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Quando acordei no dia seguinte, tive a sensação de que eu havia dormido por dias. Fiquei deitada na cama, com os olhos fechados durante alguns bons minutos - quem sabe horas - tentando entender o que havia acontecido na noite passada para minha cabeça estar tão pesada.  Sem falar na azia que se alastrava do estômago até a garganta, fazendo com que eu desejasse tudo - menos comer alguma coisa.

Por fim, venci a ressaca e levantei-me da cama, procurando a pantufa desgastada no chão, sem ousar abaixar a cabeça.  Coloquei o roupão, por cima da minha calcinha e do sutiã (como havia conseguido tirar meu vestido era outra questão curiosa) e abri a porta do meu quarto, sentindo os primeiros raios solares - provenientes da janela do final do corredor - penetrarem em minha pele ressecada.  Fui até a cozinha, abri a geladeira e tirei de lá uma garrafa de água, a qual joguei em minha boca, aproveitando que a Grace não estava ali para ver aquele acontecimento.   Não faço isso com frequência, somente em casos extremos de sede ou de azia, ou os dois juntos, como era o caso.

Fiz um nó em meu cabelo e caminhei até a sala, onde encontrei... O Michael deitado no sofá!  Com as duas mãos apoiadas em sua cabeça, em forma de travesseiro.  Ele ainda usava roupa da noite anterior, com exceção dos sapatos na porta do apartamento, com as meias cuidadosamente colocadas dentro deles.  Meus olhos percorreram seu corpo e depois minha roupa.  Tentei recordar de alguma coisa há doze horas que poderia explicar o fato de ter um homem praticamente desconhecido dormindo no meu sofá.  Várias rodadas de tequila e, meu Deus!  Eu me lembrava vagamente de um quase beijo que foi interrompido.

Isso, pelo menos eu havia interrompido o beijo, mas o que ele estava fazendo ali? E por que eu fui dormir usando apenas peças íntimas?  Então, fiz a melhor coisa que poderia fazer naquele momento: gritei.

Ele acordou num instante e sentou-se com apenas um pulo.  Seus olhos percorreram toda a sala de estar, até parar em mim - petrificada na porta da cozinha.

- Você está maluca, Julia?

Levantei uma das mãos e me aproximei.

- Maluca? Desculpa Michael, mas o que você está fazendo em minha casa?

Ele esfregou os olhos e se deitou novamente, soltando um profundo suspiro.

- Quando nós chegamos, já era quase de manhã, eu tive que revirar sua bolsa até encontra a chave... Tinha vários absorventes, blocos de notas, canetas, pentes, um pen drive dos Minions!

Fiquei vermelha quando ele citou  o pen drive e desviei o olhar.

- Não fuja do assunto!

- Eu estava morto e muito bêbado, não sabia se conseguiria chegar em casa dirigindo... Então decidi ficar.

- Ah... Você decidiu ficar?

- Qual é, Julia, seja um pouco mais agradecida depois de tudo que eu fiz por você! 

- Inclusive tirar meu vestido!

Michael sorriu e se levantou novamente.  Seus olhos estavam inchados, sendo substituído por orelhas enormes por baixo das pálpebras.

- Foi uma das coisas mais difíceis que já fiz na vida, considere como uma prova de amizade.

Apertei o roupão contra o meu corpo, sentindo meu rosto explodir de chamas.  Olhei para baixo, treinando as palavras certas para dizer o que eu queria, caso contrário, morreria na dúvida.

Literalmente.

- Aconteceu alguma coisa entre nós?

Michael tornou a olhar para mim e dessa vez, sua expressão era a de quem havia acabado de ir ao céu e voltado.  Seus olhos sorriram para acompanhar os lábios, que comprimiram as bochechas até elas desaparecerem de vez.

- Vou te deixar com a dúvida.

Eu me aproximei e sentei na poltrona, controlando-me para não pular em cima dele e socar os dois lados de seu rosto, até aquele sorriso sacana sair de cena.

- Por favor, me fale.

Michael voltou a se sentar no sofá, cruzou as pernas e colocou as mãos na região do nervo trigêmeo da cabeça, acariciando aquela região.

- Eu gosto de muitas coisas diferentes, transar com mulheres inconscientes não está entre elas.

Olhei para o teto da minha casa e agradeci aos céus, sentindo o alívio se espalhar pelo meu corpo como um analgésico muito potente.  Meus músculos se relaxaram o suficiente para que eu pudesse me jogar contra a poltrona.

Fechei os olhos e tentei dormir novamente, mas era impossível, contando que o Michael estava ali e por mais que nada tivesse acontecido entre nós, aquela cena não deixava de ser estranha.

- Estou com fome - ele disse.

- Tem resto de macarronada na geladeira - respondi, perguntando se havia como alguém se mais folgado ou inusitado que o Michael.

- Não, eu iria preferir um sanduíche... Com bastante bacon e ovos!

- Eca! Eu tenho nojo de frituras...

- Quer dizer que a Fischer é fresquinha? Não pensei que fosse você dessas.

- Fico feliz que você esteja se surpreendendo comigo a todo instante.

Ele soltou uma risadinha perversa, a qual não entendi a motivação.

- Ei, o que você vai fazer quando sair da empresa?

Coloquei minhas mãos embaixo da cabeça.  Sabe aquela coisa que você sonha durante a vida inteira e quando finalmente consegue realizá-la, não faz ideia do que fazer?  Desde que eu cheguei em Nova York, conquistei as melhores notas da turma de Administração, uma vaga numa das empresas de maiores credibilidade dos Estados Unidos e depois destaque na Darcy Media Group, tudo com apenas um objetivo: me formar e partir para o mercado de trabalho.   Só que agora, faltando menos de um mês para conseguir o tão desejado diploma, eu não fazia ideia de como continuar.  Quer dizer, eu sabia que queria montar um negócio - afinal havia reservado a pequena herança do meu pai para isso - mas ainda não sabia em qual ramo gostaria de investir.  Algo que pudesse me diferenciar das outras milhares de tentativas de ser bem-sucedida na metrópole mais rica do mundo.

- Eu não sei - respondi, com um pouco de frustração.

- Imagino que isso seja péssimo para quem costuma ter a vida minimamente planejada.

- Você não faz ideia - respondi.

- Não tem nada em sua cabeça? Tipo um produto legal para poder vender?

- Eu sou administradora, não inventora!  E sim, já pensei em algo como abrir uma pequena Editora de livros ou um estúdio de gravação, mas nada disso parece muito promissor.

- E o que você acha de abrir uma lanchonete especializada em sanduíches naturais?  Para as pessoas frescas como você, que estão enjoadas de comer McDonalds no shopping.

Eu abri os olhos e levantei minha cabeça.  Michael ainda estava deitado, massageando os pontos de dor de sua cabeça, inerte da ideia genial que acabara de ter.

- Michael, essa é uma excelente ideia!


Oi meninas, saudade de vocês!  Esses dois capítulos foram feitos (especialmente) para as fãs do Michael.  Para a tristeza da Julia, ele apareceu novamente e como sempre, não deixando sua presença passar despercebida.

Bem meninas, gostaria que vocês comentassem a respeito da história! Por favor, apareçam! Estou com saudade de vocês!

Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora