51 - Negação

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                              Chase

                            Negação

Kimberly Grace ensinara a mim e ao meu irmão que o jantar era o melhor momento para estarmos juntos, pois nos reuníamos para contar como fora nosso dia.

Nem sempre, devido ao trabalho, papai participava das reuniões, mas quase sempre meus amigos jantavam conosco. Nessa época, meus pais se davam bem com os pais de Estrelícia, os Sempsen também se davam bem com os Fitzgeralds. Sendo assim, eu, Callum, James e Estrelícia crescêramos como amigos, salvando um ao outro de situações constrangedoras.

A adolescência chegara, e ela não fora um problema para nós, o problema foram as perdas; os traumas; a classe social; a ambição; o poder de aquisição e o orgulho que interpuseram o nosso caminho, que mudaram nosso destino e nos afastaram.

Não por muito tempo.

Alguns anos após o bônus e os ônus da vida adulta, eu e Estrelícia nos reconectamos. Ao nos reconectarmos, os jantares, reuniões no celeiro, os acampamentos tendo uma fogueira para nos aquecer e assar marshmallows, não eram mais nossa prioridade.

Nossas vidas mudaram.

O que não mudara, fora nosso amor, o cuidado e necessidade de batalhar um pelo outro.

Os jantares na casa dos Larkins também não mudaram. Mamãe continuara comandando as reuniões, e exigia minha presença sempre que possível. Callum nunca comparecia, já que residia em outro país, e eu me mudara com meu filho, embora, por ser cômodo, Ayo vivesse mais na mansão Larkin do que na minha casa.

Naquele dia, eu viera àquela casa para participar do jantar, mas meu pai adiara meu intuito, e após encerrarmos nossa conversa, segui o aroma que fazia meu estômago roncar. A cada passo eu acreditava que comeria uma bela refeição caseira preparada pelas mãos mágicas de Ger, mas novamente fui interceptado, e daquela vez, por minha mãe.

— Como vai, meu amor? Como foi a conversa com seu pai? Você entendeu direitinho o que ele disse, não foi? — dialogou dando passos em minha direção, ela envolveu meu rosto com as palmas, aparentemente tão natural e delicada quanto sua voz.

— Como se você não tivesse ouvido nossa conversa — destilei rebeldia.

— Não seja intransigente, Chase — ralhou soltando-me.

— Desde que época a verdade virou intransigência?

— Confesso, eu ouvi a conversa, porém, não precisava falar desse modo comigo — queixou-se chorosa.

— Me desculpe, e não me leve a mal, mãe, eu só vim dar uma olhada em Ayo e saber se ele quer dormir em casa comigo. Hoje é sexta, e eu não sairei. — Pus as mãos no bolso como se não quisesse colo e encher minha barriga.

— Oh! É uma pena, Ayo saiu.

— Mas o carro dele está na garagem — argumentei.

— Dash Sempsen veio pegá-lo. — Deu de ombros.

Em simultâneo que apertei os lábios ponderando ligar ou não para o nigeriano, minhas pernas se moveram até a sala de estar, e logicamente Kimberly me seguiu.

Joguei-me no sofá e suspirei audivelmente.

— Cansado?

— Sim — rebati simplesmente, apoiei a cabeça no encosto do sofá e tapei os olhos com o antebraço.

Um longo silêncio estabeleceu-se entre nós, quebrado um tempo depois pela minha mãe.

— Também estou cansada, e precisando de um banho, pois passei a tarde toda com Margot separando comida para a Food Mission. — Não precisei olhar para saber que minha mãe mantinha as costas eretas e seus olhos de águia fincados em mim.

 No Próximo Verão Onde histórias criam vida. Descubra agora