03- Paradigma

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                           Melissa

                         Paradigma

Do Latim tardio paradigma, do grego parádeigma.

Significado:

Conceito das ciências e da epistemologia (a teoria do conhecimento) que define um exemplo típico ou modelo de algo. E também é a representação de um padrão a ser seguido.

Eu inseria vocábulos na minha rotina, e ao longo do dia, ou numa situação atípica, encaixava seu significado na situação vivida. As palavras variavam de simples a rebuscadas — dependendo do grau de conhecimento de cada um.
Ninguém tinha ciência da minha mania por dicção, e que além do termo do dia, todas as manhãs eu relembrava a definição de uma palavra. O tempo estando bom ou ruim, com bom ou mau-humor, eu me atinha a definição do vocábulo e lia seu sentido, olhando a fotografia presa no espelho da minha penteadeira.

Paradigma era a palavra.

E a fotografia, era a de uma mulher bonita, com seus cachos volumosos e hidratados, corpo de ampulheta, lábios em formato de coração, sobrancelhas delineadas e roupas de grife. Se um estranho me visse olhando a fotografia, pensaria que a mulher era minha inspiração.

Não.

De forma alguma Estrelícia Fitzgerald é meu paradigma. Meu exemplo a ser seguido sou eu mesma: Melissa, uma garota...

— Mellll... Dale chegou! Anda, ele tá com pressa! — tia Margot gritou do andar inferior.

Peguei minha mochila e saí em disparada do quarto, pulei os dois últimos degraus da escada de madeira avermelhada e me pus diante do meu amigo e da minha tia.

— Como estou? Estou bem para enfrentar o primeiro dia do terceiro ano do ensino médio? — Abri os braços e girei em trezentos e sessenta graus, a pergunta foi minha forma de cumprimentá-los.

— Linda!

— Florida! — Dale e minha tia disseram simultaneamente.

— Humpf! Eu gosto de flores, Dale. — Joguei a mochila na cadeira mais próxima.

— Também gosto. Sou rodeado por um canteiro de flores artificiais, você é a única viva entre elas. — Dale quase não demonstrava seus sentimentos, e quando mostrava, parecia fora do lugar.

— Isso quer dizer que sou uma flor artificial? Se liga seu sem noção! — Margot estapeou a cabeça de Dale, e não entendi como o fez, já que ela conseguia ser mais baixa que eu, no entanto, a baixinha era dura na queda.

— Você sabe que não me referi a você, Margot. Eu… eu...

— Você o quê? Diga logo: eu sou um sem noção e não sei elogiar uma mulher. Tsc, tsc, coitada da sua namorada. — Minha tia estalou a língua reprovando-o.
Dale a olhou por alguns segundos, Margot sustentou seu olhar, e eu vi um homenzarrão encolher os ombros, baixar a cabeça e se retratar. Bem, ele tentou se retratar.

— Você ficou bem no vestido, as flores acentuam... sabe, elas ficam... — Tombou a cabeça, mas logo voltou à posição inicial. Seu pomo de Adão subiu e desceu, rapidamente ele direcionou-se à mesa posta para o café da manhã, pegou uma fatia de bacon e reclamou: — Você fritou duas fatias de bacon? Desde quando é tão pão dura, Deise?!

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