12- Gatilho

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                              Melissa

                              Gatilho

Do Espanhol gatillo.

Significado:

Peça do fecho de uma arma de fogo que, tocada com o dedo, faz disparar o projétil.

Palavra que, em redes sociais ou na internet, avisa que um conteúdo pode ser sensível a determinados públicos.

Qualquer peça que faz algo avançar, como uma alavanca.

Coisa que, quando acionada, dá início a um processo.

Circuito biestável que, ao ser alvo de um pulso, passa de uma condição para outra; disparo.

Ao meditar, concluí que, cada significado da palavra gatilho se encaixara na situação vivida por mim naquele momento. Alguém tocou na arma, e o projétil disparou. Uma peça alavancou algo, e o acionar desse algo iniciou um processo.

Esse alguém foi Ayo. Ele era o projétil, a peça, a alavanca, o circuito biestável. O circuito que eu ainda não entendia muito bem.

Ayo era uma força da natureza, um garoto ativo, não era atoa que escolhera ser um nadador. O garoto precisava estar em constante movimento. Por isso e por outros fatores o nigeriano não pegou nenhum livro para ler, apenas me seguiu enquanto eu percorri as prateleiras abarrotadas de exemplares. E após ouvir muitos suspiros e batidas do seu pé, eu sentei e verifiquei no computador se os livros que queria, estavam disponíveis.

O tempo passou, eu imergi na tarefa de maneira que esqueci da companhia do garoto. Ele também imergiu no teclado do celular, até se cansar e resolver desviar minha atenção do estudo.

Negativo, minha atenção nunca é desviada dos estudos, isso não acontece comigo, pensei ao ver pelo meu olhar periférico o garoto se remexer mais uma vez na cadeira em frente a minha.

— Gente... que livro grosso — articulou enfadado após se remexer novamente e correr os dedos nas páginas de um dos livros que eu pegara para estudar. — Quantas páginas tem isso?! — perguntou um tom mais alto, e recebemos uma reprimenda.

Eu o olhei por cima do notebook.

— O livro tem oitocentas e cinquenta e seis páginas — saciei sua curiosidade. Na verdade, sussurrei no tom a ser usado numa biblioteca. O nigeriano compreendeu meu recado e torceu a cara.

— Amiga, bibliotecas são entediantes, não têm livros com desenhos... — reclamou fazendo beicinho.

— São ilustrações, não desenhos, Ayo. Mas se você quer tanto ver figuras, a sessão de HQs fica por ali. — Indiquei sem levantar os olhos do computador.

— O que são HQs?

— Quadrinhos. — Lancei-lhe um olhar enfadado, ele bateu os cílios, então captei o que realmente o nigeriano desejava.

— Você quer atenção, não um livro ilustrado, não é, Ayo?

— Culpado! — confessou.

— Faça o seguinte. Veja a página duzentos e seis deste livro, depois me diga o que achou.

Relutante, ele pegou o exemplar e o conferiu, e ao bater os globos oculares na imagem, sua boca abriu e seus olhos se arregalaram.

— Vadia! — falou tão alto que todos os olhares voltaram-se para nós.

O choque me atingiu como uma bala de canhão. Meus lábios tremeram, meus músculos petrificaram, e o eco da palavra se repetiu como uma música na minha mente.

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