente para que eu não conseguisse segurá-lo direito.

- Grace, onde você está?

- Na casa do Brian, que voz é essa?

- Por favor, vá até o apartamento, preciso de você como nunca!

- Jules, eu estou ficando preocupada!

- Te explico no apartamento.

Desliguei o celular depois que ela prometeu que iria para casa urgentemente.  Olhei para o céu visivelmente nublado e perguntei a Deus por que minha vida sempre virava de cabeça para baixo toda vez que eu acreditava estar no caminho certo.

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Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora