Quando chegamos a Miami, eu estava tão exausta da viagem traumática quanto confusa pelo ato inesperado do Darcy. Fomos para o hotel em uma das limusines da sede da empresa em Miami, enquanto o Darcy explicava que eu deveria estar em frente seu apartamento às sete horas da manhã do dia seguinte. A convenção estava prevista para acontecer ás oito horas no salão do hotel Hilton Miami Downton, em que ficamos hospedados.
Coloquei minha mala na cama e liguei o ar condicionado.
O cansaço inibiu meu entusiasmo por estar em Miami e até a decoração do quarto do hotel passou batida por mim. Desabotoei minha camiseta rosa e fui para o banheiro.
Liguei o chuveiro e deixei que as gotas de água quente escorressem pelas minhas costas, relaxando-me com seu calor.
Pensei no Darcy se despedindo assim que o ajudante mostrou nossos quartos. Ele sibilou um "até logo" grave, mas nem de longe tão ríspido como nossas outras despedidas, isso é, quando elas ocorrem. Meu chefe não é do tipo de dá bom dia a todos os funcionários com um sorriso de quem trepou a noite toda. Seria uma demonstração de consciência, depois de meses praticando vilanias? Eu sorri devido à impossibilidade de imaginar o Darcy agindo como um ser humano normal e feliz.
Vesti o roupão que era servido como cortesia do hotel e fui até a cama que era cinco vezes maior que a minha em Nova York, assim como todos os móveis dali me faziam sentir uma anã.
Abri meu laptop e estudei novamente a palestra que o Darcy daria.Confesso que apesar dos inumeráveis pesares, admiro a conduta profissional do Darcy. Lendo o discurso que ele preparou sozinho, foi impossível não exclamar alguns "UAU" e "NOSSA". Imaginá-lo dizendo tudo no dia seguinte, com aquela pose de James Dean contido e o sorriso profissional designado apenas a essa ramificação do trabalho era emocionante!
Eu já o vi comandar reuniões outras vezes e ele sempre esteve incrível. É o único lugar que seu ar de superioridade o torna inspirador ao invés de odiável.
Por fim, deixei o computador na cômoda, deitei-me na cama e dormi logo em seguida.
No dia seguinte acordei às seis e encontrei as roupas que iria vestir na porta do meu quarto. Escolhi o terninho preto que comprei no intuito de reserva-lo para os grandes eventos da Darcy Media Group, logo depois que fui aceita pela empresa. Coloquei uma camisa branca que abotoei até o pescoço e amarrei meus cabelos em um rabo de cavalo alto – um look que com certeza a Grace não aprovaria.
Por último, coloquei os óculos.
Não me importo muito com minha aparência. Quer dizer, é claro que eu gostaria de ter um guarda roupa com peças mais elaboradas, como já disse antes, mas nada muito provocativo como a minha colega de apartamento. Opto por coisas confortáveis, até pelo longo período de tempo que passa trabalhando.Sai do meu quarto e fui até o do Darcy, deslizando minhas sapatilhas contra o carpete grosso e acinzentado. Parei para observar a janela ao fim do corredor, vislumbrando um dia seco e nublado.
Toquei a campainha do meu chefe e esperei ali, olhando para o letreiro dourado que indicava o número do apartamento. Abruptamente, a porta se abriu, fazendo com que eu desse um passo para trás.
Seus olhos saltaram a me ver, demostrando que o susto foi recíproco. Ele usava um terno grafite que caia perfeitamente em seus ombros largo e na pele de bronzeado californiano, embora a gola estivesse levantada, de modo que cobria seu pescoço.
Eu dei um sorriso de meia boca.
— Bom dia senhor Darcy — eu disse — Hm... Sua gola está...
— O que?
Em minha defesa: não sei o que deu em mim para dar um passo e consertar a gola do meu chefe. Só sei que ele ficou tão surpreso pelo gesto quanto eu fiquei pela minha coragem quando parei para pensar nisso, minutos depois.
Segurei a gola branca com cuidado e coloquei-a acima do terno, sentindo meu coração bater freneticamente.
Linhas azuladas pigmentaram seu pescoço e eu controlei para não sorrir, afinal, não tive muitas oportunidades de vê-lo desconfortável.
Afastei-me novamente e notei seu maxilar se relaxar instantaneamente.
— Prontinho — eu disse.
Ele assentiu com os olhos grudados em mim e então fez outra coisa inesperada:
— Obrigado.Eu escutei direito? Fiquei estática encarando meu chefe, procurando algum sinal de suas pegadinhas. Mas ele mantinha aquela habitual expressão de paisagem, com os lábios relaxados e os olhos sem brilho algum.
Então, eu sorri de volta – um sorriso de canto em canto, bastante exagerado para quem acabou de escutar um obrigado. Mas Deus sabe como as palavrinhas mágicas são extintas do vocabulário do Darcy. Imagine a felicidade de um historiador ao descobrir a verdade sobre a morte de Hitler? Um fato aparentemente simples, mas que demarcou o fim de um grande episódio para a história da humanidade.
Por algum motivo, eu senti que aquele "obrigado" representava o final de uma era em minha vida: aquela em que o Darcy ignorava todos os meus esforços para ajuda-lo a administrar a empresa, fazendo-me questionar, inúmeras vezes, a capacidade de realizar meus sonhos.
Fiquei ali parada, encarando-o até perceber que estava bancando a boba novamente. Então, eu girei meu corpo e esperei que ele me guiasse para o salão em que a convecção aconteceria.
Darcy apertou a gravata e me olhou de uma maneira que eu não consegui decifrar e saiu dali. Ergui minha postura novamente, pensando que deveria ser crime olhar alguém daquele jeito.
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Como suportar Oliver Darcy - COMPLETA
RomancePLÁGIO É CRIME. Julia Fischer conseguiu o tão sonhado estágio da Darcy Media Group, uma das maiores empresas de arquitetura do país. Faltando apenas dez meses para adquirir seu diploma em Administração, ela está mais focada do que nunca no trabalho...