Entro no carro e acelero com raiva. Não dele, não de Maia. Mas de mim. Que porra você fez, Camryn Davis? Dou um soco no volante e sinto a dor na hora, paro no acostamento e me encosto sob o volante.
Meu celular vibra e o nome do meu pai surge na tela. Ignoro. Mas ele liga de novo e de novo até que eu respiro fundo e atendp.
— Oi pai.
— Camryn, onde você tá? — sua voz está aflita — Vem pra casa agora.
— O que ta acontecendo?
— Vem pra casa agora. — ele repete e desliga.
Dou meia volta e dirijo o mais rápido que posso, minha mão começa a ficar roxa. Viro a esquina de casa e vejo duas ambulâncias parada na frente de uma casa. A minha. Paro o carro do lado oposto e corro até uma delas, até que meu pai se mete no meio e me impede.
— O que tá acontecendo? — olho em volta.
— Camryn... — meus olhos se enchem de lágrimas — Fica calma. — ele me abraça forte e me leva até o carro.
As duas ambulâncias dão partida e meu pai entra no carro e segue na mesma direção.
— Pai...
— Tudo bem, filha. Ela vai ficar bem. — algo na sua voz me diz que ele não tem certeza.
— O que aconteceu?
— Não sei ainda. A encontrei no chão da cozinha sangrando. Ouvi os médicos falando sobre uma hemorragia interna.
Todo o peso do meu corpo desaba no banco. Chegamos no hospital em 15 minutos, saio correndo e meu pai faz mesmo.
Ele pega informações enquanto eu ando de um lado para o outro. Ele volta.
— Ela está no segundo andar.
Sigo até o elevador e subimos. A primeira placa que vejo está pendurada no meio do corredor.
"PISO 2 - Pós-cirúrgico "
Encaro meu pai. Seu olhar está tão apavorado quanto o meu mas mesmo assim ele me abraça e eu não consigo mais segurar. Desabo em seu ombro.
— Ela não pode nos deixar.
— Ela não vai.
Pela primeira vez em anos, meu
pai acaricia meu cabelo de leve. Fico um bom tempo nos seus braços até que vou sentar em uma cadeira de frente para uma porta escrito "LIMPEZA". Ele senta ao meu lado.
— O que é isso? — ele pega minha mão direita. Está mais enxada do que antes.
— Nada. — puxo de volta — Eu bati.
— Vem aqui.
Ele levanta e me puxa pela mão, seguro um grito e mordo o lábio inferior com força. Ele me leva até a recepção e minutos depois uma enfermeira sorridente surge no corredor. Ela anda até nós e fala alguma coisa com a recepcionista, depois vira para mim e sua expressão sorridente desaparece. Ela me encara como se estivesse visto um fantasma, mas disfarça com um sorriso.
— Por aqui, por favor.
Meu pai a segue e eu faço o mesmo. Andamos até o final do corredor e ela acena com a cabeça sinalizando a deixa de meu pai, ele acena de volta e senta em uma das cadeiras. Continuamos até a última sala do corredor onde está escrito "Raio-X" e entramos.
A mulher tira cerca de duas fotos seguidas e depois me libera. Quando saio, meu pai ainda está sentando no mesmo banco, ele se levanta e vai até mim.
— Eu to bem. — sussuro e dou um sorriso fraco.
Ele faz o mesmo e subimos até a UTI. Um médico vem em nossa direção.
— George Davis? — ele para e lê a prancheta.
— Sim?
— Sua mulher foi diagnosticada com câncer uterino – ele deu uma pausa – e infelizmente ela percebeu os sintomas tarde demais. O câncer vai começar a se espalhar, vou fazer o impossível para salva-lá.
Meus joelhos amolecem e não penso em mais nada, apenas ando rápido pelo corredor — sem ter certeza que conseguia —, entro em uma porta e encosto na parede. Respiro fundo e começo a socar o ar, depois, derrubo algumas coisas que eu não faço o que sejam e desabo no chão.
— U-hu. — levanto a cabeça e vejo um garoto parado na porta: cabelo castanho, alto, aproximadamente 18 anos. — Ei, cara. — ele abaixa — Sua mão tá sangrando.
Olho sem muita vontade e realmente, está sangrando.
— Deixa que eu cuido disso. — ele levanta e mexe nas coisas que ainda estão na prateleira, pega um pacote de gaze e se abaixa, cortando um pedaço com o dente e enrolando meu dedo ensanguentado. Gemo de dor, é a mesma mão que soquei o volante.
— O que você fez aqui? — ele me encara.
— Esbarrei numa árvore. — não percebi que estava sussurrando.
Ele senta do lado oposto e me encara.
— Me fala sua história. — franzo a testa. — Uma garota sentada em um depósito com a mão quebrada, ou tem uma história ou matou alguém. — ele se inclina e apoia sobre os joelhos — E eu não acho que você tenha matado alguém.
O encaro.
— Então, qual a sua história?
— Mãe. Câncer.
Ele me encara sem falar nada.
— Esse é o título? — o encaro, séria. — Esse não é seu único problema.
— Você não me conhece.
— Então me deixa conhecer. — ele dá uma pausa, esperando uma resposta. — Ok, então eu conto a minha primeiro. Eu perdi minha mãe.
— Desculpa. — ajeito a postura — Quando?
— Uma hora atrás.
Arregalo os olhos.
— Você está brincando.
— Não.
— Você não se parece com alguém que acabou de perder a mãe.
— Eu tenho que vestir uma camisa ou algo do tipo? — ele me encara — Era melhor assim... — franzo a testa e viro a cabeça bruscamente em sua direção — pra ela, quero dizer.
— O que aconteceu?
— Ela teve um AVC, paralisou o lado esquerdo todo. A fisioterapia não funcionou, pelo contrário, ficou 8 meses na cama.
— Oh — exclamo — Desculpa...
— Tudo bem. — ele da um sorriso fraco. — Qual o seu nome?
— Cam. — dou uma pausa — Camryn.
— Lucas. Prazer em te conhecer.
— Você não me conhece.
— Mas eu vou. — outro sorriso fraco.
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The Second Chance
Novela JuvenilO que você faria se descobrisse que um ano da sua vida foi apagado? O que faria se reencontrasse o amor da sua vida mas não lembrasse? O que faria se a vida te desse uma segunda chance? A aceitaria? Ou a desprezaria? E se tivesse outra chance para...