49 - Diálogo Franco

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                             Chase

                    Diálogo franco

Nada na minha vida era efêmero, pois eu armazenava na memória os acontecimentos dela, quer fossem bons ou ruins. E ao adentrar a casa da minha mãe, dias após Melissa se infiltrar na minha vida almoçar, revivi os momentos passados com a garota.

Melissa grudara no meu cerne como um ectoparasita, e a cada pensamento sobre ela, minhas emoções e corpo se alteravam.

Ir à casa noturna não espantaria as lembranças do almoço que tivéramos com as crianças e no Salsa alle Erbe, não desfaria as imagens de quando fizemos cookies, nem nosso encontro na casa noturna, nem aos encontros posteriores. Tampouco desfaria a imagem do seu sorriso da minha mente, sendo assim, decidi visitar minha mãe. Rumei para a cozinha, lugar que supus que estaria, mas, ao longo do caminho, o Dr. Byron Larkin, o senhor meu pai, me interceptou.

— Oi, filho. Que surpresa! Eu precisava conversar contigo, mas que bom que está aqui. Você tem um minuto? — Ele me olhou como que estudando o terreno.

Internamente me encolhi.

Meu pai me intimidava, não que ele fosse um pai ruim, e sim por diferirmos em idiossincrasia.

Byron era calmo e equilibrado, como meu irmão Callum, já eu, carregava um turbilhão de emoções comigo, e sentia por não alcançar suas expectativas.

— Sim, Dr. Larkin, em que posso ser-lhe útil? — indaguei formalmente pondo as mãos no bolso e encolhendo os ombros.

Os cantos da boca do meu progenitor se esticaram em divertimento, um divertimento que apenas ele entendia. Em seguida, suas sobrancelhas se ergueram como esperando eu completar minha fala.

Não descolei meus lábios um do outro, nada saiu da minha garganta, e por fim ele comandou:

— Vamos ao meu escritório. — Ele passou por mim, e eu o segui de perto. Dr. Byron abriu a porta, se acomodou na sua cadeira e ordenou: — Sente-se.

Indicou o assento em frente a sua escrivaninha com a faca de abrir cartas que pegara ao sentar-se.

Geralmente antes de entrar no assunto desejado, Byron ocupava as mãos com algo, com o gesto, ele ganhava tempo e colocava os pensamentos em ordem. Naquele momento, ele se ocupou em abrir minuciosamente um envelope com uma mensagem provavelmente sem importância. Meu pai usava a faca de cartas cirurgicamente, ele era um Cardiologista Cirurgião renomado com anos de experiência, eu, não chegava a um quarto de ser como ele.

Não nos assemelhamos; ao menos não em habilidades manuais e austeridade, constatei enquanto admirava a destreza de suas mãos.

— Você nunca será igual a mim — proferiu logo que pousou o envelope aberto sobre a mesa.

Esperei pacientemente Byron concluir o raciocínio, visto não ser presunçoso e não distribuir ofensas, nem humilhar o próximo gratuitamente.

Byron Daniels Larkin não era afobado, seu bordão era: não corra atrás de oportunidades, elas chegarão a você, e quando chegarem, agarre-as, e jamais permita que se percam por medo de aproveitá-las.

— E jamais terá habilidades iguais à minha, não por incapacidade, porque capacidade você tem, e sim por ser igual a sua mãe. Vocês dois atenderam ao chamado do amor, do reconhecimento das almas, do contato físico. Eu os admiro pelo trabalho filantrópico que praticam...

Deixou as palavras se perderem, mas as entendi. Minha mãe e eu praticávamos a filantropia como um desígnio da nossa alma. Mamãe participava das Obras da Piedade na igreja, e nos nossos hospitais organizava eventos de modo a ajudar os menos abastados. Eu fazia o mesmo, embora não fosse membro da Igreja do Cultivo da Piedade.

 No Próximo Verão Onde histórias criam vida. Descubra agora