"Bem, eu tenho temido mudar porque eu construí minha vida a sua volta. Mas tempo te deixa mais corajoso, mesmo crianças envelhecem e eu estou envelhecendo também." - Landslide.
Mia Catherine Lewis
Nascimento: 20/06/1985
Falecimento: 10/11/2014
"Amei e fui amada, isso basta para o meu túmulo".
Havia muitas flores em seu túmulo, rosas em sua maioria. Mas diferente das duas primeiras semanas e das outras vezes que tentei visita-lo, o cemitério estava vazio exceto por poucas pessoas enlutadas, chorando caladas em frente os túmulos de seus entes queridos.
Com o inverno chegando, os dias ensolarados foram transformados em amanheceres cinzentos e chuvosos. Por isso, eu estava debaixo do guarda-chuva transparente, usando um cachecol de crochê em cima do casaco preto, calça jeans e uma bota curta e sem salto, apenas para me livrar do frio.
Sentei-me em frente ao túmulo da Mia, tão noticiado pelos jornais assim que foram descobertas as informações sobre seu velório. Coloquei o buquê de magnólias, que havia comprado numa floricultura próxima a minha casa, ao lado de umas rosas brancas e voltei a olhar para a lápide.
- Oi Mia, eu me lembrei das magnólias que você estava colhendo no dia em que conheci e decidi trazê-las - dei uma pausa quando o guarda-chuva quase se soltou das minhas mãos - Sabe, se teve uma coisa legal no meio de toda essa tragédia, foi o fato de ter descoberto um pouco mais sobre a mulher incrível que você foi... Eu adoraria ter te conhecido, escutado você cantar e falar sobre seus sonhos de ser uma advogada tal como foram seus pais.
Foi impossível escapar por completo da chuva, visando que ela era mais forte que o meu pequeno guarda-chuva usado apenas em ocasiões especiais como aquela. Minhas botas já estavam encharcadas e as pontas do cabelo pregadas na roupa, que a propósito, não era capaz de tampar o frio por completo. Mas eu não poderia sair dali antes de terminar de dizer tudo que queria.
- Olha, me perdoa por ter me apaixonado pelo Oliver e tentando ficar com ele mesmo sabendo que estava viva e o tinha como seu mundo... Perdoa-me por ter iniciado o que mais tarde culminou em sua morte e espero que você saiba, onde quer que esteja, que eu nunca quis que isso acontecesse... - me levantei e limpei minha calça com apenas uma mão, enquanto a outra tentava equilibrar o guarda-chuva - Espero que você esteja em paz.
Enrolei o meu cabelo e o coloquei para frente, acima do ombro direito. Continuei observando a lápide da Mia, sentindo o gosto amargo da minha boca diminuir à medida que a sensação de alívio tocava minha pele suavemente, como uma massagem para aliviar a contração muscular.
- Julia?
Meu coração acelerou apenas por escutar aquela voz chamar meu nome. Arregalei os olhos e escutei o som dos meus batimentos cardíacos, enquanto criava coragem para me virar.
Oliver estava parado atrás do túmulo de sua esposa, usando uma calça de moletom e uma jaqueta preta com um gorro que lhe cobria a cabeça. Em sua mão direita, havia um buquê de magnólias, semelhantes as que eu havia levado para a Grace. Foi difícil olhar pela primeira vez depois de mais um desencontro, o mais doloroso de todos eles, mas nada se compara ao seu olhar de desolamento e amargura e os lábios travados numa carranca crônica.
- Eu... Só vim me despedir da Mia.
Ele não disse nada, apenas se aproximou como se ignorasse minha presença e depositou as flores na lápide da mulher. Eu fechei os olhos e deixei que uma lágrima escapasse pelas minhas bochechas.
- Eu contei ao Michael que estava apaixonada por um homem casado com uma mulher muito doente - falei, ainda de olhos fechados por ser incapaz de ver sua expressão para mim - Eu tinha bebido bastante e estava frustrada por não ter você, mas sei que isso não é desculpa.
Fez-se um silêncio eloquente - do tipo que é capaz de estourar os tímpanos das pessoas ao seu redor devido ao desespero contido. Eu abri os olhos novamente e notei que ele ainda estava de costas para mim, olhando para um ponto distante no cemitério... Talvez uma daquelas grandes estátuas de anjos.
- Nada disso vai trazer a Mia de volta - foi tudo que ele disse.
Eu coloquei minha mão no bolso e olhei para baixo.
- Não, não vai.
Oliver finalmente se virou para mim, fazendo com que meu impulso encontrasse seus olhos verdes e pequenos - que a propósito haviam perdido metade de seu brilho. Ele tirou o capuz e me mostrou o rosto de um homem que não dormia direito há mais tempo do que eu poderia contar, de que havia passado meses no hospital com uma doença terrível e ainda não tivera tempo de se recuperar, de quem havia perdido um grande amor... Ou talvez o grande amor de sua vida.
- Durante oito anos, eu nunca contei a ninguém que a Mia existia, porque parte de mim queria deixar nossa história preservada dos palpites das pessoas ao meu redor e a outra parte queria que ela tivesse direito a uma vida tranquila, longe dos olhares que me perseguiram a vida inteira... Você sabe que eu nunca fui capaz de me perdoar por ter dirigido o carro que a deixou daquele jeito e por ter destruído o que foi melhor parte de mim, pensei que nunca iria me perdoar... Mas aí eu me apaixonei por você e encontrei uma forma de ser feliz novamente, percebi que o amor pode bater na mesma porta duas vezes e que eu não poderia perder a chance de estar contigo enquanto você me aceitasse.
Eu me encolhi diante da amargura de seu tom de voz e do tom de violência de suas palavras, que embora devessem acalentar meu coração, fizeram exatamente o contrário.
- Mas como eu poderia te amar quando tinha outra pessoa que dependia de mim? Quando eu não podia mais esconder meus sentimentos, decidi ser sincero sobre tudo e te revelei meu segredo... Pensei que era o certo a fazer, por que toda história de amor envolve riscos, certo? E eu achei que tinha motivos para confiar, mas estava enganado... Não me interessa suas justificativas, Julia, você acendeu o fósforo que gerou um incêndio e acabou na morte da primeira pessoa que acreditou em mim o suficiente para me entregar sua vida, eu jamais serei capaz de te perdoar.
Seu rosto permanecia impassível e seus olhos, duros e frios. Enquanto eu, bom... Meu peito subia e descia enquanto lutava para não cair no choro em sua frente mais uma vez. Nunca pensei que palavras pudessem doer tanto, mais do que qualquer bofetada ou socos... Percebi que meu rosto havia empalidecido e todo o meu corpo ficou rígido como uma pedra.
- Eu não vim aqui para te pedir desculpas, Oliver... Sei o que fiz e as que as consequências foram muito maiores do que eu esperava, mas espero que você saiba que eu... JAMAIS... FARIA... QUALQUER... COISA... Para prejudicar a Mia e tampouco você - minha garganta doía, tornando qualquer impossível que eu falasse sem falhar - Eu te amo e sempre quis que tudo acabasse bem.
- Isso nunca vai ficar bem.
- Eu sei e não vou lutar mais por você - me encolhi ao sentir o peso de seus olhos sobre o meu - Agora percebo mais do que nunca o quão você esteve certo quando disse que eu não posso amar alguém que está pela metade.
Mais uma vez, a barreira entre nós quase se tornou física.
- Adeus, Darcy.
- Adeus, Fischer.
Oi meninas... <3
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Como suportar Oliver Darcy - COMPLETA
RomancePLÁGIO É CRIME. Julia Fischer conseguiu o tão sonhado estágio da Darcy Media Group, uma das maiores empresas de arquitetura do país. Faltando apenas dez meses para adquirir seu diploma em Administração, ela está mais focada do que nunca no trabalho...