15- Um pouco de mim

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                                   Ayo

Essa é a reunião de informações acerca de um indivíduo, ou seja, eu:

Quando pequeno, meu mundo baseara-se no desejo que martelava em meu coração: construir uma casa; ter irmãos e uma família que me amasse. E a maneira que encontrara de realizar meu sonho, fora construindo uma casa de gravetos, com palitos representando minha família.

Eu amava meus gravetos, e na minha mente, eles eram meu tesouro, todavia nunca me completaram como uma família de verdade completaria. Eu vivera num mundo particular, e me surpreendera quando um sujeito gigantesco, divertido, carinhoso e de coração amoroso, me pegara pela mão e me levara para um lugar onde o mundo em sua singeleza e brutalidade, fora me apresentado.

A singeleza ficara por conta do próprio gigante: Ethan Chase Daniels Larkin. Ele me resgatara, me incluíra a uma família que me acolhera e amara sem esperar nada em troca, nem mesmo a exigência de uma boa nota na escola. E a brutalidade, eu conhecera através das pessoas que me ofenderam por conta do meu modo de ser.

“Ser negro é aceitável, ser negro e gay, é abominável!”

Era a frase que os adultos repetiam nas festas, comemorações da escola, quermesses e reuniões beneficentes as quais minha família participara. Eles ocultavam a repulsa que sentiam com sorrisos simpáticos e carinhos na minha cabeça, visto que não desejavam ter seus nomes na lista negra do Dr. Byron Daniels Larkin, um dos donos da rede de hospitais Health and Life Medical Center.

Quanto às crianças, elas cuspiam, empurravam e me beliscavam. Logicamente que comedidamente, dado que as orientações eram para me maltratarem nos bastidores.

E apesar de todos os infortúnios, nunca me deixara abater, em todos os momentos da minha vida tivera um exemplo de força, eu tivera Ethan Chase Daniels Larkin.

Eu realmente tivera sorte. Chase me achara, me resgatara, me adotara, ganhara o título de pai, e também o meu coração. Chase era meu pai, meu irmão, amigo e confidente. Ele e toda a família lutava por mim e pelo meu lugar ao sol.

Eu não ganhara um progenitor somente, igualmente ganhara avós; um tio, primos e uma tia-avó. E recebera e recebia do meu progenitor o que ele mais tivera e tinha para dar: amor e proteção.
Chase era um paradigma — pena eu não ser igual. Não que fosse perfeito, ele cometia erros, também não escondia seu lado negativo e pragmático. Meu pai lutava pelo que desejava, sem medo de julgamentos e retaliações, na verdade, em certas situações, ele era a própria retaliação. Chase era independente, já eu, dependia e buscava em tudo e em todos, a família que tanto desejava, — mesmo já tendo uma.

Sim, eu tinha uma família, amigos, um namorado, na teoria ele era meu namorado, na prática, era outra coisa.

Bom, eu também não era um exemplo de virtude, eu escondia coisas, cometia erros e não me reportava.

Talvez esteja na hora de mudar minha história, pensei, e respondi com outra pergunta o questionamento que meu namorado fizera antes de eu mergulhar em devaneios:

— É sério que você tem ciúmes de mim com Melissa, Branco? — confrontei o cara sentado na ponta do colchão.

Meu Branco. Era assim que eu o chamava quando estávamos a sós, e isso não acontecia com frequência. Branco não assumia sua sexualidade, não tinha coragem de dizer aos seus familiares e amigos que era Bivolt, ou seja, Bissexual.

Eu tinha ciúmes dele, e ao mesmo tempo, o invejava por mandar bem com as mulheres, mas comigo, ele também não deixava a desejar — ele era fenomenal!

— Não estou enciumado. Eu gosto dela de uma maneira inexplicável, como se fosse minha irmã, só quero entender a razão de andarem pelos corredores da escola como um casal. Por Deus, Ayo, na aula de culinária você não desgrudou dela, a tratou como uma rainha! As pessoas comentaram!

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