48 - Expectador

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                             Chase

                        Espectador

Espectador é uma palavra derivada do Latim spectator, é o indivíduo que assiste a qualquer espetáculo, situação ou alguém.

Eu me taxava como um espectator, um observador do comportamento alheio, e não só do comportamento, do sexo também. Todavia, minhas preferências eram irrelevantes, aliás, tudo se tornou irrelevante no segundo em que pus os olhos na ruiva naquela noite. Ao vê-la, esqueci que minutos antes de aparecer no restaurante com Margot e Estrelícia, que marcara uma reunião de negócios comigo e não cancelara, minha ex esposa sentara-se à mesa e conversara comigo como se estivéssemos num encontro.

O restaurante era bem iluminado, e mesmo que não fosse, meus olhos capturariam cada milímetro dos seus traços. Eu apreciava mulheres bonitas, principalmente apreciava Melissa Fitzgerald, não como costumava contemplar as mulheres que desejava, e sim como quem contempla uma obra exibida no The Met, porque a Maconheira era uma obra de arte, como uma Marie-Gabrielle Capet.

Linda, inocente e preciosa.

Suas sobrancelhas delineadas e mais escuras que os cabelos, seus fios ruivos presos numa trança bagunçada para conter o volume, a pele clara e sedosa, nariz reto, lábios delicados cor de pêssego maduro, e em forma de arco, finos em cima e grossos embaixo, — me atraíam, me convidavam a degustá-los.

Ela é proibida para você, Chase, minha mente alertou, e mesmo assim a elogiei, provoquei, flertei, cobicei e senti ciúmes, senti tudo que não deveria sentir. A vista disso, Estrelícia que pescara desde o começo meu interesse, não facilitou para mim, ela expôs meus segredos, a existência de uma ex mulher, e detalhes do que acontecera com meu filho.

A perda do meu bambino era um assunto doloroso, e ao citá-lo, Estrelícia trouxe à tona o terror que me assolava constantemente ao reviver os dias que antecederam sua morte. Para bloquear o ataque de pânico, me segurei na ruiva.

Sensível como só, Melissa notou meu desconforto, e surpreendentemente me apoiou segurando minha mão por baixo da mesa. Surpreendentemente mostrou-se curiosa sobre meu passado e minha vida atual, e ao estendermos a noite ela mostrou-se territorialista. Não só territorialista, a ruiva também evidenciou a vibração surreal que surgira entre nós desde nosso encontro no supermercado.

Inevitavelmente cedemos ao desejo.

Essa será a única vez que provarei esses lábios, apregoei enquanto a beijava, internamente sabendo que nunca me satisfaria de sua boca.

Mesmo tendo na cabeça o aviso leviano de Oliver Sempsen de que meus gostos peculiares não combinavam com o anjo ao meu lado.

Mesmo minha consciência gritando que beijá-la era errado, ela era uma menina, filha da minha amiga e menor de idade, embora tivesse idade consensual.

— Foi tão bom...

— O que foi bom? O beijo que você deu na ruiva? — Kent me tirou do devaneio que eu me colocara após beijar e deixar a ruiva em casa.

Permaneci segurando o papel que tentava analisar desde chegara ao escritório da casa noturna, dando-me alguns segundos para erguer a cabeça e olhá-lo.

Meu primo sentou-se num dos sofás do meu escritório a uma distância segura. Eu não percebera sua entrada de tão absorto que me encontrava.

— Juro ter sido o melhor beijo que assisti na vida. Melhor que muitas fodas — revelou empolgado.

— Dessa vez não permiti ser espiado, Kent — proferi secamente.

Seu sorriso empolgado diminuiu, porém, não desapareceu.

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