Coloquei o guarda-chuva em cima da cômoda, em frente a uma foto da Grace de mãos dadas com a mãe. Tirei as botas usando apenas os pés e enrolei meu cabelo molhado em um coque mal feito.
A casa parecia intocada desde o momento em que eu havia saído dali, com excesso de vasilhas na pia e alguns copos espalhados pela sala. As almofadas do sofá espalhadas pelo chão contribuíam para a expressão do desleixo de nosso apartamento, que não via uma faxina há muito tempo.
Tirei o casaco e me sentei no sofá, movendo meu peito para dentro e fora no intuito de me tranquilizar. Preferi vir a pé do cemitério para casa, ao invés de pegar um táxi - vendo de longe, sei que parece uma ideia louca, afinal Nova York não é uma cidade pequena onde ter um carro é mais expressão de status do que necessidade. Porém, eu precisava sentir o ar fresco chegando até os meus pulmões e ouvir o barulho ao meu redor me dizer que ainda havia vida sem o Darcy.
Ainda havia planos e sonhos prontos para saírem do papel, sem nenhuma barreira como fora morar numa cidade pequena e depois precisar me formar, ter um currículo invejável para conseguir chegar ao topo da minha área. Encostei minha cabeça na cabeceira do sofá e fechei os olhos, dizendo a mim mesma que aquela era apenas mais uma crise, um momento ruim desses que a vida volta e meia nos "presenteia". Eu iria superar o Darcy e todas as possibilidades de vivermos juntos e felizes, assim como iria superar o remorso que eu estava sentindo por ele, pelo Michael e principalmente por mim.
- Jules? Onde você estava com essa tempestade?
Grace apareceu na entrada da sala, usando uma camiseta de time de futebol americano que parecia grande demais para ser dela. Seu cabelo estava amarrado em um nó semelhante ao meu e os olhos ostentavam uma mescla de olheiras com resto de maquiagem da noite anterior.
Ela se sentou ao meu lado e eu lhe contei (com muita paciência) sobre tudo que aconteceu desde o momento em que sai de casa e fui para o cemitério. Grace era uma boa ouvinte, do tipo que faz caras e bocas e murmura palavrões vez ou outra. Quando terminei, não havia nada em meu rosto além da sensação de alívio por ter desabafado sentimentos tão devastadores.
Ela colocou a mão no meu ombro e o massageou, com uma expressão de pena que ninguém deseja ver no olho de um amigo.
- Sinto muito, Jules.
- Tudo bem, eu vou ficar bem.
- Você está preparada? Digo... Para esquecê-lo e vai ter o seu momento deprê?
- Já tive momentos deprês além da cota.
Ela sorriu e eu retribui com uma espécie de sorriso que demonstrou um pouco do meu cansaço. Era essa a sensação que eu tinha: cansaço de alguém que trabalhara por meses sem parar e não fora retribuída o suficiente.
Dei um beijo na testa da minha amiga e me levantei do sofá, decidida a tomar um banho quente e demorado, ficar horas no chuveiro pensando nos rumos surpreendentes que a minha vida tomou até me sentir relaxada para dormir. Uma boa noite de sonos, sem acordar durante a noite e encontra-lo dentro e fora da minha cabeça, como fazia as vezes numa espécie de transe.
Quando eu estava prestes a sair da sala, um pensamento me ocorreu e me virei para a Grace.
- Você acha que eu fui burra? Por ter lutado tanto por ele?
Grace sorriu e colocou as mãos no encosto do sofá, virando-se para o meu lado.
- Você não fez nada que eu não teria feito pelo Brian e acho que ele também teria feito por mim- ela mordeu os lábios e pensou um pouco - Dizem que o amor é cego, mas eu discordo, quando estamos apaixonados a gente deixa de enxergar apenas a nossa vida e engloba o mundo da outra pessoa, que é claro, traz coisas ruins como histórias tristes do passado e problemas tão cabeludos quanto os nossos... Mas mesmo assim, a gente tenta e quando não dá certo, partimos o nosso coração, mas continuamos tentando, tentando, tentando, até que nossas forças se esgotem e bom... Acho que esse é o momento de sair de cena e tentar outra coisa.
- Acho que chegou o meu momento.
- E ele vai ser brilhante, tenho certeza.
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Como suportar Oliver Darcy - COMPLETA
RomancePLÁGIO É CRIME. Julia Fischer conseguiu o tão sonhado estágio da Darcy Media Group, uma das maiores empresas de arquitetura do país. Faltando apenas dez meses para adquirir seu diploma em Administração, ela está mais focada do que nunca no trabalho...