16 | Brunch

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Fui até a sala e mordi o lábio inferior.
— Ainda ta aqui? — Mia me assustou.
— Fui lá fora. — menti — Boa noite. — andei pelo corredor em direção ao quarto de novo.
Demorei para dormir, dormi perto das 7. Tive uma maratona de sonhos, pesadelos, tudo misturado, mas por incrível que pareça, dormi feito uma pedra.
Acordei perto das 17, com uma dor de cabeça horrível, não lembrava nada do que tinha acontecido noite passada. Levantei com dificuldade e andei até o banheiro, molhei meu rosto com água gelada – o que sempre resolvia a minha completa ressaca. Andei até a cozinha, ninguém, muito menos Mia estava acordado. Fiz café e tomei duas xícaras – o quê também ajudava. Fui até o jardim onde um grupo de pessoas estavam arrumando o que restou da festa, voltei para dentro antes que  percebessem, ficava extremamente tímida na frente deles ou de qualquer outro estranho.
Ouvi barulhos no andar de cima. Mia, pensei. Subi e fui em direção ao seu quarto, dei um leve grito quando vi Nick saindo do quarta de Mia com um par de tênis nas mãos.
— Shhh — ele exclamou colocando uma das mãos na boca.
— O quê você ta fazendo aqui? — dei uma pausa — Não responde. — sabia exatamente o que ele estava fazendo ali. Ele sorriu, um sorriso malicioso.
— Pode me mostrar a saída?
—Primeira porta à direita depois da escada.
— Você não pode me acompanhar?
— Tenho certeza que você não vai se perder. — sorri. — Com licença — exclamei passando por ele, ele bloqueou a passagem e me encarou. O encarei de volta, passando pelo outro lado.
Andei até a porta do quarto de Mia e entrei, coloquei a xícara que ainda estava na minha mão em cima da cabeceira e pulei em Mia.
— Acorda preguiçosa. — exclamei.
Ela gemeu, se recusando a acordar. Apertei suas bochechas e puxei devagar. Ela virou inesperadamente e eu cai pra fora da cama. Levantei e puxei seu cobertor.
— Mia, pelo amor de Deus. — ela abriu os olhos. — Finalmente. — exclamei vitoriosa.
— Que horas são? — ela mal conseguia manter os olhos abertos.
— Quase 18. — ela olhou pro lado vazio da cama como se tivesse checando alguma coisa.
— Ele já foi. — ela sentou.
— Argh — suspirou — eu e minha mania de dormir com caras que não esperam nem o amanhecer.
— Pensa pelo lado bom, já são 18 horas. — sorri, ela revirou os olhos.
— Quais os planos de hoje, Mister Davis?
— Mister Davis? — ri. Ela concordou com a cabeça.
— Você planeja as coisas aqui.
— Hmm — ela fez cara de pensativa — Que tal... — ela me encarou — fazermos um piquenique noturno.
— Nada mal. — sorri — Aonde seria esse... piquenique noturno?
— No prédio velho. — ela fez careta com medo do que eu ia responder — Eu, você, Justin e qualquer um que ele queira levar.
— Tudo bem. — sorri.
Mia me encarou surpresa.
— Quem é você e o quê você fez com a Camryn? — ri.
— Virei a Mister Davis.
Mia riu alto.
       — É ótimo ouvir isso. Vou me arrumar antes que você mude de ideia.
Mia pegou o celular que estava na estante ao lado da cama e mandou mensagem para alguém, provavelmente Justin, pensei. Levantei e desci para o quarto onde eu estava, peguei uma calça legging preta e coloquei uma cacharel preta, minha favorita. Estava frio lá fora, por incrível que pareça. Coloquei uma regata por baixo da cacharel caso o tempo quente de sempre resolvesse voltar. Sai do quarto e subi para o quarto de Mia, ela estava passando rímel.
— A mulher de preto. — ela exclamou sorrindo quanto me viu. Fiz careta.
Mia estava vestindo uma calça jeans que ia até um pouco acima do tornozelo, e uma blusa cinza dobrada até seus cotovelos.
— Pronta? — ela me encarou. Concordei com a cabeça.
Descemos e fomos até o carro de Mia. Fomos ouvindo o CD do The Fray o caminho todo. Quando chegamos, havia duas motos paradas na frente do prédio, então ele trouxe alguém. Mia pegou a cesta do piquenique no banco de trás e entrou no prédio. Ela morria de medo de elevador, principalmente esse, tentamos ir pela escada mas desistimos no 4ª andar, pegando o elevador até o topo.
Quando chegamos, Justin estava sentado no mesmo lugar de sempre e um pouco mais adiante, havia uma figura encostado no para-peito que eu não reconheci. Ele levantou e andou em nossa direção. Nos cumprimentamos e Mia entregou a cesta para ele.
— Ryan — ele encarou a figura no para-peito.
Quando ele virou, o reconheci totalmente. Eles nos cumprimentou, sem falar uma palavra, como sempre. Era a primeira vez que eu o via depois de saber "a verdade".
— Hmm veja o que temos aqui — Justin estava sentado vasculhando a cesta que Mia o dera. Ri. Ele me encarou.
— O que? — seu tom era de diversão.
— Você parece uma criança que acabou de ganhar um presente.
— Isso é o poder da comida sobre os seres humanos.
— Seres humanos como você. - a voz de Mia. Senti Ryan rindo de leve.
— Vocês vão ficar só olhando? Porque eu posso definitivamente comer isso tudo sozinho.
— Não se atreva. — Mia correu para onde ele estava e sentou na sua frente.— Isso nem tá arrumado, pelo amor de Deus.
Ri e me juntei a eles, Ryan fez o mesmo. Estavamos sentados em cima de uma toalha quadriculada vermelha com branco, típica de um piquenique. Mia pegou um pote com sanduíches e botou no meio, fiz o mesmo com o pote dos morangos. Havia de tudo, sanduíche, frutas, fritas, chocolate de todo jeito, duro ou derretido. Havia energéticos, água, suco. Tudo.
Justin colocou o dedo no chantilly e passou no meu nariz.
— Ei! — exclamei rindo. Mia riu. Molhei o dedo no chocolate e passei na sua bochecha.
— CAM! — Mia me encarou. Ela passou o dedo no chocolate e passou no rosto de Ryan, que estava observando o tempo todo. Justin riu. Ryan fez o mesmo com Mia e aí começou...
Chantilly, chocolate, pedaços de pão para todo o lado. Eu e Justin havíamos levantado, Justin pegou a tigela de chocolate e me encarou.
— Você não vai fazer isso. — retribui o olhar.
Ele ameaçou jogar, mas eu corri. Ele tentou correr mas tropeçou e caiu. Ri alto.
— Criança machucada. — ele exclamou fazendo barulho de ambulância. Mia e Ryan riram e levantaram.
Justin deitou no chão e se esticou como se estivesse deitado na neve.
— Você é louco. — exclamei. Corri em sua direção e peguei a tigela de chocolate que estava rachada por conta da queda e virei por cima dele. Ele abriu a boca, surpreso mas se divertindo.
— BOOM — Mia gritou, rindo em seguida.
Justin levantou e me encarou. Havia chocolate escorrendo por sua roupa. Ele colocou o dedo no olho e abaixou a cabeça.
— Entrou um pedaço da tigela no meu olho. — me aproximei, me sentindo culpada.
Vi seu sorriso quando me aproximei.
— Merda. — exclamei, tentando voltar pra onde estava mas ele puxou minha cacharel, me envolvendo em seus braços de modo que fiquei de costas pra ele enquanto todo o chocolate grudava em mim. Gritei, rindo. Ele me soltou, encarei Mia que estava de costas conversando, quero dizer, tentando conversar com Ryan. Andei até ela e a abracei por trás, sujando grande parte do seu cabelo.
— SUA VACA — ela gritou. Ouvi Justin e Ryan rindo por trás.
Estávamos todos cheio de chocolate com chantilly espalhado pelo corpo. Sentamos um ao lado do outro, Justin, eu, Mia e Ryan. Nessa sequência. E ficamos um longo tempo sem falar nada, apenas observando as estrelas e os aviões que passavam de vez em quando.
Éramos quatro amigos se divertindo e isso, de algum modo, me deixava totalmente confortável. E pela primeira vez em longo tempo, consegui ser eu mesma. Olhei de relance para Justin, ele passou a mão no cabelo coberto por chocolate, o que o fez levantar. Ri de leve. Ele me encarou, desviei o olhar e encarei Mia que estava 'conversando' com Ryan, pra quem não tem paciência, ela estava se saindo muito bem. Sorri.
— Bom — ela levantou um pouco depois — É melhor a gente ir, Camryn. Não aguento mais essa roupa suja. — Levantei.
— Também acho. — Justin levantou logo em seguida, e depois, Ryan.
— Tchau, Ryan. — sorri pra ele, ele retribuiu. Virei para Justin, ele estava com a expressão séria.
— Tchau. — falei quase em um sussurro. Ele sorriu. Passei por ele e andei em direção ao elevador, senti Mia atrás de mim. Abri a porta para Mia entrar, ela estava carregando a cesta.
— Foi uma ótima noite, huh? — ela exclamou enquanto descíamos.
- Foi uma ótima noite. - repeti sorrindo.
Não falamos mais nada por todo o caminho. Pedi para Mia me deixar em casa, cheguei às 23 em ponto.
— Boa noite, Cam. — a voz da minha mãe veio da sala. Ela estava sentada na poltrona com os óculos quase na ponta do nariz segurando um livro. — Vejo que a noite foi divertida. — ela me encarou dos pés a cabeça. Não respondi, apenas sorri.
— To morta, mãe. Vou indo dormir, precisa de alguma coisa?
— Não, vá descansar. — ela sorriu e voltou a se concentrar no livro.
Andei até a sala.
— Mãe? - ela me encarou. Sentei no sofá ao seu lado. — O que tá acontecendo entre você o papai? - apoiei meus braços sobre os meus joelhos.
— Nada. — ela suspirou.
— Mãe — inclinei a cabeça —
ainda é sobre aquele assunto?
— Você conhece seu pai, Camryn. Ele não vai desistir tão cedo.
— Eu sei. — suspirei fundo — Mas ele não pode simplesmente fazer isso. Isso é loucura.
— Eu sei, filha. E o que me deixa mais preocupada é a relação de vocês dois.
Suspirei e levantei.
— Vou dormir. - beijei sua testa e subi.
Fazia quatro dias que eu evitava encontrar meu pai, ontem troquei umas palavras por ser minha formatura mas depois não falei mais e iria passar mais algumas semanas sem vê-lo pelo fato de ele ter que viajar amanhã. Tomei um longo banho, demorou um pouco até que todo o chocolate saísse do meu cabelo. Quando sai, havia uma mensagem no meu celular. Abri.
"Boa noite, garota do chocolate. Esqueceu sua jaqueta aqui, não me importaria em ficar com ela. ;)
JB"
"Não lembro de ter levado uma jaqueta. Boa tentativa."
"Foi uma desculpa péssima, eu sei. Mas você poderia ter ajudado."
Ri.
"Boa noite."
Ele não respondeu mais, logo depois, dormi.

The Second ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora