9

73.4K 5.3K 281
                                    

Quando chegamos a Miami, eu estava tão exausta da viagem traumática quanto confusa pelo ato inesperado do Darcy. Fomos para o hotel em uma das limusines da sede da empresa em Miami, enquanto o Darcy explicava que eu deveria estar em frente seu apartamento às sete horas da manhã do dia seguinte. A convenção estava prevista para acontecer ás oito horas no salão do hotel Hilton Miami Downton, em que ficamos hospedados.
Coloquei minha mala na cama e liguei o ar condicionado.
O cansaço inibiu meu entusiasmo por estar em Miami e até a decoração do quarto do hotel passou batida por mim. Desabotoei minha camiseta rosa e fui para o banheiro.
Liguei o chuveiro e deixei que as gotas de água quente escorressem pelas minhas costas, relaxando-me com seu calor.
Pensei no Darcy se despedindo assim que o ajudante mostrou nossos quartos. Ele sibilou um "até logo" grave, mas nem de longe tão ríspido como nossas outras despedidas, isso é, quando elas ocorrem. Meu chefe não é do tipo de dá bom dia a todos os funcionários com um sorriso de quem trepou a noite toda. Seria uma demonstração de consciência, depois de meses praticando vilanias? Eu sorri devido à impossibilidade de imaginar o Darcy agindo como um ser humano normal e feliz.
Vesti o roupão que era servido como cortesia do hotel e fui até a cama que era cinco vezes maior que a minha em Nova York, assim como todos os móveis dali me faziam sentir uma anã.
Abri meu laptop e estudei novamente a palestra que o Darcy daria.

Confesso que apesar dos inumeráveis pesares, admiro a conduta profissional do Darcy. Lendo o discurso que ele preparou sozinho, foi impossível não exclamar alguns "UAU" e "NOSSA". Imaginá-lo dizendo tudo no dia seguinte, com aquela pose de James Dean contido e o sorriso profissional designado apenas a essa ramificação do trabalho era emocionante!
Eu já o vi comandar reuniões outras vezes e ele sempre esteve incrível. É o único lugar que seu ar de superioridade o torna inspirador ao invés de odiável.
Por fim, deixei o computador na cômoda, deitei-me na cama e dormi logo em seguida.
No dia seguinte acordei às seis e encontrei as roupas que iria vestir na porta do meu quarto. Escolhi o terninho preto que comprei no intuito de reserva-lo para os grandes eventos da Darcy Media Group, logo depois que fui aceita pela empresa. Coloquei uma camisa branca que abotoei até o pescoço e amarrei meus cabelos em um rabo de cavalo alto – um look que com certeza a Grace não aprovaria.
Por último, coloquei os óculos.
Não me importo muito com minha aparência. Quer dizer, é claro que eu gostaria de ter um guarda roupa com peças mais elaboradas, como já disse antes, mas nada muito provocativo como a minha colega de apartamento. Opto por coisas confortáveis, até pelo longo período de tempo que passa trabalhando.

Sai do meu quarto e fui até o do Darcy, deslizando minhas sapatilhas contra o carpete grosso e acinzentado. Parei para observar a janela ao fim do corredor, vislumbrando um dia seco e nublado.
Toquei a campainha do meu chefe e esperei ali, olhando para o letreiro dourado que indicava o número do apartamento. Abruptamente, a porta se abriu, fazendo com que eu desse um passo para trás.
Seus olhos saltaram a me ver, demostrando que o susto foi recíproco. Ele usava um terno grafite que caia perfeitamente em seus ombros largo e na pele de bronzeado californiano, embora a gola estivesse levantada, de modo que cobria seu pescoço.
Eu dei um sorriso de meia boca.
— Bom dia senhor Darcy — eu disse — Hm... Sua gola está...
— O que?
Em minha defesa: não sei o que deu em mim para dar um passo e consertar a gola do meu chefe. Só sei que ele ficou tão surpreso pelo gesto quanto eu fiquei pela minha coragem quando parei para pensar nisso, minutos depois.
Segurei a gola branca com cuidado e coloquei-a acima do terno, sentindo meu coração bater freneticamente.
Linhas azuladas pigmentaram seu pescoço e eu controlei para não sorrir, afinal, não tive muitas oportunidades de vê-lo desconfortável.
Afastei-me novamente e notei seu maxilar se relaxar instantaneamente.
— Prontinho — eu disse.
Ele assentiu com os olhos grudados em mim e então fez outra coisa inesperada:
— Obrigado.

Eu escutei direito? Fiquei estática encarando meu chefe, procurando algum sinal de suas pegadinhas. Mas ele mantinha aquela habitual expressão de paisagem, com os lábios relaxados e os olhos sem brilho algum.
Então, eu sorri de volta – um sorriso de canto em canto, bastante exagerado para quem acabou de escutar um obrigado. Mas Deus sabe como as palavrinhas mágicas são extintas do vocabulário do Darcy. Imagine a felicidade de um historiador ao descobrir a verdade sobre a morte de Hitler? Um fato aparentemente simples, mas que demarcou o fim de um grande episódio para a história da humanidade.
Por algum motivo, eu senti que aquele "obrigado" representava o final de uma era em minha vida: aquela em que o Darcy ignorava todos os meus esforços para ajuda-lo a administrar a empresa, fazendo-me questionar, inúmeras vezes, a capacidade de realizar meus sonhos.
Fiquei ali parada, encarando-o até perceber que estava bancando a boba novamente. Então, eu girei meu corpo e esperei que ele me guiasse para o salão em que a convecção aconteceria.
Darcy apertou a gravata e me olhou de uma maneira que eu não consegui decifrar e saiu dali. Ergui minha postura novamente, pensando que deveria ser crime olhar alguém daquele jeito. 

Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora