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- O que você achou? - Jesse pergunta, depois de tomara um gole do cappuccino que eu havia preparado. 

- Um pouco idiota, na verdade   -  respondo, apontando para a logo que havia o nome "Fisher-Loyle" acima de uma cenoura sorridente. 

Ele coça a cabeça e toma a folha da minha mão, analisando-a novamente.  Tento adivinhar o que está passando pela sua cabeça e rezo para seja uma ideia melhor que essa de verduras felizes antes de serem comidas.  Diferente da maioria das descrições de Grace, Jesse realmente é um gato com G maiúsculo, começando pelas covinhas em ambos lados da bochecha toda vez que ele sorri e os olhos castanho escuros que estão sempre iluminados. Mas obviamente, não é apenas de beleza que "vive" uma parceria, e aqui estamos nós, abrindo nosso primeiro negócio.

Bom, admito que estou feliz com os primeiros resultados. Juntos, compramos um cômodo antigo e bastante degradado no Brooklyn - daqueles que costumam contribuir para a sensação de estar visitando um centro histórico. Com pouco mais de cinco meses, estamos conseguindo unir a tendência art décor (escolhida por mim) com influências geeks propostas pelo meu sócio que é totalmente nerd (do tipo que passa a maior parte do tempo lendo artigos sobre alimentos transgênicos, adora Star Wars e inclusive brinca que seus filhos irão se chamar Luke e Lea). E agora, faltando apenas dois meses para inaugurarmos o projeto que é também uma mistura de nossos sonhos, está quase tudo pronto. Exceto as mesas que já foram encomendadas, mas ainda não chegaram e alguns quadros que o Jesse pediu na internet para contribuírem na decoração.

Finalmente, Jesse dobra o papel e o coloca no bolso, levantando-se. Ele usa um terno cinza claro, com gravata lilás e camiseta branca por dentro, o cabelo perfeitamente penteado e amarrado num rabo de cavalo. Hoje é um dia especial para todos nós, afinal minha melhor amiga vai se casar.

- Você aceita carona, Jules?

No início, achei estranho alguém que não fosse a Grace me chamar pelo apelido, mas o Jesse é esse tipo de pessoa que não entende as fases de um relacionamento e que quando te conhece, oferece sua amizade de bom grado. Eu gostava de pensar que tinha conquistado um amigo, além da Grace e principalmente agora que ela está indo morar no outro lado da cidade, a fim de construir sua própria vida.

- Não, obrigada, trouxe o meu carro.

Ele se aproxima de mim e beija minha bochecha.

- Te encontro na festa, sócia.

- Você não vai à cerimônia, sócio?

- Infelizmente, sim... Acho que a parte do casamento deveria ser exclusivamente para os noivos, já que eles são os únicos que prestam atenção na conversa do padre.

Eu sorrio e assinto positivamente. Vejo Jesse sair da lanchonete, acenando tchauzinhos de maneira engraçada até passar pela porta e desaparecer do meu campo de visão. Sozinha novamente, aproveitei para dar uma olhada ao redor do meu novo ambiente de trabalho que é completamente diferente do anterior: apenas dois andares, sem elevadores abarrotados de pessoas, sem chefes para agradar. Porém, mesmo assim eu sabia que aquele seria apenas o começo de mais um trabalho duro até alcançar meus objetivos de ter dezenas de franquias espalhadas pelo país e quem sabe um dia pelo mundo.

Já pensou? Eu, a nova rainha da indústria alimentícia? Sorrio e balanço a cabeça para que ela saia da lua e volte para o chão. Decido caminhar até o banheiro no intuito de retocar a maquiagem para depois seguir o caminho do Jesse e ir ao casamento da Grace.

Observo meu reflexo no espelho, pensando no quanto eu me sentia diferente nos últimos meses. Quer dizer, é óbvio que a garota que me encarava tinha as minhas feições: os mesmos olhos azuis, contornados pela sombra e o delineador, o nariz reto e pouco grande que havia sido disfarçado pelo maquiador (querida, vamos dar um jeito nesse seu nariz), os lábios harmônicos pintados de rosa claro, quase cor de boca - o jeito ideal para ir a um casamento do final da tarde. Pedi que o cabelereiro fizesse uma espécie de coque no meu cabelo e ele respondeu que seria preciso fugir do clássico, já que eu continuava o cortando na altura dos ombros. O resultado foi um coque bagunçado, preso por uma mescla de tranças. Eu gostei, pois fiquei parecida a uma daquelas atrizes cheias de atitude que vão a uma dessas premiações da MTV e chamam a atenção - sei que é um pouco de presunção, mas fugindo á modéstia, eu me sentia bonita.

Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora