Finalmente, decidi deixar meu cabelo solto. Tudo bem que ele é rebelde e prefere seguir rumo próprio ao invés de obedecer ao pente, independente de quantas vezes eu o escove. Mas meu rosto estava horroroso e os óculos de grau são grandes, mas não o suficiente para me tornar apresentável. Então, usei uma estratégia - as pessoas estariam ocupadas demais reparando meu cabelo para prestarem atenção no meu rosto.
Não passei base no rosto, vesti uma saia plissada que ia até o joelho e uma blusa de mangas longas, com decote suave. Olhei-me no espelho e me perguntei se usar minhas roupas do cotidiano trariam minha vida normal de volta. Fui para o trabalho sem comer nada, liguei o carro e durante o percurso, tentei não me incomodar com o trânsito.
Do lado de fora, Nova York parecia um organismo vivo pulsando energia a todo instante. E lá estava eu, sentindo-me uma turista de uma cidade distante e completamente deslocada dali. Estacionei o carro na garagem da empresa e não respondi quando algumas pessoas me cumprimentaram - não por falta de educação - eu simplesmente não conseguia prestar atenção no mundo ao meu redor e quando notava que alguém disse meu nome, já estava metros à frente.
Sentei-me na minha cadeira habitual e pensei em como começar a trabalhar. Geralmente, eu recebia ordens assim que chegava ao trabalho e conseguia desenrolar meus deveres a partir do ponto de vista do Darcy. Mas agora, como discar seu número e escutar sua voz sem não cair em pratos? Sei que parece piegas, mas sofrer por amor é piegas. E eu estava detestando essa nova fase da minha vida.
Liguei o computador e decidi começar a ler os e-mails, mas não havia como responder alguns sem conversar com o Darcy antes. É claro, Julia, não tem como ser empregado sem a presença de um patrão.
Alguém tocou na minha porta, meu coração pulou a mil com a ideia de que pudesse ser o Darcy. Joguei o cabelo para trás, amaldiçoando-me por ser tão desastrada com minha aparência.
Mas ele não costumava bater à porta - falou uma voz da minha cabeça.
- Entra - respondi, desanimada.
Para minha total surpresa (e desgosto), Rosalia abriu a porta e sentou-se na cadeira do visitante, sem que eu pedisse. Poucas pessoas conseguem ser mais bonitas de perto do que longe, regra que minha colega de trabalho é exceção. Com cabelos escuros que se alinham perfeitamente no couro cabeludo, lábios carnudos e sempre hidratados com uma coleção de batons escuros (tipo vermelho ou rosa), olhos castanhos com grossos cílios (que imagino serem falsos), ela sempre está bonita. Além disso, faz questão de usar os uniformes mais decotados o possível, chamando atenção para seu par de silicones e a barriga sem gordura abdominal.
Tentei fingir meu desânimo ao vê-la e forcei um sorriso.
- Posso te ajudar em alguma coisa? - perguntei.
Rosalia sorriu e colocou as mãos em cima da minha mesa.
- Sim, mas não é nada sobre o trabalho - o que era pior ainda - Fischer, eu sei que você é muito próxima do Darcy e gostaria de saber se... Sei lá, você poderia me dar uns conselhos para conquista-lo.
Meu instinto herdado dos ancestrais mais animalizados que os seres humanos, pediu para que eu expulsasse a mulher da minha cadeira com um soco em sua bochecha. Mas eu - a rainha do autocontrole, como você sabe - fiquei sem reação. Meu rosto se enrubesceu e as mãos, ainda sobre o teclado do computador, ficaram trêmulas.
Rosalia continuou me encarando com um sorriso que ia de um canto ao outro de suas bochechas. Ela esperava ansiosamente uma resposta.
- Desculpe, mas eu não posso ajuda-la - respondi rapidamente e tornei a olhar para o computador.
Desejei que a Rosalia dissesse "tudo bem" e saísse da minha sala. Não me importei se ela ficasse chateada e parasse de me cumprimentar.
- Mas por que? -ela perguntou, acabando com meu sonho de começar o dia em paz.
a) Porque eu não gosto de você.
b) Porque o Darcy jamais gostaria de você.
c) Porque eu não vou apresentar uma periguete para o cara por quem estou apaixonada.
Mas ao invés de respondê-la do jeito que queria apenas a encarei novamente.
- Não somos íntimos.
Rosalia segurou a ponta do cabelo e fez um pequeno nó. Seus olhos se estreitaram em minha direção.
- Você está afim dele?
Eu arregalei os olhos e neguei fortemente com a cabeça.
- É claro que não.
- Eu acho que sim, por que motivo mais não me ajudaria?
- Porque eu sou uma estagiária e não especialista em encontros e a propósito, preciso trabalhar, por favor? - fiz sinal para que ela olhasse para a porta e saísse dali.
Rosalia me lançou um olhar fuzilante e se levantou da cadeira tão rápido, que a própria foi lançada para o outro lado da sala. Por fim, ela colocou sua mão na minha mesa e disse:
- Você realmente acha que tem uma chance com ele?
Passei a língua sobre os lábios ressecados e voltei a olhar para o computador.
- Eu só acho que preciso concluir meu trabalho - respondi.
Centrei meus olhos no computador e escutei o barulho da porta sendo chocada contra a parede de forma violenta. No fim, minhas mãos tremiam convulsivamente, assim como meus lábios.
Arremessei minhas mãos contra as teclas do computador várias vezes até as pontas dos meus dedos ficarem vermelhas. Eu sentia vontade de gritar, mas sabia que chamaria atenção das pessoas dos escritórios ao lado, quem sabe até do Oliver. Então, joguei minha adrenalina para cima das pastas da mesa e arremessei-as contra a porta, sem me importar com a certeza de que arrumaria tudo àquilo de novo.
Quando eu havia me controlado e iniciado um exercício de respiração, meu telefone tocou. O atendi, de impulso.
- Alô? - logo depois que a palavra saiu, veio a percepção de que eu estava na empresa e não poderia atender um telefone com cumprimentos informais.
- Bom dia senhorita Fischer, sou eu, Conrad Darcy.
- Ah... O-oi senhor Darcy.
Ele pareceu não se importar com o som de minha voz falhada e surpresa.
- Gostaria de informa-la que vou passar alguns dias no escritório, revisando algumas obras do meu filho, gostaria que você viesse até a minha sala e me ajudasse a entender o computador do Oliver - ele soltou uma risada envergonhada - Estou um pouco obsoleto.
Demorei alguns segundos para respondê-lo. Como assim substituir o Oliver? Onde ele estava?
- Senhorita Fischer?
- C-claro, senhor - fechei os olhos e apertei-os, tentando procurar as palavras certas para dizer - Desculpe a curiosidade, mas aconteceu algumas coisas com o Darcy?
- Não se preocupe, ele só precisou tirar umas férias, estava estressado demais... Depois de dois anos trabalhando sem parar, a senhorita deve imaginar...
Meu corpo inteiro gelou, enquanto o ouvido foi o único a permanecer quente.
- Sim, senhor Darcy, eu imagino.
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Como suportar Oliver Darcy - COMPLETA
RomancePLÁGIO É CRIME. Julia Fischer conseguiu o tão sonhado estágio da Darcy Media Group, uma das maiores empresas de arquitetura do país. Faltando apenas dez meses para adquirir seu diploma em Administração, ela está mais focada do que nunca no trabalho...