MelissaAparência
Do latim apparentia.ae.
Significado:
É o que se mostra à primeira vista; exterioridade, aspecto.
Feição que um objeto ou pessoa apresenta. Semblante, fisionomia.
Se eu dissesse que minha aparência foi de derrotada e desequilibrada ao chegar ao estacionamento, seria mentira. Embora meu desejo fosse chorar, ninguém naquela cidade me veria correr envergonhada, humilhada, ou qualquer coisa do tipo novamente. Sendo assim, ergui o queixo e sorri para Ayo.
— Pronto para um tour pela biblioteca? — inquiri.
— Eu já te disse minhas preferências — respondeu usando duplo sentido.
— E eu a minha — repliquei.
— Você está longe disso, querida. Sua boca diz uma coisa; seus olhos e corpo dizem outra — treplicou o nigeriano seguramente.
— E por acaso você é um perito em linguagem facial e corporal? — caçoei conservando a pose de mulher forte.
— Não. — Abriu a porta do carro enquanto fui em direção a minha bicicleta.
— Se não é um perito, como chegou a análise? — Tirei o cadeado da bicicleta e joguei na cesta.
— Você fez a cara que minha avó sempre faz quando acontece algo e ela quer disfarçar. É como se seus olhos dissessem: por favor não me pergunte nada, senão eu conto. No seu caso, é desmorono.
— Não desmoronarei — repeti a decisão tomada anteriormente, e a repetição foi mais para mim do que para ele.
Ayo entrou no carro e bateu à porta, e eu montei na minha velha bike.
— Eu sei, eu te admiro, você é forte. E se me permite dizer, também admiro sua pele branquinha, seus cabelos acobreados, seus lábios volumosos e cor de pêssego, os olhos verdes e nariz arrebitado — discorreu enlevado, e vincando a testa, acrescentou: —, no entanto, odeio não ver em seu rosto um sorriso.
Seu olhar admirado me deixou estupefata.
— Eu sorrio...?
Franzi o cenho.
— Sim, quando está na companhia de Théos você sorri. E seus sorrisos são verdadeiros, o resto...
Debruçou-se na janela do carro teatralmente.
Pensei na possibilidade de Théos estar usando Ayo para impulsionar a mudança que ele desejava fazer em mim, sendo assim, o nadador precisava entender que mudanças não eram impostas, elas aconteciam naturalmente.
Empertiguei-me, e não baixei a guarda.
Se para Théos entender precisava de um recado, eu o mandaria por Ayo. E foi o que fiz, logicamente rezando para que ele não me interpretasse mal:
— Ayo, você não precisa falar essas coisas para mim só para ajudar Théos. Ele tem ciência de que estou bem como estou.
— Nada do que falei diz respe a Théos. Eu realmente te admiro.
— Você me admira? Por qual motivo? Por diferirmos; desde a classe social até todo resto? Você gostaria de ser branco e pobre? — interroguei, e a última pergunta, fiz com objetivo de zombar dos seus elogios, mas soou como humor ácido, talvez preconceituosa.
O nigeriano não me pareceu ofendido, ele apenas apertou os lábios, juntou as sobrancelhas e suspirou mediante o assunto pessoal.
— Já pensei em não ser muitas coisas, tais como: não ser apaixonado por um cara que não assume sua sexualidade e abandona seus preconceitos, não ser gay, não ser um nadador, não ligar para o bullying, mesmo tendo defensores e apoio... — Apertou mais os lábios. — No entanto, ser negro é algo que jamais pensei em não ser.
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No Próximo Verão
RomanceCapa feita por : @MariaFermanda673 DISPONÍVEL ATÉ 15/11/2024 O amor para os Fitzgerald chega no verão. Esse era o slogan que a sua mãe, tio e tia, repetiam em todas as oportunidades. No entanto, Melissa não esperava que algo semelhante lhe acontece...