02 Embate

18 4 2
                                    

                             
                               Melissa
         
                               Embate

Do Verbo em- bater.

Significado:

Choque, batida ou encontro violento, impetuoso.

Por extensão, é um duelo; qualquer tipo de oposição entre pessoas.
No figurado, é qualquer manifestação de resistência, e uma ocasião adversa, um abalo.

Entrei no Blossom Supermarket deixando os ruídos comuns do ambiente me receberem. Caminhei alheia ao que aconteceria comigo, até porque jamais pensara ter um embate, um encontro impetuoso naquela noite.

Margot e eu dividíamos as tarefas, minha tia se encarregava de pegar os congelados, frutas, verduras e legumes. Eu pegava os enlatados, cereais, massas, etc. A divisão funcionava para mim, e naquele momento foi mais que oportuno nos separarmos, — eu precisava pensar em tudo que ouvira. Portanto, iniciei minhas compras como geralmente fazíamos.

Minha tia negara, mas eu sabia, por minha causa, ela não vivera a infância como deveria. Quanto ao meu tio, ele parara sua vida para criar a criança de uma criança, e meu pai não ajudara em nada.

Pensar no meu progenitor não me fez bem, eu sabia a identidade dele, e sabê-lo me dava asco, afinal seu sangue ruim corria em minhas veias. Sim, eu era propensa a ser como ele ou como Estrelícia. Todavia, pelos meus tios, eu faria de tudo, compensaria o trabalho que tiveram comigo, sendo uma boa menina, não atraindo atenção desnecessária, indo bem na escola e ajudando-os em tudo que necessitavam.
Sim, serei uma boa menina e não desviarei do caminho, afirmei em pensamento.

Parei para conferir os itens no carrinho, eu usaria cupons de desconto em alguns deles, portanto os separei dos outros produtos.

Novamente deslizei o trole o empurrando para outro corredor, ao virá-lo me deparei com um homem e uma mulher conversando.

Eu detestava quando as pessoas paravam na frente das gôndolas impedindo os clientes de pegarem o produto desejado. No entanto, joguei a irritação para escanteio, peguei os produtos com calma, verifiquei a data de validade e conferi minha lista de compras duas vezes. Na segunda verificação, comprovei, faltava um item, e o produto se achava justamente onde o casal se prostrara.
O sujeito se encontrava de costas, e a mulher de frente para ele.

Outra coisa que eu detestava era atrapalhar a conversa alheia, mas foi preciso.

— Boa noite, vocês me dão licença? Preciso pegar gotas de chocolate... — Ofereci meu melhor sorriso para a mulher que aparentava trinta e poucos anos.

— Você interrompeu nossa conversa — disparou ela secamente.

Sua estupidez me chocou, pois, eu procurara ser educada, e ela foi totalmente mal-educada. Minha cabeça moveu-se em direção ao homem, e mais chocada ainda fiquei ao vê-lo.
Quase ajeitei meus inexistentes óculos para confirmar se o que eu via diante de mim era real.

Eu não sofria com o astigmatismo, tampouco era míope, e mesmo que fosse, seria impossível não ver e me impactar com a beleza do sujeito.

Meu coração trepidou. Se eu medisse as ondas sísmicas dele, diria que ele alcançou a magnitude dez na Escala Richter.

Quase babei, mas engoli a baba, e sem querer querendo, o avaliei.

 No Próximo Verão Onde histórias criam vida. Descubra agora