Ai meu Deus, por que eu escolhi saltos tão grandes? E o que vai ser de mim se escorregar na passarela da colação de grau?
Com cerca de 1000 familiares e amigos dos meus colegas de faculdade, incluindo meu pequeno grupo de convidados, eu só conseguia pensar na dificuldade em me equilibrar nos saltos pretos de 15 cm até receber o diploma do reitor da universidade de Nova York. Observei pela fresta da cortina, Janice Stewart - uma garota loira com o dobro de minha altura - caminhar com elegância pela passarela, recebendo gritos e buzinas de sua família situada a esquerda do teatro. Ela acenou para todos e mandou beijinhos, cochichou algumas coisas no ouvido do reitor e finalmente segurou o diploma, elevando-o com a mão direita e soltando urros animados.
Lembrei-me de que quando a conheci, Janice parecia tão desnorteada quanto a Grace, alegando que só faria Administração para trabalhar na empresa de cosméticos dos pais o que divergia do seu sonho de ser artista plástica. Quatro anos se passaram e ela havia se mantido firme na promessa que fizera a família, o que significava que:
a) Havia definitivamente desistido de seu sonho e se desabrochado no ramo de Administração.
b) Continuava estando ali apenas para agradar os pais e seu sorriso era - diferentes do que todos ali acreditavam - felicidade por estar livre de uma rotina que ela odiava.
O bom de pensar na Janice e suas possíveis motivações foi que me esqueci do nervosismo e da sensação de ansiedade de ser a próxima a atravessar a cortina vermelha e fazer uma espécie de desfile.
O local escolhido para minha colação de grau foi o teatro da própria universidade, que mantinha um ar de sofisticação do século passado, com cortinas panorâmicas e vermelhas separando os mordomos da multidão de cadeiras acolchoadas com couro preto e macio. As paredes eram tingidas de um azul - quase preto- e a iluminação havia sido completamente revestida para a passarela.
- Julia Elisabeth Fischer - anunciou o mestre de cerimônia.
Fechei os olhos e respirei fundo novamente, assim que vi os olhos se voltarem para o lugar por trás da cortina em que os formandos estavam saindo.
Vai dar tudo certo, é só esquecer-se dos olhares ao seu redor.
Respirei profundamente e dei um passo para frente, ainda com os olhos fechados.
- Anda logo, Fischer - alguém gritou, atrás de mim, empurrando-me contra a cortina.
Por pouco, consegui me equilibrar antes de aparecer em meio público, mas meu coração batia de modo tão acelerado que precisei andar mais devagar para evitar que minhas pernas tombassem uma com a outra de tão trêmulas. Escutei assovios, pessoas chamando meu nome, buzinas, fachas com meu nome estampado e outras com fotos minhas e das pessoas que estavam ali por minha causa... Mas tudo não passou de um vulto borrado, pois os óculos não solucionavam problemas de nervosismo latente.
Então, finalmente consegui chegar até o reitor, que é um homem robusto e alto, com olhos cor de amêndoa e sorriso fácil. Ele sussurrou um "parabéns, obrigado por confiar na nossa instituição" e me entregou o diploma.
Mal consegui acreditar que eu estava segurando meu futuro com a mão direita.
Ou melhor, minha tão sonhada carta de alforria da família Darcy.
Ergui o papel entubado num recipiente azul e escutei as pessoas baterem palmas e comemoramos junto o que foi a primeira grande vitória da minha vida.
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Como suportar Oliver Darcy - COMPLETA
RomancePLÁGIO É CRIME. Julia Fischer conseguiu o tão sonhado estágio da Darcy Media Group, uma das maiores empresas de arquitetura do país. Faltando apenas dez meses para adquirir seu diploma em Administração, ela está mais focada do que nunca no trabalho...