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Embora ele não tenha dito, sabia que aquelas férias eram apenas uma maneira de me manter trabalhando na empresa, já que eu falei que não conseguiria vê-lo todos os dias sem estarmos juntos. Fiquei comovida com seu gesto – afinal trabalhar estar entre as coisas que ele mais ama na vida e não deixei de me sentir egoísta por ser a causa de sua abdicação (mesmo que temporária) ao emprego.

Por alguns dias, eu deixava o celular em cima da mesa, esperando inconscientemente que ele me ligasse e pedisse para se encontrar comigo.  Sem falar que eu acordava todas as manhãs, esperando que aquele fosse o dia que ele retornaria para a Darcy Media Group e eu finalmente poderia revê-lo, mesmo que isso comprovasse ainda mais a barreira entre nós.  Às vezes é mais fácil amar alguém que a gente não vê, pois a realidade pode ser decepcionante – o que aconteceria nesse caso, já que o Darcy não é homem de voltar atrás em suas escolhas.

E ele escolheu ficar longe de mim, para me proteger de amar um homem que perdeu um pouco de sua alma no acidente de carro que deixou sua mulher seriamente doente.  Meus olhos pesavam e o coração parecia diminuir um pouco a cada dia, assim que eu abria os olhos e me recordava de que a normalidade estava de volta aos meus dias.  E Deus... Como fui feliz tanto tempo com essa vida medíocre?  De acordar todas as manhãs, colocar cereal de milho no meu leite enquanto escuto o locutor da rádio dizer "bom dia" e citar frases filosóficas que nada tem a ver comigo. Depois escolher uma de minhas roupas sem graça, prender o cabelo em um rabo de cavalo alto e ligar o carro, para ir até a empresa e viver mais um dia de trabalho, cheio de obras, relatórios e e-mails para enviar e responder, conversar com o rapaz do xerox, me estressar com a Rosalia fazendo piadas sobre mim nos corredores.  E principalmente sentir um vazio enorme pelo lugar que ele devia ocupar em meu coração.  Mas o Oliver fora sincero quando disse que não poderia ficar comigo e eu decidi respeitar sua decisão.

Depois de duas semanas, eu ainda estava me adaptando em ser funcionária do Conrad novamente.  Ele me tratava como se eu fosse uma amiga da família, dando-me bom dia e fazendo comentários sobre as estripulias da Abby – a quem ainda parecia considerar uma criança.  Sem falar de sua paciência e enorme tendência a fazer comentários positivos acerca do meu desempenho.  Tranquilidade é a palavra certa para definir meus dias sobre a tutela de Conrad Darcy, mas eu sentia falta da adrenalina antes de entregar um relatório para o seu filho, sem fazer ideia do que ele iria dizer a respeito (nunca era um elogio, mas as vezes eu conseguia deixa-lo sem palavras) e de passar as horas vagas ofendendo-o, mesmo que em pensamentos.

Naquela fatídica segunda-feira, eu estava terminando de corrigir um dos artigos do Sr. Darcy quando ouvi minha porta bater.  Torci para que não fosse uma surpresa desagradável, como a Rosalia.   Mas era a Grace, com o cabelo solto e um vestido com estampa de rosas que ia até seu joelho.

— Grace? Como você entrou aqui?

Ela se sentou na cadeira e colocou uma enorme sacola com logotipo de uma loja com estrelas para todos os lados. 

— A recepcionista me disse onde fica sua sala e uau, Jules, eu não iria querer sair daqui depois que formasse — disse, olhando ao redor da sala.

Revirei os olhos, pensando que a Rosalia havia deixado a Grace entrar ali sem minha permissão apenas para me provocar.  Por um momento, agradeci aos céus por faltar apenas um mês para me formar e sair dali visando que ignorar aquela mulher ficava mais difícil a cada dia.

— Nem tudo é o que parece — comentei, riscando uma frase do artigo que fora mal colocada — O que você quer?

— Nossa, Jules, quanto mau humor! — ela disse, sorrindo abertamente — Comprei meu vestido de noivado e não aguentei te esperar chegar em casa para mostrar.

Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora