No Próximo Verão

35 - Projeto

                              Melissa

                              Projeto

Do Latim projectu (lançado), parte. Pass. De projicere (lançar para adiante).

Significado:

Plano; planejamento que se faz com a intenção de realizar ou desenvolver alguma coisa.

Esquema; noção inicial, escrita e detalhada, do que se pretende desenvolver; aquilo que se pretende realizar, de acordo com esse esquema.

Plano que se faz antes do início de uma obra, com as descrições, cálculos, orçamento.

Escritura provisória de um texto.

Todo ser humano independentemente da classe social planeja algo. No meu caso eu planejara comprar os ingredientes para a feira de culinária com Ayo e preparar as refeições na minha casa. Meus planos falharam, e o nigeriano fizera as compras, a vista disso, eu me desloquei até sua residência.
— Pelo seu sorriso você adorou o projeto culinário — comentou tio Ben, atraindo minha atenção.
Minha mãe me dera um carro logo que eu tirara minha carta de habilitação. Eu raramente usava, como o carro de Margot quebrara, ela usara o meu, então tio Benjamin se disponibilizou a me levar até a casa de Ayo.

— Sim, eu gosto de cozinhar, mas meu sorriso é por lembrar o que aconteceu no dia das compras para o projeto — respondi seu comentário dizendo a verdade, eu lembrei do que sucedera com Chase, e não de fazer compras com o nigeriano.

Mamãe e Margot não eram contra meu envolvimento com Chase, disso eu sabia, quanto a Benjamin, provavelmente ele se oporia.

— Aquele moleque, falou, fez, ou te ensinou algo? — Me mediu especulativo, dividindo sua atenção entre a estrada e seu interesse na minha amizade com Ayo.

Meu tio era o que as mulheres chamam de ogro, mas todo Shrek tem sua Fiona, e eu torcia para ele encontrar a sua, e que ela amenizasse sua rudeza.

— O moleque referido é Ayo. E o que ele me ensinaria a ponto de causar sua preocupação? — indaguei inocentemente.

— Coisas... ele faria e ensinaria, muitas coisas...

— Tio, Ayo é uma pessoa muito especial, tem um jeito único de ser, um coração generoso, bondoso e um tanto ingênuo. Tenho medo que o machuquem, e queria poder protegê-lo do mundo. — Uma pontada acertou meu peito.

— O papel do homem é proteger, e não ser protegido — dispôs o Ogro.

Benjamin Fitzgerald era um tanto metódico, para ele o homem era o provedor da casa e o protetor da família. E o método fora o projeto de família e ensinado por meu avô, o projeto adotado pelo próprio Ben para criar as duas irmãs mais novas após a morte dos pais. Entretanto, o relógio avança, o ser humano evolui, mas, meu tio empacara no tempo, ele se dedicara às irmãs e a mim; esquecendo de si mesmo, de relaxar e levar a vida sem complicações.

No fundo, eu não diferia dele.

— Tio, Ayo é gay — revelei.

Com a revelação, busquei amenizar a austeridade com que Ayo era visto por Ben, mas meu método não surtiu efeito.

— E daí? Por acaso Gays não transam?! — a pergunta exclamativa escapuliu, percebi no instante em que ele encolheu os ombros.

Ben sempre fora um homem rude e direto. Enquanto eu e Margot crescêramos, minha tia amenizara a rudeza e língua afiada do irmão, fazendo-o pagar uma quantia em dinheiro por cada palavra torpe que soltara. Meu tio melhorara significativamente, quer dizer, ele não mudara quase nada...