Cem Maneiras de se Tornar um Deus (Pt-Br)

Capítulo 109 - Arco V: O Paladino Hipócrita

Ambrose estava se sentindo muito bem.

Ele não se sentia tão leve há muito tempo.

Quando o sangue do Santo Filho, imbuído do poder divino da luz, fluiu para sua garganta, foi como uma corrente quente atravessando um leito de rio seco e rachado, preenchendo de repente um buraco negro que sempre existiu em seu coração.

Como membro de uma raça que usa o sangue como fonte de poder, ele havia provado o sangue de quase todas as criaturas no continente de Delan.

Ele bebeu o sangue de bestas mágicas, que era como licor forte, queimando sua garganta; beber muito fazia seu coração bater mais rápido e o fazia perder a razão. Ele bebeu o sangue de pessoas comuns, que se provou tão comum quanto elas mesmas, insosso e sem graça, fornecendo muito pouco poder. Ele também havia bebido, por acaso, o sangue de sua própria espécie, que tinha um gosto peculiar, como sidra de maçã verde... Claro, por curiosidade, ele também experimentou o sangue de clérigos, que continha um poder enorme, mas o gosto de pano de chão sujo que emanava da luz o impedia de apreciá-lo.

No entanto, o Santo Filho da Luz à sua frente era uma exceção.

No sangue de Cecil, ele não sentiu o gosto repugnante característico dos seguidores da luz, mas sim um sabor doce de bolo de leite que suas papilas gustativas nunca haviam experimentado antes.

Ele já havia provado esse doce, que frequentemente aparecia nas mesas de chá da tarde das damas e senhoritas da nobreza, algumas vezes por educação, mas a verdade era que esse tipo de doce enjoativo não lhe agradava em nada. A menos que fosse necessário, ele geralmente evitava qualquer contato com eles.

Mas quando esse sabor apareceu no sangue do Santo Filho da Luz, tornou-se inexplicavelmente atraente. Quando aquele sangue vermelho-vivo escorreu lentamente do pequeno ferimento no rosto de Cecil, o aroma doce começou a seduzi-lo, e no fim ele não conseguiu se controlar e, sem se importar com a sujeira, abaixou-se e lambeu o rosto do jovem com a língua.

Quando ele lambeu até a última gota de sangue do rosto de Cecil, de repente recuperou a consciência e percebeu o que havia feito, seu corpo congelou no lugar.

— Embora tivesse bebido o sangue de muitas criaturas, ele na verdade tinha uma obsessão por limpeza e dava muita importância à etiqueta ao se alimentar. Ele nunca se alimentaria diretamente de suas presas com os dentes e a língua, como bestas selvagens irracionais.

Mas agora... o que ele havia feito?

Ele lambeu o rosto de Cecil?

...e a sensação foi boa?

O Sr. Ambrose, com sua obsessão por limpeza, mergulhou em profunda irritação por conta de seus pensamentos anormais. Ele franziu a testa enquanto olhava para o Santo Filho "quieto" deitado na cama e soltou um "tsk" de significado ambíguo.

Por ser de uma raça habituada a agir na escuridão da noite, ele podia ver claramente a expressão no rosto de Cecil, mesmo em meio à noite.

O Santo Filho estava com a testa franzida, suas feições delicadas ligeiramente distorcidas, uma expressão de dor evidente entre as sobrancelhas, e seus olhos negros estavam brilhando com lágrimas, o que... despertava o desejo do predador de despedaçá-lo.

Seu olhar pousou no ferimento no rosto de Cecil, que já estava meio curado.

O ferimento em si não era grande, e com o forte poder de cura do Santo Filho, o sangue já havia parado de fluir. Presumivelmente, em uma ou duas horas, desapareceria completamente.

Que criança delicada, sentir tanta dor por causa de um ferimento tão pequeno.

Quando esse pensamento passou por sua mente, a irritação em seu coração se dissipou de repente.