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Passei o resto do dia sentada na cama, apoiando minha cabeça sobre os braços e encarando o celular de uma maneira quase doentia.  Pedi a Grace para ficar na sala com o Brian, pois eu estava cansada e não queria conversar sobre o ocorrido por enquanto, para não me sentir mais idiota relembrando os detalhes da noite passada.  Por um milagre ela aceitou, talvez a paixão tenha deixado minha amiga mais doce e paciente, dizem que o amor sempre transforma as pessoas para melhor.  Disso eu não posso dizer, afinal nunca tive relacionamentos longos e todas as minhas experiências sobre isso me fizeram correr do amor.

Mas um dia ele sempre nos pega, não é?  Que droga Julia, você não está apaixonada pelo seu chefe.  Tudo bem que você cedeu facilmente na primeira vez que ele se mostrou interessado, mas mesmo assim, isso não significa nada.  Foi só uma transa, depois de meses sem "bom dia" ou qualquer vestígios de gentiliza.   Uma transa sem significado algum como todas as suas amigas fazem quando sentem vontade e não existe problema algum nisso.  Exceto por ele ser seu chefe e você ter que encará-lo todos os dias daqui para frente, sendo incapaz de esquecer que já sabe o que existe debaixo daquele terno estupidamente limpo.

― Jules, você está aí? ― Grace falou, batendo duas vezes em minha porta.

― Estou ― respondi, passando a mão sobre o rosto cheio de lágrimas secas.

Ela abriu a porta devagarzinho e fechou-a do mesmo modo.  Ela usava o cabelo preso em um rabo de cavalo alto e uma calça de moletom que lhe caiam perfeitamente bem com a regata cinza.  Seu rosto estava limpo de qualquer vestígio de maquiagem, o que me fez concluir que Brian já não estava ali e que eles não iriam sair naquela noite.

Ela se sentou ao meu lado na cama e cruzou os braços. 

― Tudo bem, agora você vai me contar o que aconteceu.

Eu virei o celular, incapaz de continuar olhando para ele e virei meu rosto para a minha amiga, que me encarava com um olhar amoroso de quem previa algo muito dramático.  Suspirei profundamente.

― Eu transei com o Darcy.

Seus olhos se arregalaram como jamais eu havia visto, sua sobrancelha esquerda foi arqueada e (para minha surpresa) ela abriu um sorriso vitorioso.

― EU SABIA, ME CONTA TUDO, ELE É TÃO GOSTOSO QUANDO PARECE SER? VOCÊ TEVE QUANTOS ORGASMOS? 

Eu arfei, perplexa pela sua resposta. Quer dizer, é claro que a Grace vivia brincando sobre meus sentimentos em relação ao Darcy, um alerta que eu deveria ter dado ouvidos.  Mas pensar que o sexo com o Darcy foi um máximo? Bom, foi.  Mas suas consequências NÃO.

― Ele saiu sem dizer nada e não me ligou.

Ela abriu a boca e logo a fechou.  Eu sabia que aquele era um sinal ruim e que minha amiga não sabia quais as palavras escolher para amenizar a situação.

― Que droga, Jules, mas não foi bom?

Revirei os olhos.

― Não quero falar sobre isso.

Deitei minha cabeça no travesseiro e observei o ventilador de teto desligado. Se eu estava com vontade de transar, não poderia ter encontrado outro pênis? Qual é... Por que eu não sou uma garota normal, que vai à boates e encontra um cara bonito, leva pra casa e no outro dia ele some para nunca mais aparecer em minha vida.  Fechei os olhos rapidamente e balancei minha cabeça, repetindo idiota dezena de vezes.

― Não seja dramática, qualquer mulher transaria com o Darcy, eu já teria dado para ele no primeiro bom dia.

― Ele nunca me deu bom dia.

― Foi só uma tentativa de deixar você melhor, seria bom colaborar...

Eu olhei para a Grace, que ainda mantinha os braços cruzados e mordia os lábios.

― Grace, ele é o maior idiota do mundo que me trata como um rato de laboratório há dez meses e na única vez que ele me beija, eu já o convido para ir ao meu apartamento, a gente transa e ele desaparece, como se tudo não tivesse passado de um... Um pesadelo.

Ela me deu um sorriso torto.  Passei a mão pelos meus cabelos e continuei respirando fundo, já que não me aguentava de tanta ansiedade.

― Ele pode ter um motivo.

― Arrependimento.

― Jules, não seja dramática ― ela disse e pegou meu celular ― Liga para ele.

Eu me levantei e tirei o celular da mão dela antes que Grace fizesse alguma besteira, como ligar para o Darcy e me colocar para falar com ele.  Ela me olhou assustada quando desliguei o celular e o coloquei em cima da cômoda.

― Não, se ele quisesse conversar comigo, teria ligado.

― Isso é coisa de idiota, você sabe... Já que está com vontade, vai e faça, pelo menos não vai passar a noite em claro pensando nos motivos que o fizeram sair correndo do seu quarto.

Eu abracei minhas pernas e olhei para uma foto que estava em cima da minha cômoda.  Nela, minha (verdadeira) família estava reunida, meu pai usando uniforme de piloto e minha mãe com um vestido vermelho e os cabelos perfeitamente arrumados embaixo de um chapéu estilo Coco Chanel.  Eu era apenas uma garotinha com os cabelos muito loiros e cacheados, a pele vermelha depois de passar o dia brincando no Central Park.  Talvez ele tenha visto aquela foto e entendido porque eu tenho medo de aviões, ou talvez apenas acordou, olhou para minha versão desmaiada na cama e saiu correndo dali.

― Eu não vou dormir de qualquer jeito mesmo ―respondi.


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Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora