32 - Confidência

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                               Melissa

                           Confidência

Do Latim confidentes, ae.

Significado:

Comunicação de um segredo; esse segredo ou algo secreto dito a alguém por confiar nessa pessoa; segredo, confissão.

Expressão de confiança na honestidade, sinceridade, retidão de alguém; crédito.

Em segredo, de modo que ninguém saiba.

Contemplar a amizade de Théos com os meninos além de me alegrar, também me conscientizou de que eu nunca tive algo semelhante com Viorica. A latina e eu nunca fomos melhores amigas, talvez não chegássemos ao patamar, mas precisávamos mudar nossa relação de alguma maneira. Alguém tinha que ceder.

— Que tanto você olha para os meninos? Se quiser ir com eles, vá. Já me acostumei a me virar sozinha. Era o que eu fazia quando você me chamou.

Desviei a atenção dos meninos para Viorica, e nossos olhares colidiram. Eu cedi.

— Desculpe, eu não te critiquei, é que o fato de você procurar um emprego na casa noturna, me surpreendeu.

— Você pensou que eu trabalharia nas salas? — Viorica perguntou abrindo a porta após eu destravar o alarme.

— Não! A–acho que eles não trabalham com... com…

Gaia era a casa noturna mais badalada de Blossom. Na escola os adolescentes comentavam sobre o estabelecimento, mas eu nunca desejara visitar o local, e já na primeira vez que o visitara, descobrira haver salas secretas, e que nessas salas a diversão para adultos rolava solta. Eu cria que o proprietário não administrava um bordel, e tive dificuldade em articular meus pensamentos para Viorica.

— Vendendo garotas — ela resumiu meu argumento em duas palavras. Meus ombros caíram relaxados, e eu entrei no automóvel. — As garotas que trabalham nas salas não são profissionais do sexo, elas apenas servem os clientes com o que precisam, bebidas, comida, brinquedos... E para sua tranquilidade, eu me candidatei para vaga de limpeza. Você não se cansa de ser “puritana” o tempo todo? — indagou sarcástica, pois leu o assombro no meu rosto. — Qual o problema? Está preocupada com minha unha? Uma unha é só uma unha — continuou sarcástica, por fim suspirou. — Me cansei de pedir dinheiro ao meu pai, cansei de ter que dizer o que farei com o dinheiro. Isso é um absurdo, você não acha? — confidenciou, revoltada.

— Pelo menos seu pai te deixa trabalhar. Você lembra que trabalhei no Goodfellow? A experiência durou uma semana. Ao chegar em casa tarde e cansada, tio Ben disse que eu só precisava estudar. Ele não me permitiu voltar ao emprego. — Fiz um muxoxo.

— Seu tio é machista. — Torceu a boca como se conhecesse meu tio pessoalmente. — Não que meu progenitor difira, ele apenas converte minhas ações em benefício próprio, mesmo que elas o desagradem. — Agora coloca esse carango velho pra funcionar. Juro que adoraria ver a cara de Chase vendo seu precioso carro dirigido por uma mulher. Com certeza ele te mataria! — Identifiquei diversão em sua voz, também alívio pela mudança de assunto.

— Bom, pelo menos antes de morrer te livrarei de perder uma entrevista — rebati com a mesma dosagem de humor.

— Touché. E que bom que antes de morrer você dirigirá essa máquina. Esse carro é potente, é um Cadillac Escalade, baby!

Abandonei a chave presencial no console, acariciei o volante, apertei o freio e dei um toquinho no botão engine. O carro fez o reconhecimento, e só então sai do estacionamento.

 No Próximo Verão Onde histórias criam vida. Descubra agora