30

69.5K 4.7K 381
                                    

LEIA ESCUTANDO: I WOULDN'T MIND (HE IS WE) LOGO ACIMA.

- Você vai ficar bem?

Estávamos há 400 milhas de Ohio.  O sol havia se posto, dando início a mais uma noite escura, de lua crescente e poucas estrelas.  Eu abri a janela do carro para conseguir respirar.

Fiquei puxando e exprimindo o ar com a boca, já que minhas narinas estavam completamente entupidas. O rádio não colaborava muito, tocando baladas românticas da década de 90 que só me faziam desejar que um caminhão passasse por cima daquele carro. Olhei para o Darcy que me encarava com um semblante de preocupação.

- Não, você sabe que não - respondi e voltei a olhar para frente.

- Fischer...

- Eu sei Oliver, mas é injusto - naquele momento eu já havia chorado tanto, que minhas lágrimas haviam secado, ou pelo menos era essa a impressão.

Meu coração ainda doía, mas os batimentos cardíacos pareciam ter voltado ao normal. Parecia que alguém tinha pisado em minha cabeça dezenas de vezes seguidas, a dor deixava-me zonza e ainda mais cansada.

Oliver parou em frente um posto de gasolina decadente para colocar combustível em seu carro.  Enquanto ele conversava com o frentista, visualizei a infraestrutura daquele lugar, que também era um restaurante e hotel.  Olhei o relógio do meu pulso, eram sete horas da noite, com sorte chegaríamos daqui uma hora.

Faltava apenas sessenta minutos para que o Darcy me deixasse em casa e que a partir de então, tudo voltasse ao normal.  Era difícil compreender a palavra "normal" já que seria impossível viver com parte do meu coração quebrado. Se antes era difícil vê-lo todos os dias, imagina agora, que eu sabia de tudo.

E para sobreviver a isso, eu teria que me reinventar de uma maneira que nem acreditava ser possível. 

- Pronto - ele disse, ligando o carro novamente.

- Eu quero ficar aqui essa noite - falei, sem olhar para ele.

Pude sentir seu olhar me encarando com curiosidade.

Virei até ele.  Imaginei que minha expressão estivesse tão acabada quanto a sua, contando que doze horas se passaram e ainda não havíamos tomado banho, meu cabelo parecia uma manteiga e eu estava com a leve impressão de que não cheirava tão bem como antes. Mesmo assim, sorri e passei a mão sobre sua barriga, elevando-a até seu peito.

Soltei um longo suspiro.

- Eu entendo você - comecei - Amanhã nós vamos embora e vamos fingir que tudo isso não passou de um sonho ou  um pesadelo, como eu diria a um mês atrás, você vai continuar sendo meu patrão insuportável e eu vou concluir meu trabalho na empresa até me formar e seguir meus próprios passos, como planejei, mas agora nós estamos juntos e sabemos o que sentimos um pelo outro, não estrague esse momento dirigindo até Nova York... Deixe eu me sentir culpada amanhã, por estar apaixonada por um homem casado com uma mulher que eu nem posso odiar.

Por um momento, ele permaneceu imóvel, com uma ruga preenchendo o espaço vazio entre as sobrancelhas.  Deslizei minha mão até o seu rosto, sentindo a aspereza de sua barba reanimar meu corpo como uma onda de eletricidade. Inspirando tremulante, aproximei o meu rosto do seu e colei meus lábios nos dele.

Sua boca estava quente e tinha gosto do chiclete de hortelã que havíamos comprado na saída de Ohio. Todo o turbilhão de sentimentos que havia sentido naquele dia se transformaram em desejo.  Ele colocou sua mão gelada atrás de meu pescoço e puxou meus cabelos.

Passou pela minha cabeça que aquela noite tornaria as coisas ainda mais difíceis no dia seguinte, mas eu não importei.  Pelo menos não ainda.

Ele estacionou o carro na garagem do posto e colocou as chaves no bolso da calça jeans. Tirei o cinto de segurança e calcei novamente a bota.

- Não saia daí - ele pediu, com a voz confiante.

Obedeci-lhe confusa, enquanto ele contornou o carro e abriu a porta para mim, fazendo reverência para que eu passasse.  Mostrei a língua para ele e balancei a cabeça, Darcy sorriu e fez sinal para que eu pegasse em sua mão.

Nós caminhamos até o hotel, achando graça por nada.  Meu corpo parecia ter saído de uma sessão de acupuntura. 

O hotel parecia inabitado, a não ser por uma mulher de meia idade que estava na recepção, olhando fixamente para o visor de seu celular.  Ela pareceu surpresa quando falamos que estávamos interessados em um quarto e olhou para o Oliver mais do que deveria, e depois nos entregou a chave 25 dizendo quer era o único quarto com ar condicionado e TV a cabo.

Nós caminhamos pelo corredor, logo atrás dela, observando o piso desgastado e os papeis de parede se descolando.  Tudo ali  contribuía um pouco para a decadência do local - assim como o forte cheiro de mofo e algumas portas sem placas nomeando o quarto.   Mas para mim estava perfeito, afinal, eu estava ao lado dele.

Nós entramos no quarto, assim que ela se despediu.  A parede era pintada de verde (cor de vômito) e a cama de casal era feita de tijolos, assim como o guarda-roupa.  Eu abri a janela para conseguir respirar direito e quando voltei, o Oliver havia acabado de tirar a camisa - que a propósito estava jogada em cima da cômoda.

Eu parei para observá-lo.  Seu corpo era forte e torneado: desde as pernas impecavelmente proporcionais aos quadris, a cintura bem delineada. Os bíceps juntamente com os antebraços sustentavam veias grossas, que saltavam abaixo da pele bronzeada. Havia uma imensa cicatriz que começava em sua cintura e ia até a costela - imaginei ser consequência do acidente.

Além disso, ele tinha uma tatuagem acima do peito esquerdo: uma espécie de estrela cruzada, como se fosse uma marca de algum grupo de mafiosos.

- Eu não me lembro disso - brinquei, me aproximando.

- É claro, você pediu que a gente transasse com a luz apagada.

Tampei meu rosto com a mão, tentando impedir que ele me visse vermelha.

- Eu também não me lembro disso!

Ele se desencostou da parede, aproximou-se de mim e contornou um círculo ao meu redor, até ficar em minha frente.  Olhou-me com aqueles olhos penetrantes enquanto seus dedos percorreram minha camiseta até que ela acabasse no chão.  Lancei meus braços em torno dele e o beijei suavemente.

- Pois eu me lembro de cada palavra que você me disse - ele falou, sorrindo.

- Mentira! O que eu falei?

- Coisas proibidas para menores de idade - ele respondeu, beijando meus lábios novamente - Me prometa que dessa vez você vai se lembrar.

Foi quase doloroso vê-lo sorrir amavelmente e pensar que aquilo não se repetiria outras vezes.  Eu balancei a cabeça levemente e sorri, tentando afastar meus pensamentos.

- Me prometa que não vai fugir de mim.

Ele tirou uma mecha do meu cabelo e colocou-a atrás da orelha.

- Não hoje.

Recadinhos: a) sei que vocês estão ansiosas para um capítulo narrado pelo Darcy, mas primeiro eu preciso seguir o roteiro... Ele está aparecendo mais, revelando seus segredos, até o final da história vai tentar colocar o ponto de vida do nosso protagonista... Ihhh, será que eu consigo meninas?
b) Obrigada pela leitura e pelos comentários, me divirto muito com a opinião de vocês e adoro lê-las!!!

Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora