52 - Eu Não Guardei Meu Coração

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                              Chase

          Eu não guardei meu coração

No quesito fé cristã, a senhora minha mãe professava sua crença recitando versículos e provérbios para mim e meu irmão, e os que fizeram morada na minha mente foram:

“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”

“Sobre tudo que se deve guardar, guarda teu coração, porque dele procedem as fontes da vida”.

Eu não guardara o meu coração, pois ele garantira que não saltaria do peito ao encontrar a bela ruiva novamente, mas mostrou-se enganoso e desesperadamente corrupto.

Contudo, eu não tinha autoridade alguma para acusar meu coração já que reforçara que desviaria o caminho caso a visse, e como criminosos, nos atracáramos no portão da casa de Hikimoto, no Lily Lake e em todos os lugares que tivéramos a chance de tocar-nos. Nos envolvêramos a ponto de não mantermos as mãos, os olhos e os lábios longe um do outro, e por fim, oficializamos o namoro para alguns dos nossos amigos.

No fundo, eu sabia que Melissa não estava pronta para assumir um relacionamento para a sociedade. E eu não me importava em assumir nada, para mim o relevante era fazê-la feliz, fosse com minhas piadinhas bobas, com provocações, apelidos carinhosos, ou com luxúria — luxúria ao qual ela correspondia prontamente. Lamentavelmente, por conta do namoro as escondidas, em certas ocasiões permanecíamos longe um do outro, e no natal foi uma dessas ocasiões.

Kimberly Grace promovia a celebração do natal com esmero, carinho e agradecimento. E embora soubesse dos desejos de Melissa em manter nosso relacionamento sigiloso, isso não me impedira de convidá-la e também sua família para celebrarmos a data na mansão Larkin.

Também convidara Candice e Hikimoto, e como trabalhavam no hospital da minha família e eram meus amigos, aceitaram o convite.

Kimberly Grace mandara retirar os móveis da sala principal da mansão e das adjacentes, e decorara o ambiente para a festa. O calor humano; o burburinho das conversas; as risadas; os copos tilintando, e uma ótima calefação; fazia-nos esquecer o tempo frio e a neve que caía lá fora. Eu apreciava a festa, os convidados e suas roupas elegantes, mas, principalmente, apreciava uma convidada em específico.

— Confessa! — Candice exigiu alto suficiente para eu e Hikimoto ouvirmos.

— O natal é uma data maravilhosa, é o dia em que confessamos nossos pecados, damos presentes a quem amamos, etc, mas, confesso... — levantei as palmas em rendição — queria tomar uma gemada com dose extra de rum e Bourbon, ver um futebol, ou melhor, foder a noite toda.

— Não tenho aspirações tão altas, e se tivesse, morreria degolado — rebateu Hikimoto torcendo a boca indicando Candice.

Eu a analisei.

Na maior parte do tempo a garota era um amor, e ocasionalmente baixava em seu corpo um espírito que nos guiava ao ponto que ela queria, e detalhe, esse espírito não era natalino.

— Concordo sobre a festa, a gemada, eu adoro, e ver futebol, ok, mas foder? Não! — se opôs a asiática.

— Por que não? É natural, e somos humanos acima de tudo, temos necessidades. — E naquele momento eu era pura necessidade.

— O que Candice quis dizer é que, entendemos o que sente, isso não quer dizer que deva ser grosseiro — participou Hikimoto.

— Grosseiro? Vocês me entendem...? — Ajeitei o colarinho do maldito smoking que mamãe me obrigou a usar.

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