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Enquanto eu degustava o uísque, fazendo algumas caretas hora ou outra, tentava responder as perguntas de Michael Palmer – que a propósito, parecia adorar toda vez que eu embolava alguma palavra.  Apesar das imagens ficaram ainda mais difusas e os movimentos dos outros um pouco mais lentos, eu ainda estava razoavelmente lúcida.

― Quantos anos você tem?

― Você é o que? Um detetive particular? ― perguntei com os olhos mais arregalados que o normal.

― Talvez, tem alguém te procurando pelos EUA?

― Talvez pelo mundo ― respondi, mordendo os lábios demais.

Michael sorriu e se aproximou um pouco de mim – não o suficiente para que os outros notassem e retirou uma mecha do meu cabelo que estava atrapalhando minha visão, colocando-a atrás do ouvido.

― Gosto do seu perfume ― ele disse ― E dos seus olhos, meu palpite é que você precisa apenas de um pouco de confiança.

Seu hálito cheirava a hortelã – forte e frio.  Foi quase impossível não me sentir hipnotizada pela sua fala, que naquele momento parecia ser a única do ambiente.

― Para que?

Antes que ele respondesse, senti mãos quentes e ásperas segurarem meu braço com força – não o suficiente para machucar-me, apenas para fazer com que sua presença fosse notada.  Dei um passo para trás, no intuito de me afastar de Michael e tropecei nos pés do meu chefe, que, se sentiu dor não demonstrou.

Seus olhos verdes estão fixos no convidado em sua frente com um semblante tão sério quanto defensivo, de um jeito que eu nunca vi.

― Quanto tempo, Palmer ― Oliver disse. 

Michael exibiu novamente um de seus sorrisos tortos.

― Olá Oliver, estava distraído sua convidada enquanto você parecia ocupado ― respondeu, sem demonstrar-se intimidado com o olhar de seu anfitrião.

Oliver também sorriu e, no entanto parecia tão sério quanto antes.

― Creio que não será mais preciso, obrigado.

E dizendo isso, ele segurou minha cintura (isso mesmo!) e me guiou pela sala de estar.  Não tive tempo de me despedir do Michael e muito menos de perguntar para onde eu estava sendo levada.  Só sei que o choque de imagens e pessoas parando para nos encarar de maneira disfarçada fez com que eu me sentisse ainda mais tonta.   Tive vontade de gritar para que o Darcy parasse de ser tão autoritário e me soltasse, ou de pelo menos pedir para que ele me tirasse dali, mas pensei que falar alguma coisa enquanto estava na sala de estar dos Darcy poderia não ser boa ideia.

Ele me levou para fora da casa, ou melhor, para o jardim de sua mãe, passando pela porta da cozinha e contornando a mansão.   Percebi, chegando lá, que não se tratava de um simples jardim, mas sim de um pequeno labirinto com grandes arbustos muito verdes e molhados de neblina noturna.

― Me solta, Darcy, seu idiota ― gritei, assim que percebi que não seria fácil sair dali a julgar pelo estado que eu estava.

― O que? ― ele perguntou, com os olhos saltados de perplexidade. 

Eu aproveitei e me desvencilhei de sua mão, massageando meu braço que amanheceria com hematomas.  Senti a raiva pelo meu patrão aumentar, como uma grande bolha crescendo dentro de mim, aumentando com as lembranças da minha vida desde o dia que eu o conheci e de cada humilhação que ele me fez passar até aqui.

― Seu ― eu o empurrei ― Grande idiota, por que me trouxe aqui?  Para me deixar sozinha a maior parte da festa enquanto conversava com aquela Amanda?  O que você queria? Esfregar na minha cara que eu nunca vou ser boa o suficiente para você? ― continuei dando socos em seu abdômen ― Que eu sou apenas uma droga de secretária que só vive para satisfazer seu grande e estúpido ego? Eu não sou um brinquedinho, Oliver Darcy, seu estúpido, seu...

― Fischer, para! ― ele gritou, com sua voz grave e petulante.

Oliver segurou meus punhos, que estavam vermelhos, mas ainda não doía devido minha adrenalina recém-adquirida.   Tudo que eu sentia era a raiva fazendo meu coração bater mais forte e a respiração acelerar, entrecortada pelas palavras que saiam como fluído da minha boca.  Eu nem sequer tinha reparado que a neblina se transformara em uma chuva fraca e meus cabelos estavam grudados na pele.  Mas eu notei seus olhos verdes fixos em mim, sem que ele emitisse sequer uma palavra enquanto ainda segurava minhas mãos.

Ele continuava me olhando, ou melhor, me desvendando, ocupado demais para se preocupar com o silencioso que me deixava ainda mais nervosa.  Desviei meus olhos dos seus e encarei seus lábios com gotas de chuva e pálidos, semiabertos como os meus estavam desde o momento que engoli o resto das minhas palavras.  A raiva se transformou em algo que eu não conseguia compreender, embora fosse tão grande quanto ela.

― Você não é apenas uma secretária ― ele disse, soltando minhas mãos e colocando as suas entre meu rosto.

Ouvi sua respiração calma contrastar contra a minha: eu parecia sugar mais ar que meus pulmões poderiam abrigar, imaginando o que estava prestes a acontecer.  Darcy se aproximou vagarosamente, inclinou a cabeça e apertou seus lábios contra os meus.  Seus lábios eram firmes e suaves.   Abri minha boca para aceitar o seu beijo e fui surpreendida por um beijo úmido, ávido e devorador em quantidade ideal para me deixar morrendo de tesão. 

Fiquei perdida naquele momento, enquanto ele deslizava suas mãos pelo meu corpo e me fazia sentir coisas que há muito tempo estavam adormecidas de uma forma diferente, que eu nunca havia sentido antes.   Senti seus batimentos aumentarem conforme nosso calor aumentava.

Engraçado é que a chuva não havia cessado e eu nem notara.

Quando enfim, ele se afastou de mim, foi para morder a cartilagem da minha orelha.  Eu estremeci, pois naquele momento minhas defesas estavam completamente abaixadas.

― Eu quero você, Fischer, desde o dia que meu pai te apresentou... Eu quero você ― ele dizia, beijando minha face e movendo suas mãos contra meu corpo ― Quando te convidei para o jantar, tentei convencer-me de que era apenas pela sua facilidade de conversar com os clientes, e uma pequena parte disso é verdade, porque a maior parte, talvez 90% do meu convite seja porque eu desejo você, beijar você, transar com você de todos os jeitos diferentes.

Abri minha boca para responder, mas nada saiu.  Eu estava tonta pelo álcool e certamente confusa por tudo que havia acontecido até ali, além disso, o desejo – tão intenso quanto a raiva que eu sentira há pouco – tomava conta de cada célula do meu corpo, que pareciam gritar para que o Oliver cumprisse o que dissesse e transasse comigo ali mesmo.  Eu o beijei novamente, movendo minha língua vagorosamente.  Suas mãos agarraram minha cintura e descera para a minha bunda.

― Vamos sair daqui ― eu sibilei, com a voz um pouco mais fina que o normal ― Minha casa está vazia.

Não sei se foi pelo meu jeito meloso de fazer o pedido ou pelo minha confissão, mas ele soltou uma risada melodiosa que eu jamais vira antes e se afastou de mim.

― O que foi?

Ele colocou a mão no bolso e tirou de lá a chave de um carro.

― É uma prazer te servir, senhorita Fischer.

Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora